sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Aldo e a necesidade de um zagueiro-zagueiro




Quem parar para refletir um pouco verá que a saída do Ministro Orlando Silva do Ministério dos Esportes tem menos a ver com a onda de denúncias contra ele do que com a necessidade política do governo de ter alguém capaz de enfrentar os brucutus da Fifa e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
Isso ficou claro quando Dilma ignorou solenemente o cartola brasileiro e botou do seu lado Pelé como figura símbolo da Copa no Brasil.
Teixeira, como se sabe, está sendo acusado de malversações de recursos, junto com outros dirigentes da Fifa, num processo que corre em segredo de Justiça na Suíça, que teve parte de seu suposto conteúdo revelado ontem, no Senado, pelo jornalista inglês Andrew Jennings.
A Fifa também o pressiona, ameaçando tornar disponíveis as informações do processo, algo do que duvido, porque uma andorinha só não faz verão nestas coisas.
Orlando ficou pequeno, politicamente, para enfrentar essa linha de ataque.
Diferente do que se passava com Lula, capaz de desarmar as jogadas mais perigosas, matar no peito e sair jogando, para Dilma era insuficiente um zagueiro que pudesse ser facilmente driblado. E que, ainda pior, era politicamente frágil, incapaz de resistir à onda que levantaram contra ele.
Esta é a razão essencial. E é compreensível e provável que Aldo Rebelo, uma homem de quem se pode discordar aqui e ali, mas que é sólido e capaz, politicamente, possa desempenhar melhor este papel.
Aldo já pisou em todos os tapetes e não haverá conversas que o deslumbrem. E conhece o assunto. Foi ele quem começou a colher assinaturas, em 99, para a CPI para analisar a regularidade do contrato entre a CBF e a Nike, presidiu-a e os resultados só não foram melhores porque as irregularidades apontadas nunca tiveram uma investigação que desdobrasse com vigor as irregularidades apontadas em relação a Ricardo Teixeira.
Aldo, nesta matéria, se mantiver aquela postura, será um zagueiro-zagueiro, destes que metem medo nos atacantes, apesar de seus modos gentis.
Outra coisa, muito diferente, é a forma com que tudo ocorreu, na política.
Em primeiro lugar, ocorreu um massacre de um dirigente político sem condições, de comunicação e de estatura política, de defender-se. Houve pouco ou nenhum rigor nas “apurações”, tanto que a acusação mais forte, a que detonou todo o processo, feita pelo mais do que suspeito soldado-milionário, a de que havia sido entregue dinheiro na garagem do Ministério – que desde o primeiro dia dissemos ser inverossímil - acabou sendo desmentida pelo próprio acusador.
Isso, claro, não tem nenhuma importância.
A função da denúncia já tinha sido alcançada, e começou uma vasculhação geral sobre cada um dos milhares de convênios e atos do Ministério, coisas de anos atrás às quais a nossa investigativa imprensa, até então, não tinha dado qualquer importância. ora, qualquer um vê que não é investigação a palavra que o define, mas devassa.
Corre um sério perigo quem acha que se pode usar o apetite do monstro que se tornou a mídia brasileira como arma de sua própria estabilidade política. Porque a cada vítima que faz, ele se torna mais sequioso e convicto de seu poder. Já exige não apuração dos fatos, mas demissão sumária de todo aquele que fulmine com seus raios de “moralidade pública”.
Haverá um próximo ataque, e as condições de defesa, a cada vítima, pioram. Eles estão, como se diz no futebol, gostando do jogo.
E isso é mais que perigoso, é temerário.


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