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Brockveld denunciou esquema da Siemens no governo mineiro durante a era FHC |
correio do Brasil
Em meio ao escândalo do chamado ‘propinoduto tucano’, denunciado pelaSiemens,
em que empresas fornecedoras de equipamentos e de serviços em trens e
metrô nas gestões Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin
superfaturaram R$ 577 milhões, o equivalente a 30% a mais do que os
governos pagariam se não houvesse esquema, outros casos envolvendo a
empresa igualmente estão sendo investigados, mas ainda permanecem
ofuscados. Os fatos foram publicados no jornal mineiro Novo Jornal.
Leia, a seguir, os detalhes da denúncia:
Até 2005, repousou em uma gaveta do empresário catarinense Edson
Maurício Brockveld um envelope lacrado de papel pardo. Em uma das faces
do invólucro estão registradas cinco assinaturas de membros da Comissão
Especial de Licitação dos Correios. Dentro, segundo ele, está a prova de
que a corrupção na ECT começou, ou tinha prosseguimento, ainda no
governo Fernando Henrique Cardoso.
Dono da Brockveld Equipamentos e Indústria Ltda., o empresário esperou
até 2005, ocasião da CPMI dos Correios para abrir publicamente o
envelope. Seu objetivo era provar ter sido preterido em uma
concorrência, em 2000, em favor de duas empresas estrangeiras, a alemã Siemens e a francesa Alstom, ambas com propostas supostamente superfaturadas.
Brockveld alega ter calculado em R$ 48 milhões o contrato de compra de
equipamentos de movimentação e triagem de carga interna oferecido à ECT.
A dupla vencedora cobrou quase o dobro. De quebra, diz o empresário, as
escolhidas passaram a gerenciar outros três contratos no valor de US$
100 milhões (R$ 230 milhões).
Em 22 de dezembro de 1999, a ECT abriu a concorrência internacional
016/99 para compra e manipulação de equipamentos de sistemas de
movimentação e triagem interna de carga. Interessado no negócio, Edson
Brockveld conta que, nos dois anos anteriores à licitação, desenvolveu,
junto ao setor de engenharia dos Correios, diversos equipamentos e
realizou testes em parceria com as empresas Portec e Buschman, ambas dos
Estados Unidos.
Segundo ele, a pedido da diretoria da ECT, a Brockveld Equipamentos chegou a trazer engenheiros americanos para fazer as demonstrações e, assim, ganhar a confiança da direção da estatal. O presidente da empresa era Hassan Gebrin, ligado aos grupos políticos do então governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB), e do ex- senador e ex-governador também do Distrito Federal José Roberto Arruda (PFL-DF).
Segundo ele, a pedido da diretoria da ECT, a Brockveld Equipamentos chegou a trazer engenheiros americanos para fazer as demonstrações e, assim, ganhar a confiança da direção da estatal. O presidente da empresa era Hassan Gebrin, ligado aos grupos políticos do então governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB), e do ex- senador e ex-governador também do Distrito Federal José Roberto Arruda (PFL-DF).
A indicação havia sido avalizada pelo então ministro das Comunicações,
Pimenta da Veiga. Para garantir uma boa posição no processo licitatório,
a Brockveld fez um consórcio com a japonesa NEC, uma das gigantes
mundiais do setor de tecnologia de ponta. Pelo acordo, cada empresa
seria responsável por um setor.
A empresa brasileira cuidaria do maquinário de movimentação postal e a
NEC dos equipamentos de comunicação e segurança. Dois dias antes da
licitação, no entanto, sem nenhum sinal prévio, conta Edson, o então
diretor da NEC no Brasil, Marcos Sakamoto, informou à Brockveld que não
poderia participar da licitação.
Alegou, segundo o empresário catarinense, atender a um pedido da direção
da Siemens, que não queria a participação das duas empresas na
licitação. No dia da abertura das propostas, Edson Brockveld diz ter
sido diretamente convidado pelas empresas Mannesmann Dematic Rapistan,
Siemens e Alstom a não participar da concorrência da ECT, pois estaria
tudo certo que as duas últimas seriam as vencedoras da licitação.
