sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O ponto fraco do Brasil.

Quem lê este blog desde ao menos a eclosão da crise econômica mundial nesta época do ano passado e acreditou no que leu, saiu ganhando. Deve ter deixado de agir precipitadamente demitindo empregados, postergando investimentos ou meramente perdendo o sono.

Fiquei bradando no deserto durante meses neste blog. Muitos acharam que eu não estaria captando a dimensão do problema. E não os culpo. O mundo entrou em pânico por razões absolutamente justificáveis – os ricos estavam perdendo fortunas e a conta seria empurrada aos pobres (pessoas e países).

A sorte do Brasil, porém, foi a de que a tal da globalização, apesar dos esforços do grupo político que governava o Brasil antes do grupo atual, não se impôs aqui como em muitos outros países.

Isso aconteceu devido ao nosso espetacular mercado interno. Protegendo-o dos importados, podemos comercializar entre nós mesmos por muito tempo. O Brasil não precisa do mercado externo para o comércio das empresas, mas para gerar os dólares necessários nas trocas comerciais com o exterior.

Todavia, se o mercado lá fora estiver ruim, um país com o mercado que tem este pode simplesmente redirecionar seus negócios para dentro. E como temos essa montanha de dólares, produto de investimentos de médio e longo prazo e atraída pelo bom momento de nossa economia, não haveria por que a crise se manter aqui dentro.

Hoje ninguém se surpreende ao ler isto que acabo de escrever. Todos já aceitam a explicação. Contudo, ela foi dada aqui já em setembro do ano passado, quando até aqueles que partilham minhas posições políticas duvidaram do que agora todos aceitam.

Contudo, não sou só otimismo quanto ao Brasil. E agora não falo mais de política, mas de macroeconomia. Independentemente de quem vencer a eleição presidencial do ano que vem, este país tem um ponto fraco que ainda é insuficiente para provocar maiores problemas, mas que terá que ser tratado.

Como muitos sabem, ganho a vida com comércio exterior. Na verdade, trabalho bem mais com exportações, ainda que também dê alguma assessoria sobre importações, processo que acompanho até para me manter ciente dos movimentos dos mercados mundiais.

Apesar de o dólar estar caminhando para vir a deixar de ser a principal moeda do comércio exterior mundial, ninguém ainda pode se dar ao luxo de permitir uma desvalorização tão rápida e intensa dessa moeda quanto temos permitido.

Neste momento, temos uma montanha de reservas em dólares e a tendência dessas reservas é aumentar. A crise econômica ainda detém as importações, por mais que estejamos nos recuperando. Esse freio nas importações, contudo, decorre mais de incertezas do que de desinteresse dos importadores.

Mas de uma coisa podemos ter certeza: o Brasil, em questão de meses, deverá estar importando muito mais do que hoje.

O dólar, desvalorizando-se nesse ritmo, está encarecendo os produtos brasileiros no exterior, prejudicando violentamente nossas exportações. Cada vez mais o necessário saldo positivo em nossas contas externas começará de novo a ser debilitado pelo desequilíbrio cambial.

Só não estamos voltando a ter sérios problemas cambiais tão cedo por conta da incerteza residual dos importadores e do crescente consumo de nossas commodities (produtos primários) sobretudo pela China.

Antes que os críticos do governo se alegrem e atribuam a ele a culpa pelo que relatei, perguntemo-nos o que é que o governo pode fazer para impedir que o dólar continue despencando em um país para o qual o mundo está redirecionando seus investimentos na moeda americana.

Não tenho essa receita. O Banco Central compra dólares, mas não consegue impedir a queda da cotação da moeda. A taxa Selic (taxa básica de juros, baliza do custo do dinheiro no país) está no patamar mais baixo desde que foi criada. Nada tem funcionado.

Os críticos do governo dizem que os investimentos em dólar vêm para o país em busca dos juros altos que este país paga ao mercado, mas, ao menos agora, isso não é mais verdade. Recomeça a chover dólares no Brasil porque nossa economia é uma das raras hoje que estão bem, que estão seguras.

Finalmente, os incentivos do governo aos exportadores, que poderiam compensar o câmbio baixo, vêm se mostrando insuficientes para suprir a barreira cambial às nossas exportações, uma barreira que logo se converterá em via rápida para a entrada de importações.

O câmbio, pois, continua sendo o ponto fraco do Brasil. Era o nosso problema na década passada e continua sendo nesta.

O que me preocupa é que governo nenhum jamais irá mexer com o câmbio em anos eleitorais ou pré-eleitorais. Moeda valorizada gera sensação de bem estar na sociedade. Pavimenta o caminho dos negócios. Concede poder de compra à população.

Temos um colchão de condições macroeconômicas que nos permitirá agüentar bastante antes de termos um problema cambial como aqueles que tínhamos nas décadas passadas. Contudo, é bom que o governo, que ainda tem mais de um ano pela frente, comece a pensar não só no que fazer, mas se não é irresponsabilidade não fazer já.


Do blog do Edu Guimarães:

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