quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A "OPERAÇÃO CONDOR” E O ENCONTRO DOS PRESIDENTES NO LINDO "HANGAR" DE BELÉM.


Acabo de acompanhar mais uma conferência aqui em Belém: dessa vez, o palestrante foi Giancarlo Capaldo (juiz italiano). Ele falou sobre a “Operação Condor” - articulação que reuniu as Forças Armadas do Cone Sul para prender e torturar quem se opunha às ditaduras nos anos 60/70. A conferência faz parte do Quinto Fórum Mundial de Juizes – um dos eventos paralelos ao Fórum Social Mundial, em Belém do Pará
Saio da conferência e caminho pelo Hangar, o lindo Centro de Convenções em Belém (FOTO). Ele foi construído a partir de um hangar de verdade, do antigo Parque da Aeronáutica. Mas, trata-se de um projeto moderno, belíssimo. A estrutura metálica – instalada num bairro afastado do centro - contrasta com o casario colonial, de inspiração portuguesa, que é a marca da Cidade Velha e da região central de Belém.

Na minha caminhada pelo Hangar, topo com um enorme vão livre, onde há dezenas de cadeiras em frente a um palco. Ali, deve acontecer um dos encontros mais esperados desse Fórum. No dia 29, estarão juntos: Evo Morales (Bolívia), Hugo Chavez (Venezuela), Rafael Correa (Equador), Fernando Lugo (Paraguai) e Lula. Todo o “eixo do mal” detestado pela revista “Veja”.

Olho para a arquuitetura moderna do Hangar de Belém. Vejo a luz entrar pelas janelas de proporções amazônicas. E penso na escuridão da “Operação Condor”. Lembro que, há três décadas, a marca desse nosso sub-continente era a tortura e a ditadura. Era a subserviência aos Estados Unidos.

Há três décadas, Morales, Chavez, Correa, Lugo e Lula poderiam estar entre as vítimas atiradas ao mar dos helicópetros que pairavam sobre nossas cabeças. O temível “condor” não pouparia nenhum deles.

Não é à toa a avaliação de Emir Sader (sociólogo da UERJ): ele diz que a América do Sul é hoje o principal bastião de resistência ao Capitalismo liberal.

O professor Emir Sader participou do programa “Entrevista Record – Mundo”, apresentado por mim na Record News, e que vai ao ar nesta segunda-feira, dia 26.

O tema será o Fórum Social Mundial.
Foi na América Latina – disse o professor durante a entrevista - que o neo-liberalismo chegou mais longe , durante os anos 90.

Lembremos das “relações carnais” de Menem (o bufão que presidiu e quebrou a Argentina) com os Estados Unidos, da decisão absurda do Equador de abrir mão de sua moeda (até hoje, é o dólar que circula em Quito), da tentativa de privatizar a água na Bolívia, e da tentativa de privatizar tudo aqui no Brasil também.

Algo se moveu. Muita gente gosta de dizer que nada mudou no Brasil, que Lula não significou avanço algum. Então, pergunto: por que ele será o anfitrião de todo esse povo em Belém do Pará?

O encontro dos presidentes no Hangar de Belém é um símbolo inequívoco da mudança na América Latina. Falta muito ainda. No Brasil, especialmente, falta coragem para julgar os responsáveis pela “Operação Condor” e outras atrocidades. Vamos pressionar e lutar pelas punições.

Mas, enquanto isso, podemos reconhecer o óbvio: algo mudou no Brasil e nos vizinhos mais próximos. E não foi pouco.

P.S.: o que não mudou foi o encanto que o Brasil provoca entre os estrangeiros. Quando acabava de escrever essas linhas, o próprio Giancarlo Capaldo sentou-se a meu lado, na sala de imprensa do fórum; queria pesquisar na internet preços de hotéis no Rio. Perguntei, mas ele não quis falar sobre a Operação Condor.

Queria saber em qual praia teria a vista "pio bella", Copacabana ou Leblon?
"Tanto faz, senhor Capaldo, vai gostar do Rio de qualquer jeito", respondi numa mistura de italiano e espanhol.

Adoro aquela terra! Não há nada igual à luz do Rio numa manhã de outono à beira-mar.
Do blog do Rodrigo Viana:http://www.rodrigovianna.com.br/

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