Para entender por que o PSDB virou freguês do PT no século XXI, basta
olhar o discurso dos tucanos sobre o Bolsa Família. Apesar de hoje
estarem correndo atrás do prejuízo que o que disseram sobre o programa
lhes causou, um olhar sobre as políticas de transferência de renda do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso mostra quem criou “bolsa
esmola”.
O termo “bolsa esmola” é de autoria do PSDB, ainda que a mídia ligada
a esse partido – bem como ele mesmo – já tenha tentado até atribuir
esse mesmo termo ao ex-presidente Lula por ter criticado a distribuição
de cestas básicas que o governo de seu antecessor direto usou como
programa social até o penúltimo ano de seus oito anos.
Até 2001, o programa social mais vistoso do governo federal era a
distribuição de cestas básicas. A crítica de Lula a esse programa foi
feita durante a campanha eleitoral de 1998 porque, após quatro anos de
governo, FHC não tinha nenhuma outra iniciativa em termos de
transferência de renda.
Abaixo, um vídeo que os tucanos e sua mídia difundiram à larga
durante a eleição presidencial de 2010 para tentarem distorcer os fatos.
Vale conferir que, em nenhum momento, Lula se referiu a programas de
transferência de renda como “esmola”, apesar de que criticava os
baixíssimos valores que passaram a ser pagos à população carente na
undécima hora do governo FHC, aparentemente visando a eleição de 2002
De fato, os programas de transferência de renda criados por FHC de
afogadilho no penúltimo ano de seu governo de oito anos – até então ele
só distribuía cestas básicas, vale repetir – eram mesmo esmola.
O gráfico abaixo foi retirado do trabalho monográfico A assistência social nos governos FHC e Lula
apresentado por Patrícia Taconi de Moraes Scotton Alves ao curso de pós
graduação em Gestão de Políticas Sociais do INBRAPE-FECEA no ano de
2009. O material mostra que programa de transferência de renda tinha o
governo FHC após 7 anos.
Como se vê, era esmola mesmo e paga com finalidade político-eleitoral
de forma meio desesperada, haja vista a baixíssima aprovação do
ex-presidente tucano naquele 2001 – FHC encerrou seu segundo mandato com
apenas 35% de aprovação, enquanto que Lula encerrou o seu segundo mandato com 83% de aprovação.
Apesar dos valores absurdamente baixos e pagos a cerca de um quinto
das famílias que hoje são beneficiadas pelo Bolsa Família, o PSDB, em
editorial publicado em seu site em 2004, chamou o programa social
petista de “bolsa esmola”. Abaixo, o texto – com o devido link para a
página original.
—–
Bolsa Esmola – Editorial
13 de setembro de 2004
Para um governo comandado por um partido que historicamente
se fortaleceu sob a bandeira da redenção dos pobres de todo o país, o
balanço das políticas federais de inclusão social tem sido profundamente
desapontador.
O programa Fome Zero, eixo central do discurso de campanha do
então candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, sofre de inanição
desde a sua festejada criação e atabalhoada execução. Para superar as
deficiências congênitas, o governo, sensatamente, uniu-o ao Bolsa
Escola, formando o Bolsa Família – em resumo, a unificação de vários
programas assistenciais, a maioria já existente na gestão de Fernando
Henrique Cardoso, como o Bolsa Alimentação, o Cartão Alimentação e o
Auxílio Gás. O que parecia uma saudável correção de rota tem sido
enxovalhado pela evidência de que o governo deixou de fiscalizar, por
exemplo, a freqüência em sala de aula dos alunos beneficiados pelo Bolsa
Família.
O principal programa social petista reduziu-se, enfim, a um
projeto assistencialista. Resignou-se a um populismo rasteiro.
Limitou-se a uma simples distribuição de dinheiro, sem a contrapartida
do comparecimento à escola, condição fundamental para que populações
excluídas tenham maiores possibilidades de emprego no futuro, com
elevação da renda de maneira produtiva. A ausência de controle também
deixa o programa vulnerável a desvios e pouco propício à avaliação de
resultados e correção de rumos. Uma expressão do senador Cristovam
Buarque (PT-DF) resume o problema: “O Bolsa Escola virou Bolsa Esmola“.