Brockveld alega ter ignorado a oferta e participado, assim mesmo, do
processo. No dia da licitação, o edital previa que fossem abertos os
envelopes relativos à habilitação técnica e comercial. Porém, ao ser
constatado que a Brockveld Equipamentos iria participar da licitação, e
pelo fato de os concorrentes não saberem se a empresa estava ou não com
os documentos em ordem, foi feita uma proposta à ECT de emissão de um
parecer único da proposta técnica e de habilitação, em desacordo com o
estabelecido no edital de licitação.
Feito isso, a Brockveld e a Mannesmann acabaram sumariamente
inabilitadas tecnicamente. A Mannesmann imediatamente recorreu, mas teve
o pedido indeferido. Ambas receberam, lacrados, os envelopes com as
propostas de volta. Siemens e Alstom foram às escolhidas. Detalhe: a
empresa francesa embolsou US$ 15 milhões e deu o cano na ECT, por este
motivo foi processada pelos Correios e substituída em seguida, pela NEC.
Logo depois, a direção da Brockveld foi procurada pelas empresas
vencedoras. Teriam pedido para que ela não entrasse com recurso
administrativo. Em troca, os executivos da Siemens e da Alstom dariam
parte do projeto para a perdedora. Ou seja, comprariam da empresa
brasileira os equipamentos previstos no contrato.
Com a Alstom, o acordo foi assinado na noite do dia 23 de fevereiro de
2000. A empresa foi representada, segundo Edson Brockveld, por um
diretor chamado Jean Bernard Devraignes. A Siemens, no entanto, esperou a
data-limite para entrada de recurso, 24 de fevereiro de 2000, para
assinar o acordo, em Brasília.
Naquele dia, para ter certeza de que tudo sairia conforme combinado,
Hélcio Aunhão, diretor da Siemens, foi ao aeroporto da capital federal
encontrar com Brockveld, então disposto a entrar com o recurso
administrativo contra o resultado da licitação, o que nunca aconteceu.
Depois de assinados os contratos, no entanto, as empresas vencedoras não
honraram os acordos.
Edson Brockveld, então, esperou o momento certo de se vingar. A crise
desencadeada a partir das denúncias de corrupção, justamente nos
Correios, lhe pareceu à oportunidade ideal. O empresário foi ao
Congresso Nacional para entregar toda a documentação sobre o caso a
então senadora, hoje ministra Ideli Salvatti.
Disse a ela ter tomado a iniciativa de denunciar o caso cinco anos
depois porque, impedido de participar da licitação e traído por empresas
internacionais, achava que a CPMI dos Correios iria se interessar pelo
caso. Por isso havia decidido ir pessoalmente ao Senado. Ele disse à
senadora que, em princípio, não teria interesse em entrar em briga
judicial contra a ECT, mas pretendia acionar a Siemens e a Alstom por
quebra de contrato.
O diretor-regional de Vendas da Siemens no Brasil, Hélcio Aunhão, negou,
na Sub-relatoria de Contratos da CPMI dos Correios, as acusações de que
a empresa teria feito conluio com a Alston para que a Brockveld se
retirasse da licitação do sistema de triagem interna de cargas dos
Correios.
Aunhão confirmou ter assinado termos de intenção de compra de alguns
equipamentos com a Brockveld, transação que, segundo Edson Maurício,
serviria para compensar a empresa que se retirou, mas disse que a compra
não foi realizada porque a empresa fornecedora não teria cumprido as
condições estipuladas no contrato.
O sub-relator, então deputado federal, hoje Ministro da Justiça José
Eduardo Cardozo, afirmou na audiência que a CPMI iria solicitar ao
Ministério Público o aprofundamento da investigação sobre o caso.
O Ministério Público brasileiro obteve de autoridades da Suíça, este
ano, a confirmação da existência de contas do operador do esquema junto
ao Metrô de São Paulo, Roberto Marinho, no exterior. Agora, espera-se no
MP a chegada de novas informações, vindas do Principado de
Liechtenstein, vizinho à Suíça, de forma a rastrear o trânsito de
grandes recursos no circuito de empresas e bancos do paraíso fiscal.
