segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Lorde Acton e a Globo.


Guardadas as proporções evidentes, a Globo adotou, faz tempo, uma doutrina em seu telejornalismo que de alguma forma se assemelha à famosa Doutrina Bush, que previa guerras “preventivas”. Todavia, o que caracteriza hoje essa poderosa emissora, que se tornou o que se tornou por ter sido vitaminada pela ditadura militar, remonta a inspiração bem mais longinqua no tempo.

A emissora carioca engajou toda a sua programação no projeto político do PSDB e do PFL de retomarem o governo do país. Para isso, espalhou ataques ao governo Lula e ao PT e blindagem a políticos e partidos aliados por toda sua programação, desde os telejornais até programas humorísticos nos quais ridiculariza a imagem do presidente da República e o apresenta como corrupto.

Alguns dirão que isso não é de agora, mas começo a perceber um certo desespero no comportamento global.

Na semana que chega ao fim, o telejornalismo da Globo entrou num caminho sem volta ao literalmente censurar notícias contrárias aos seus interesses políticos.

No edição do Jornal Nacional de seis de fevereiro, pode-se ver reportagem sobre aquele deputado do PFL que tem um castelo medieval não declarado ao imposto de renda e que ocupava a Corregedoria da Câmara. A reportagem simplesmente omitiu a que partido o sujeito pertence.

Na terça-feira, 3 de fevereiro, dia da divulgação da pesquisa CNT-Sensus que revelou disparada na avaliação de Lula, a Globo foi a única emissora do país que não divulgou a notícia.

Agora, diante do escândalo da merenda escolar no governo Kassab, onde sucedem-se denúncias de fornecimento de comida estragada às crianças e ainda em quantidade inferior para cada aluno à que determina a lei, a emissora simplesmente não divulgou nada.

Enquanto isso, Record e Gazeta fizeram extensas reportagens sobre o assunto.

Não assisti os telejornais do SBT, da TV Cultura ou da Band. Quem souber se noticiaram o escândalo da merenda, agradeço se postar a informação aqui nos comentários do blog.
Há também a já famosa propaganda do SBT elogiando Lula e pedindo às pessoas para que não se deixem engolir pela crise.

O fato é que já se pode ver a Globo caminhando para um desejável isolamento ao se manter como linha auxiliar do projeto Serra 2010. A impressão que se tem é a de que a Globo acredita que o que ela não divulgar, não existe. E isso num momento em que já se sabe que ela perdeu 6% de sua audiência para a Record no ano passado.

O que está acontecendo com a Globo? Será possível que não enxerga que mesmo o público mais ingênuo acabará vendo em qualquer outra tevê - ou mesmo em jornais - o que ela censurou?
Quantos terão visto a notícia sobre a popularidade de Lula e à noite, chegando em casa, ao não verem a notícia na Globo acabaram dando razão a quem diz que ela tenta prejudicar o presidente?

Não é à toa que a popularidade de Lula está subindo tanto. Quem, normal dos miolos, pode aceitar uma emissora de tevê que acha que pode escolher o que as pessoas devem ou não saber?

No século XIX, o pensador inglês Lorde Acton disse que o poder corrompe. No decorrer da história, pudemos comprovar esse fato. A tendência dos muito poderosos de abusarem do poder que têm acabou virando consenso.

Mais de cem anos depois num país do hemisfério Sul, vai ficando claro que, além de corromper, o poder parece que também enlouquece.

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