domingo, 3 de abril de 2011

A direita trata os “laranjas” usados como bagaço



Ontem, no debate em São Paulo, usei o caso da escandalosa remuneração do Sr. Roger Agnelli na Vale como exemplo de como o nosso pequeno poder, aqui na blogosfera, pode furar a conspiração de silêncio seletiva da mídia. Pode, sim, mas não muito. Não nos empolguemos, há outros fatores, mais importantes.

É o que aconteceu neste caso.

Paulo Henrique Amorim levantou a lebre na terça-feira, dia 29 e, horas depois, este modesto Tijolaço já tinha obtido o documento oficial da Vale informando que os sete membros da diretoria da empresa faturaram, em 2010, R$ 79,4 milhões, o que dá uma média de quase R$ 1 milhão por mês. E afirmava que, como o diretor-presidente recebia mais que os demais diretores, o salário e bonificações recebidos por Agnelli deveria andar por volta de R$ 1,3 milhão mensais. Ou R$ 15,6 milhões por ano.

Ontem, a Folha e, hoje, O Globo publicam a informação. É provável que o fato de ela circular na blogosfera tenha ajudado, embora os valores constem de documentos públicos – por determinação da CVM – e possam ser obtidos por qualquer um que os saiba buscar no Google. Não se tratou, portanto, de qualquer “competência” dos blogueiros.

O que fez isso acontecer foi o fato de que Roger Agnelli não tem qualquer valor pessoal para o conservadorismo, apeado do posto de presidente da Vale e da condição de “menino de ouro” do Bradesco. Serviu, com sua indecorosa pretensão de ser o presidente eterno da empresa e as vergonhosas articulações que tramou com o PSDB e o DEM para fragilizar o Ministro Guido Mantega, para a mídia tentar desgastar o governo com preconceitos de ordem puramente ideológica.

Digo isso porque é papel legal da União aprovar – e por conseguinte opinar – na formação de acordo de acionistas que implique no controle de empresas onde participem fundos de pensão de empresas estatais. A lei, aliás, é do período FHC. E a Previ, a Funcef e do BNDESPAR, que detém mais de 60% são todos órgãos ligados ao Ministério da Fazenda. Logo, nada mais natural que o Ministro conversasse com os demais acionistas para atingirem-se os 75% de maioria exigidos pelo estatuto da Vale.

Agnelli serviu-lhes, como desserviu ao país com sua política de exploração predatória, exploração de minério bruto e encomendas no exterior. Agora não lhes serve mais e o “segredo” que todos sabiam – e só a blogosfera contou – possa ser revelado, porque os amigos da direita são como laranjas. Quando estão no bagaço, lixo com eles.

Agnelli pode ainda contar com a mão amiga do tucanato, que quer dar-lhe um posto na Cemig – que ironia, uma estatal – para deixa-lo à mãos para usos futuros. Nós, cariocas, que já andamos assustados com as explosões de bueiros da Light, devemos por as barbas de molho, porque a elétrica daqui foi comprada pela Cemig.

Como na Cemig o rendimento é mais modesto – R$ 34 mil mensais, em média, para a diretoria – vamos ver se ele aceita.


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