Exposta a crise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
determinou, no fim da semana passada, que o chefe da Casa Civil, José
Dirceu, assumirá o comando das discussões internas para resolver as
falhas na execução do programa. Presidente da Câmara de Política Social,
da Câmara de Desenvolvimento Econômico e de outros 19 grupos coletivos
dedicados a reuniões na Esplanada dos Ministérios, Dirceu convocará os
ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Humberto Costa
(Saúde) e Tarso Genro (Educação) com o objetivo de encontrar uma solução
conjunta para a falta de controle. Deseja-se que novos rumos não sejam
turvados pelo hábito palaciano de perder-se em extensos e
contraproducentes debates internos.
Três exigências seriam originalmente necessárias para as
famílias que recebem o benefício do Bolsa Escola: freqüência escolar,
vacinação e acompanhamento de gestantes. A última checagem, admitiu o
governo, é de 10 meses atrás. (Tais falhas, convém lembrar, vêm desde a
gestão de FHC). Enquanto isso, os três ministérios envolvidos com o
programa seguem batendo cabeça sobre as atribuições de cada um no
controle das contrapartidas.
Trata-se de um símbolo tristonho da negligência governamental
para aquela que seria prioridade absoluta da atual gestão. Os entraves
dos programas sociais do governo federal são a evidência clara de uma
política embotada pelo apego a números que podem render dividendos
políticos musculosos, porém com eficácia social bastante questionável.
São 4,5 milhões de famílias beneficiadas, orgulha-se o Palácio do
Planalto. O risco é que, ao fim do mandato petista, boa parte delas
continue à espera da esmola presidencial.
—–
O texto está cheio de mentiras. Antes de rebatê-las, porém, vale dar
uma olhada no gráfico do Ministério do Desenvolvimento Social que mostra
quanto o Bolsa família paga – e a quem.
Como se vê, o Bolsa família chega a pagar mais de 300 reais às
famílias beneficiadas pela maior amplitude do programa, enquanto que as
“bolsas” de FHC pagavam uma fração desse montante em condições análogas.
Não foi por outra razão que ao longo dos governos Lula e Dilma a
pobreza caiu de forma tão mais acentuada do que durante os oito anos de
FHC. O gráfico abaixo, extraído da Folha de São Paulo,
mostra como a maior preocupação com o social de Lula e Dilma e a
abolição das esmolas tucanas melhoraram a vida dos brasileiros.
FHC encontrou o país com 38,2 milhões de pobres e o entregou a Lula
com 39,6 milhões; só no governo Lula, os pobres caíram de 39,6 milhões
para 21,2 milhões. E só até 2011. Dali em diante, o tamanho da pobreza
no Brasil continuou diminuindo e segue em queda até hoje.
O que fez a pobreza praticamente permanecer estática durante o
governo FHC e ter caído tanto durante o governo Lula encontra explicação
em uma das últimas manifestações do PSDB sobre o Bolsa Família, nas
palavras de seu pré-candidato a presidente Aécio Neves.
Veja o que ele disse em novembro ao jornal O Estado de São Paulo:
—–
“Um dos problemas que constatamos é que pais de família,
mesmo com uma oferta de trabalho, têm receio de amanhã eventualmente
serem demitidos e terem que voltar ao programa e não conseguirem
rapidamente sua reinserção”, disse. Aécio deve apresentar ainda outras
propostas “para que haja um esforço maior do que existe hoje para a
qualificação daqueles beneficiários do Bolsa Família e um acompanhamento
maior“.
—–
Esse enfoque da pobreza é o que torna o PSDB um partido danoso aos
brasileiros também no que diz respeito ao combate a essa que é a maior
chaga deste país. Em vez de se preocuparem em aumentar o tamanho do
Bolsa Família para que a pobreza continue caindo, os tucanos se
preocupam com “portas de saída” e outras artimanhas para desidratar o
programa.
Eis por que Aécio não deslancha. Os brasileiros sabem quanto sofreram
enquanto o PSDB mandava no país. Sabem como nascer pobre, no Brasil,
era para sempre e sabem como após Lula, e agora com Dilma, a mobilidade
social virou realidade. Por isso, dificilmente Dilma deixará de se
reeleger. Quem bate, esquece. Mas quem apanha não esquece.
http://www.blogdacidadania.com.br/2014/01/quem-pagava-bolsa-esmola-era-o-psdb/
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