terça-feira, 9 de março de 2010

A culpa da escravidão é dos negros. O estupro era consensual. Uma homenagem ao Ali Kamel.


Estupro consensual, senador ? Montagem: René Amaral
O abaixo assinado esteve fora do Brasil e não pode, na época, destacar a reportagem, como devia.

Repara o erro, agora.

Trata-se de gloriosa participação do senador Demóstenes Torres numa audiência prévia do Supremo Tribunal Federal para julgar as cotas para negros nas universidades.
O senador Torres é do partido DEMO, que existiu, se desfez na meia da perna esquerda de um governador que seria vice do Serra, e sobrevive na aliança com os tucanos em São Paulo.
O senador Torres, de Goiás, foi com quem Gilmar Dantas (**) travou o famoso diálogo sobre o “grampo sem áudio” da Veja.
Aquele a que a Lillian Witte Fibe se referiu como “mas, a Veja não disse que tinha áudio”.
(Por falar nisso, Dr Corrêa, quando é que a Polícia Federal, que já foi republicana, vai concluir o inquérito sobre o grampo sem áudio ?)

O Conversa Afiada reproduz o texto da Laura:
04/03/2010 – 11h40
DEM corresponsabiliza negros pela escravidãoLAURA CAPRIGLIONELUCAS FERRAZda Folha de S.Paulo, em Brasília
Para uma discussão que sempre convoca emoções e discursos inflamados, como é a das cotas raciais ou reserva de vagas nas universidades públicas para negros, a audiência pública que se iniciou ontem (3) no Supremo Tribunal Federal transcorreu em calma na maior parte do tempo. Até que um óóóóóóó atravessou a sala. Quem falava, então, era o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que se esforçava para demonstrar a corresponsabilidade de negros no sistema escravista vigente no Brasil durante quatro séculos.
Disse Demóstenes sobre o tráfico negreiro: “Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram. (…) Até o princípio do século 20, o escravo era o principal item de exportação da pauta econômica africana.”
Sobre a miscigenação: “Nós temos uma história tão bonita de miscigenação… [Fala-se que] as negras foram estupradas no Brasil. [Fala-se que] a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. [Fala-se que] foi algo forçado. Gilberto Freyre, que é hoje renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual.”
As referências à história “tão bonita” da miscigenação brasileira, ao negro traficante de mão de obra negra, o democrata usou para argumentar contra as cotas raciais, já adotadas em 68 instituições de ensino superior em todo o país, estaduais e federais. Desde 2003, cerca de 52 mil alunos já se formaram tendo ingressado na faculdade como cotistas.
O partido de Demóstenes considera que as cotas raciais são inconstitucionais porque, ao reservar vagas para negros e afrodescendentes, contrariariam o princípio da igualdade dos candidatos no vestibular.
Na condição de relator de dois processos sobre o tema (também há um recurso extraordinário interposto por um candidato que se sentiu prejudicado pelo sistema de cotas adotado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul), o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, decidiu convocar a audiência pública, que se estenderá até sexta-feira, com intervenções pró e anticotas.
A audiência pública é uma forma de as partes interessadas levarem seus pontos de vista ao STF. Segundo Lewandowski, o assunto será votado ainda neste ano. Se considerar que as cotas ferem preceito fundamental, acaba essa modalidade de ingresso no sistema universitário. Se considerar que são ok, a decisão sobre adotar ou não uma política de cotas continuará a ser dos conselhos universitários.
No primeiro dia, falou uma maioria de favoráveis às cotas, em um placar de 10 a 3. Falaram representantes de ministérios e de universidades favoráveis às cotas, e os advogados do DEM e do estudante gaúcho, além de Demóstenes.
Essa publicação é também uma singela homenagem ao Ali Kamel, autor do livro “Nós não somos racistas”.

Paulo Henrique Amorim

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