sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Ditadura da burrice.


Jornalismo político e econômico tornou-se uma “ciência” rasteira. Seu objetivo primordial deveria ser o de esmiuçar para o público os meandros da política e da economia. Orientar, não induzir, deveria ser a preocupação dos analistas.

É com muita preocupação que não consigo ver analistas da grande imprensa interpretando correta e honestamente um fato da maior importância como a recente pesquisa CNT-Sensus sobre a popularidade de Lula e de seu governo.

Minha régua para medir jornalistas é a forma como lidam com assuntos considerados “tabu” como a própria imprensa, na condição de vidraça em vez de estilingue.

Nenhum jornalista sério seria capaz de negar que essa pesquisa sobre a popularidade de Lula consistiu num recado do povo aos meios de comunicação, de que não acredita neles. Do contrário, a aprovação de Lula deveria cair, em vez de subir.

Ora, tomemos apenas o intervalo entre 15 de dezembro, data da divulgação da penúltima pesquisa Sensus, e 3 de fevereiro, quando foi divulgada a última pesquisa. Nesse intervalo de tempo, ninguém bom da cabeça (incluindo os mentirosos, que, para mentir nisso, teriam que ser loucos) seria capaz de negar que todos os jornais, tevês, rádios e grandes portais de internet venderam que Lula apenas teria “surfado” na “bonança” econômica internacional que teria vigido até setembro do ano passado, e que agora, tendo ele que administrar de verdade o país, tudo iria piorar.

As previsões sobre a inevitável queda de Lula nas pesquisas estão em todos os jornais, telejornais, rádiojornais, e-jornais etc. Não estou inventando nada. Basta recorrer aos arquivos dos jornais. Em suma: a mídia disse uma coisa, com enorme alarido, ao ponto em que não se podia ligar a tevê sem ver a venda dessa tese, e o governo disse outra.

Pergunto: em quem o povo acreditou? Se a pesquisa Sensus mostrou que mais gente ainda, na proporção de mais de 80% da população, aprova a condução do país pelo presidente Lula, será difícil entender que isso significa que essas pessoas, conscientemente, não acreditam na imprensa?

Será possível que é tão duro, para uma pessoa normal, entender isso? Negar esse fato, para mim, ou é muita burrice ou muita má fé. Se fosse burrice, teria que ser ao ponto de a pessoa nem conseguir amarrar seus sapatos sozinha. Pode haver alguém tão burro, mas não tanta gente burra como as pessoas que se lê nas caixas de comentários dos blogs da grande mídia, por exemplo, negando esse fato.

A imprensa, porém, estimula a burrice. Se eu fosse esses donos de jornais, tevês, rádios, portais de internet etc, ficaria preocupado por ter um público que em enorme parte se mostra tão burro, e me sentiria um estelionatário por permitir que tanta gente junta (por mais que não represente nada, no conjunto da sociedade) acreditasse nas bobagens que se leu nessas caixas de comentários de blog.

Andei lendo essas caixas de comentários. São dezenas de pessoas que, demonstrando não terem a menor idéia do que seja a ciência estatística, dizem que o instituto Sensus entrevistar duas mil pessoas para aferir a opinião de quase 200 milhões era uma farsa.

Essas pessoas literalmente acabaram com a Estatística. Inclusive dizendo que, como nunca foram entrevistadas por um pesquisador, pesquisas não existem. Seus números seriam fabricados em laboratório por indivíduos subservientes ao governo Lula.

Tenham certeza de que os Marinho, Frias, Civita, Mesquita, Cantanhêdes, Rossis, Mervais, Mainardis, Azevedos e congêneres ficariam ruborizados ante tão monumentais abobrinhas. Diriam que estúpidos há dos “dois lados” etc. E é verdade, mas quando o assunto é pesquisa de opinião só se vê direitistas falando essas bobagens.

E não porque são piores, mas porque a mídia os estimula à burrice. Aliás, conta com ela. Essas pessoas fazem o trabalhinho sujo de difundirem dúvidas em seu gueto opinativo, dúvidas de que a realidade é a realidade, de forma a manter a moral desse exíguo contingente social que fala de virtualidades diante de materialidades.

Pode-se questionar se Lula merece ou não merece a aprovação que tem. Ninguém pode dizer que merece só porque é tão popular. Porém, não se pode questionar um fato: a mídia usou tudo o que tinha para desmoralizar Lula, e não conseguiu.

Por que, diante das ironias sobre a “marolinha”, das críticas incessantes de Arnaldos Jabores e outros comentaristas políticos de tevês, rádios e jornais, as pessoas continuam aprovando Lula e seu governo? Como negar que é porque não acreditaram na mídia? Como negar que o povo mandou a ela um recado claro, cristalino?

Este é um daqueles momentos que me fazem querer ouvir, apenas ouvir essas pessoas, no mínimo, alucinadas. Nem quero responder. Digam o que quiserem, os que não entenderam mais este recado popular à direita e aos seus meios de comunicação. Creio que todos queremos saber como funciona esse processo de negação da realidade.
Escrito por Eduardo Guimarães
Do blog do Eduardo Guimarães:http://edu.guim.blog.uol.com.br/index.html

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