Segundo as autoridades o alimentador desse esquema seria a multinacional
Alstom, que teria feito “acordo”, com os tucanos antes mesmo da Siemens
e em relação ao Metrô de São Paulo, ou seja, no período que ocorreu às
irregularidades no Correios, quando Pimenta da Veiga era Ministro das
Comunicações de FHC.
Na multinacional alemã, o presidente no Brasil, Peter Loscher, foi
afastado do cargo, numa responsabilização indireta sobre a gestão que
teria participado de um cartel formado por 15 empresas, todas
participantes de um esquema de pagamento de propinas aos tucanos.
Manga na carta
Ainda segundo o autor do texto, Marco Aurélio Carone, “os mineiros,
desde o Império, têm sempre na manga uma carta, como agora que, enquanto
o CADE vaza informações a respeito do ocorrido em São Paulo, os
arquivos permanecem fechados em relação aos acontecimentos ocorridos em
Minas Gerais, sob a guarda de Rutelly Marques da Silva, Conselheiro da
Light indicado por Aécio Neves”, quando ainda ocupava o cargo de
governador do Estado.
A” exemplo do ex-procurador de Justiça de Minas Gerais Fernando Antônio
Fagundes Reis, Rutelly, no mínimo, exerce o cargo na concessionária em
claro conflito de interesse. Depois de pesada crítica do MPMG, Fagundes
Reis, por determinação do CNMP, optou pelo cargo na Light. Rutelly,
nascido em 20 de janeiro de 1975, é Bacharel em Ciências Econômicas pela
Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas
Gerais e Mestre em Economia pelo Centro de Desenvolvimento e
Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais. De 2003 a
2008, período que Aécio foi governador de Minas Gerais, exerceu o cargo
de Assessor Técnico e Coordenador-Geral de Defesa da Concorrência e,
posteriormente, de Coordenador-Geral de Energia da Secretaria de
Acompanhamento Econômico, órgão do Ministério da Fazenda. Desde 04 de
agosto de 2008 vem atuando como Secretário Adjunto desse mesmo órgão”,
acrescenta o texto.
Ainda segundo o Novo Jornal, “numa entrevista para um programa de TV no
auditório do Ibmec em São Paulo, Adilson Antônio Primo foi apresentado
como o CEO que não fez MBA e que nunca foi demitido. Por quê? ‘Eu acho
que a trajetória profissional acaba definindo os rumos que você toma
dentro da empresa. Até agora, parece que não foi o rumo errado’,
respondeu ele”. Dois anos depois, Primo foi demitido porque, segundo
comunicado divulgado pela matriz na Alemanha, ‘foi descoberta uma grave
contravenção das diretivas da Siemens na sede nacional, ocorrida antes
de 2007′. A empresa nunca explicou o que quis dizer com ‘grave
contravenção’, mas deixou vazar a informação de que Primo teve seu nome
envolvido em um suposto desvio de dinheiro, ocorrido entre 2005 e 2006,
que lhe teria rendido 6,5 milhões de euros”.
“Como CEO da Siemens, Adilson Primo também frequentava os eventos
políticos e sociais. Não faltava aos encontros com autoridades, como
ocorreu em julho de 2011, quando ele e o governador tucano Antonio
Anastasia, de Minas Gerais, selaram com as mãos colocadas umas sobre as
outras, como fazem os jogadores de futebol antes de entrarem em campo, o
acordo para a construção de uma fábrica da Siemens em Itajubá, no sul
do Estado. Já sem a presença de Primo no comando da Siemens, a empresa
anunciou a desistência do projeto. O motivo seria a crise européia. Mas
Adilson Primo foi para Itajubá, cidade que tem menos de 100 mil
habitantes e é famoso no município por ocupar uma nova secretaria,
encarregada entre outras atividades de conduzir a elaboração do novo
Plano Diretor”, afirma.
http://amoralnato.blogspot.com.br/2013/09/esquema-siemens-operou-na-administracao_332.html
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