sexta-feira, 11 de março de 2011

Tá beba??? Tá doida??? Patrimônio e artístico? só se for..




O QUE ACHAM DO TECNO MELODY COMO PATRIMÔNIO CULTURAL E ARTÍSTICO DO ESTADO DO PARÁ?

Extrai esse texto do blog do professor Helder Bentes.
O que vcs pensam disso?
Tá beba??? Tá doida??? Patrimônio cultural e artístico??? Só se for da...
Nesta semana anterior ao carnaval, a elite intelectual letrada do Estado, ainda imersa em profunda dor pelo falecimento do escritor Benedito Nunes, foi surpreendida com a “notícia” (entre aspas mesmo porque notícia, do ponto de vista jornalístico, é outra coisa) de que aquele barulho que se pretende artístico e que é chamado “tecnomelody”, ao lado das aparelhagens que produzem tal zoada, agora são “patrimônio cultural” do Estado.
Patrimônio é o nome que se dá a um bem ou a um conjunto de bens hereditários, isto é, que passam de geração a geração. Em sentido amplo, patrimônio é uma herança comum. A palavra designa também os direitos e deveres de uma pessoa jurídica. Dizer que tal coisa é patrimônio do Estado significa considerá-la um “bem”, uma propriedade do Estado, e reconhecer o direito e o dever do Estado sobre tal coisa.
Cultural é um adjetivo que vem de “cultura”, do latim cultus, que significacultivar alguma coisa; erudição, civilização; gênero de vida, costumes; culto religioso, reverência; aparato, ornamento, luxo, elegância. Ao longo da história, essa palavra foi incorporando uma variedade de significados. Tanto que, no caso específico do Brasil, o conceito de cultura é ainda hoje um desafio para antropólogos e cientistas políticos e sociais. A conotação mais recorrente no senso comum é a de cultura como conjunto dos conhecimentos adquiridos, a instrução, o saber... Mas, para a sociologia, cultura é o conjunto das estruturas sociais, religiosas, intelectuais e artísticas que caracterizam uma sociedade.
Com o advento da industrialização, ao termo cultura foi afixada a locução adjetiva “de massa”, para designar um certo conjunto de fatos comuns a um grupo de pessoas que não se enquadravam nas distintas estruturas sociais da época.
A escola de Frankfurt , na Alemanha da primeira metade do século passado, através de Adorno e Horkheimer, previu fatos como este que culminou no projeto de lei do deputado estadual Carlos Bordalo do PT/PA de transformar o tecnomelody em patrimônio cultural do Estado. Esses filósofos alemães, ao fazerem um prognóstico de como a mídia seria usada durante a segunda guerra mundial, descreveram o que hoje conhecemos como indústria cultural.
A imprensa afirma que, para o autor do projeto, o tecnomelody e as aparelhagens de som são um 'fenômeno de cultura de massa'. Concordo! Um fenômeno banal, previsível e diametralmente oposto às reais necessidades da população paraense.
As escolas públicas estaduais estão caindo aos pedaços, entregues a péssimosgestores, o apadrinhamento político impera neste Estado relacional, a burocracia estatal mais atrapalha que ajuda o cidadão, a população atingida por este “fenômeno de cultura de massa” não tem acesso à saúde, educação, moradia digna, remédios e a uma pá de outras coisas fundamentais para o aumento de sua autoestima, para o despertar de seu juízo de gosto e de sua consciência crítica, e me vem um deputado eleito pelo povo, que inclusive (abafa o caso!) também é professor de letras, propor que “Tá beba... Tá doida...” e outras porcarias do gênero sejam reverenciadas como patrimônio cultural e artístico do Estado. Francamente! E o pior é que o tal projeto... – diz que... – foi aprovado por unanimidade. Nunca um provérbio popular veio tanto a calhar.
Desculpem-me, senhores deputados, mas vocês foram eleitos para elaborar e votar leis que mudem a vida da população para melhor, não para legitimarem um produto definido, padronizado, pronto para o consumo.
Segundo o estudioso Edgar Morin, há uma industrialização mais sutil e ardilosa,que corre paralela a essas leis. É a industrialização da alma humana, pois se trata de legitimar, em nome do patriotismo, como “bem cultural” o que não tem nada de bem, nem de cultural, porque faz mal, é alienante, hipnotizante, entorpecente e indutivo.
Batidas repetidas e letras fáceis de serem alcançadas pela população desprovida de senso estético são introjetadas de tal forma, que se torna quase inevitável o seu consumo, principalmente se as pessoas não forem iniciadas em arte, se não forem educadas, para fazerem uma apreciação crítica das propriedades rítmicas da linguagem verbal, presentes na música desde meados do século XV.
É dever da ALEPA criar leis que garantam o acesso à multiplicidade cultural e pedagógica, para que as pessoas tenham recursos contra essa cultura imposta. Não alimentar ainda mais a indústria cultural e despreparar ainda mais as mentalidades.

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