por Luiz Carlos Azenha
Trata-se de um simulacro de jornalismo, que nem original é. Nos
Estados Unidos, muitos âncoras se promoveram com agressividade em
suposta defesa do “interesse público”. Eu friso o “suposta”. Lembro-me
de um, da CNN, que fez fama atacando a invasão do país por imigrantes
ilegais. Hoje muitos âncoras do jornalismo policial fazem o mesmo
estilo, como se representassem a sociedade contra o crime.
William Bonner está assumindo o papel de garoto-propaganda da
criminalização da política. Ao criminalizar a política, fazendo dela
algo sujo e com o qual não devemos lidar, ganham as grandes corporações
midiáticas. Quanto mais fracas forem as instituições, mais fortes ficam
as empresas jornalísticas para extrair concessões de todo tipo — do
Executivo, do Legislativo, do Judiciário.
A postura supostamente independente de Bonner, igualmente agressivo
com todos os candidatos, faz parecer que as Organizações Globo pairam
sobre a política, que nunca apoiaram a ditadura militar, nem tentaram
“ganhar” eleições no grito. Que os irmãos Marinho não fazem politica
diuturnamente, com lobistas em Brasília. Que os irmãos Marinho não tem
lado, não fazem escolhas e nem defendem com unhas e dentes, se preciso
atropelando as leis, os seus interesses. Como em “multa de 600 milhões
de reais” por sonegar impostos na compra dos direitos de televisão das
Copas de 2002 e 2006.
A agressividade de Bonner também ajuda a mascarar onde se dá a
verdadeira manipulação da emissora, nos dias de hoje: na pauta e no
direcionamento dos recursos de investigação de que a Globo dispõe.
Exemplo: hoje mesmo, no Bom Dia Brasil, uma dona-de-casa do interior de São Paulo explicava como está fazendo para economizar água.
A emissora não teve a curiosidade de explicar que a seca que afeta
milhões no Estado não é apenas um problema climático, resulta também de
falta de investimentos do governo de Geraldo Alckmin, que beneficiou
acionistas da Sabesp quando deveria ter investido o dinheiro no aumento
da capacidade de captação de água. Uma pauta complicada, não é mesmo?
A não ser que eu esteja enganado, a Globo não deslocou um repórter
sequer para visitar o aeroporto de Montezuma, que Aécio Neves mandou
reformar quando governador de Minas Gerais perto das terras de sua
própria família. Vai ver que faltou dinheiro.
Tanto Alckmin quanto Aécio são tucanos. Na entrevista com Dilma,
Bonner listou uma série de escândalos.
Não falou, obviamente, de
escândalos relacionados à iniciativa privada, nem em outras esferas de
governo.
Dilma poderia muito bem tê-lo lembrado disso, deixando claro
que a corrupção é uma praga generalizada, inclusive na esfera privada,
envolvendo entre outras coisas sonegação gigantesca de impostos. Mas aí
já seria coisa para o Leonel Brizola.
http://www.viomundo.com.br/opiniao-do-blog/uma-explicacao-para-postura-imperial-de-william-bonner-diante-de-candidatos.html