domingo, 16 de agosto de 2009

Marina está atraída pela promessa de mudança do PV.



Para a senadora, luta ambiental não atrapalha ninguém nesse país.


A senadora Marina Silva (PT) afirmou neste sábado que não vai prolongar por muito tempo o anúncio de sua decisão sobre a possibilidade de mudar de partido. Marina foi convidada a se filiar ao Partido Verde (PV). Ela disse que praticamente terminou o ciclo de conversas com lideranças do PT, pessoas do Acre e amigos, e agora está se “recolhendo” neste fim de semana e início da próxima para tomar a decisão.

– Não coloquei prazo, nem dia. Mas não quero prolongar esse anúncio porque não quero transformar isso em uma novela. Em respeito ao meu partido, que é o PT, ao PV e a mim mesma. Foi um processo difícil. Eu me expus a muitos argumentos, afetos de relações de 30 anos [com o PT] –, afirmou, após participar de debate sobre clima e meio ambiente para integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), acampados em Brasília.

Apesar de aliados afirmarem que Marina já tomou a decisão de trocar de partido, a senadora argumentou que não falou “com nenhuma pessoa” a respeito de qual é a sua decisão.

– Então não posso dá crédito ao que foi dito [de que já estaria tomada a decisão].

Marina também disse que a ação dos trabalhadores no evento, de pedir autógrafos e tirar fotos com ela, não indica um clima de campanha política para a Presidência da República.

– Em todos os lugares que ao longo dos dez anos que ando pelo Brasil, as pessoas sempre me tratam com muito carinho. Não tem nada a ver com campanha. É o respeito que as pessoas têm pela luta, pela causa. É até uma forma de dizer que está junto da luta –, afirmou.

A senadora voltou a manifestar que desvincula a possibilidade de condicionar sua filiação ao PV a uma candidatura à Presidência da República em 2010.

– Não estamos falando de Presidência da República. A decisão que estou tomando é sair ou não do PT. O PV me fez um convite honroso e eu disse que não iria subordinar a minha decisão às duas coisas –, disse.

Para Marina, – ninguém sai de um partido para ser candidato – , mas avalia a possibilidade de mudança por um compromisso programático. Ela enfatizou que o PV está se propondo a fazer uma discussão programática de colocar o desenvolvimento sustentável como estratégico.

– Foi por essa construção que eu militei durante 30 anos no PT e hoje vejo os frutos que ela tem dado na área social, em vários aspectos na própria luta pela reforma agrária.

A senadora acrescentou que nenhum partido vai “hegemonizar” a questão do desenvolvimento sustentável. “Mas aqueles que se dispõem a iniciar já é um bom começo”.

A senadora disse ainda que não existe voto a ser dividido entre ela, se for candidata, e a ministra chefe da Cada Civil, Dilma Rousseff, que deve disputar as eleições presidenciais em 2010.

– A luta ambiental não atrapalha ninguém nesse país. Não exite voto a ser dividido. O voto é do cidadão. A nossa visão patrimonialista é que acha que o voto já é alguém. O voto está livre para se dado para quem o cidadão entende que deseja dar –, afirmou.

Mudança. O mesmo mote que acompanhou a trajetória do PT está na base de reflexão da senadora Marina Silva (PT-AC) ao analisar o convite para se filiar ao Partido Verde e disputar a sucessão presidencial pela nova legenda em outubro de 2010.

– O PV está se propondo uma mudança e eu estou me interessando é por essa mudança... Um partido pronto e acabado não me atrairia –, afirmou Marina.

Integrantes do PT e do PV dão como certa a troca partidária de Marina, que diz viver um momento de tensão em meio aos fortes apelos, principalmente de petistas, após 30 anos de militância petista.

A senadora acreana de 51 anos e ex-ministra do Meio Ambiente (2003-2008), que deve anunciar em breve sua opção, quer colocar no cenário nacional o tema da mudança climática e do desenvolvimento sustentável, itens que acusa estar ausentes em todos os partidos. E vê esta disponibilidade em um novo PV, reformulado e refundado.

Para ela, o Brasil está em um estágio de liderança para abrigar um movimento a favor da sustentabilidade ambiental, que se opõe ao que ela considera o desenvolvimento predatório. O país dispõe de potencial ambiental para isso, acredita.

– O desenvolvimento sustentável é algo que precisa ser colocado agora e o Brasil tem as melhores condições para a inflexão do modelo de desenvolvimento. Este debate nunca foi posto pelos partidos, mas está em curso uma mudança de mentalidade do PV –, afirmou.

O PV acenou para Marina com a refundação programática, de acordo com declaração do deputado Fernando Gabeira (RJ), uma das principais lideranças da sigla.

A legenda é criticada por atuar de forma restrita em favor do meio ambiente e tem uma posição política contraditória, ao dar apoio ao governo Lula, onde ocupa o Ministério da Cultura, e à administração José Serra (PSDB) em São Paulo, em que está na secretaria do Meio Ambiente.

– Não tenho mais ilusões de partidos perfeitos e ideais... O PT tem e cometeu falhas, no PV eles foram muito transparentes, colocando os problemas –, declarou.

Uma coisa Marina deixou claro na entrevista. Ela já não vê interesse em concorrer a um terceiro mandato no Senado, onde, se vencesse, completaria 24 anos de atividade.

– Quando decidi que não seria candidata ao governo do Acre e fiquei no ministério, me perguntei: 'Mais oito anos de mandato? 24 anos no Senado?' Quero estar ligada aos núcleos vivos da sociedade, onde as sementes estão germinando –, contou.

Lá se vão mais de duas semanas da iniciativa do PV e dez dias da sua divulgação. Neste período, a eventual candidatura vem sendo vista por especialistas políticos e até por analistas de bancos como um sopro de novidade no quadro eleitoral.

O foco das análises recai no potencial impacto da opção Marina na candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), e a ameaça que ela colocaria à intenção de Lula de polarizar a eleição com o PSDB, levando a uma escolha plebiscitária pelo eleitor.

Em pesquisa encomendada pelo PV, Marina tem entre 10 e 28% das intenções de voto. Depois de forte exposição na mídia nos últimos dias, Marina contou que agora vai se recolher, após fechar um círculo de conversas. A decisão sai em breve, muito provavelmente até o final deste mês.

– Não vou prolongar, como se fosse uma novela. Vou ficar este fim de semana e início de semana recolhida, em respeito ao PT, ao PV e a mim mesma –, explicou Marina.

A senadora adiantou ainda que o possível anúncio de um novo partido virá antes da deliberação sobre a candidatura à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pode sair meses depois.

Marina evita tratar do impacto na campanha de Dilma. – Não me coloco como candidata (à Presidência). Estou tratando sobre desfiliação ou não.–

Quanto a sua saída do ministério em maio de 2008, diz que não tinha mais condições políticas para conduzir as reformas estruturantes e não poupa ataques ao ex-ministro Roberto Magabeira Unger (Assuntos Estratégicos), que disputou com ela, e venceu, a prerrogativa de tocar o projeto de desenvolvimento da Amazônia.

– Ele tem uma visão equivocada da Amazônia. Acha que não importa como as pessoas ocuparam a Amazônia, é como se tivessem feito um favor –, disse, referindo-se ao projeto de regularização fundiária, defendido por Mangabeira.

Marina ainda ironiza notícias de que o Planalto já estaria se armando para rebater suas críticas.

– Como sou pacifista, não vou usar armas. Argumentos são as melhores armas na sociedade.

Do site do Jornal Correio do Brasil:http://www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=156150

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