terça-feira, 9 de novembro de 2010

Conselho de Segurança só para quem tem bomba?



O anúncio feito hoje pelo presidente dos EUA, Barack Obama, de que seu país apóia o ingresso da Índia no Conselho de Segurança tem duas leituras.A primeira, positiva, é a de que finalmente os Estados Unidos aceitam mudar a esclerosada estrutura onde os “cinco atômicos” – EUA, Rússia, França, Inglaterra e China – podem, com um único voto, impedir decisões mundiais com seu poder de veto.
Claro que não é possível, num mundo desequilibrado como o que temos, esperar que as decisões da ONU possam ser tomadas exclusivamente por maioria simples.
Mas o sistema de vetos é, na prática, a imposição do desejo norte-americano sobre elas, como demonstra o número de vetos feitos por aquele país, nos últimos 25 anos, desde o fim da Guerra Fria: 42 vezes, contra 10 do Reino Unido, quatro da Rússia (e da antiga URSS), três da França e dois da China.
O gesto de Obama pode significar, assim, um aceno para a aceitação da proposta do G-4 (além da Índia, Brasil, Alemanha e Japão) de ampliar o conselho para 25 membros, sendo estes quatro (e mais um africano, provavelmente a África do Sul) membros permanentes e mais outros cinco eleitos, além dos dez atuais.
Há, porém, uma leitura diferente. E sombria.
A Índia é um dos países que possuem armas nucleares, como Paquistão e Israel. Contra ela, pelas suas boas relações com os EUA, não se levantam as “objeções morais” ao domínio da tecnologia nuclear que servem de ameaça ao Irã, mesmo este declarando que honrará seu compromisso de não desenvolver armas atômicas e se submetendo às inspeções da Agência Internacional de Energia Nuclear.
Será este o diferencial que permite à India ter um tratamento diferenciado?Então, dominar e utilizar a tecnologia atômica para a confecção de armamentos passou a fazer de um país merecedor de especiais deferências dos EUA?
Mau sinal.
E um elemento a mais para dar razão à pretensão brasileira de termos um novo Conselho de Segurança, com integrantes com direito a veto que não façam parte do “clube atômico” e possam confrontar a arrogância nuclear.


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