"Tenho em meu poder uma série de documentos (originais) que provam a
existência de um forte esquema de corrupção no estado de São Paulo
durante os governos Covas, Alckmin e Serra, e que tinha como objetivo
principal o abastecimento do "Caixa 2" do PSDB e do DEM" (trecho do
relatório entregue no dia 17 de abril ao conselho Administrativo de
Defesa do Consumidor (Cade) pelo ex-diretor da Siemens Everton
Rheinheimer, que foi encaminhado à Polícia Federal).
Sete meses depois, a revelação foi feita nesta quinta-feira pelo
Estadão, o jornal que melhor vem acompanhando este caso sobre as
denúncias de corrupção envolvendo membros dos três últimos governos
tucanos no chamado trensalão paulista, um esquema de cartéis e propinas,
que causou enormes prejuízos ao Estado.
Pela primeira vez, aparecem na denúncia feita ao Cade os nomes
de integrantes do alto tucanato. São eles: Edson Aparecido, secretário
da Casa Civil do governador Geraldo Alckmin; senador Aloysio Nunes
Ferreira, político historicamente ligado a José Serra, além de três
secretários do atual governo do PSDB, José Aníbal (Energia), Jurandir
Fernandes (Transportes Metropolitanos e Rodrigo Garcia (desenvolvimento
Econômico), antigo aliado de Gilberto Kassab, atualmente rompido com o
ex-prefeito. Também foi citado o deputado federal Arnaldo Jardim
(PPS-SP), velho aliado dos tucanos paulistas.
Até agora, só tinham aparecido nas investigações figuras menores do
esquema, como alguns ex-diretores do Metrô e da Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos (CPTM), lobistas e consultores. Por enquanto, só
foram indiciados criminalmente pela Polícia Federal João Roberto
Zaniboni, ex-diretor da CPTM, e Arthur Teixeira, controlador da Procint
Projetos e Consultoria Internacional.
Também é a primeira vez que se fala abertamente em formação de "Caixa
Dois" dos governos PSDB-DEM, já que antes só se fazia menções à
formação de um cartel pelas multinacionais Alstom e Siemens, entre
outras. Manchete do Estadão na página A4: "Ex-diretor da Siemens aponta
caixa 2 de PSDB e DEM e cita propina a deputados".
Os citados na reportagem de Fernando Gallo, Ricardo Chapola e Fausto
Macedo negaram as acusações de recebimento de propinas ou não foram
encontrados pelo jornal. O PSDB de São Paulo, em nota oficial, repudiou
as acusações feitas pelo ex-diretor da Siemens.
Rheinheimer, que foi diretor da Divisão de Transportes da Siemens por
22 anos, tendo deixado a empresa em março de 2007, é o autor da carta
anônima que deflagrou a investigação do cartel de trens, em 2008, e fez
um acordo de delação premiada em troca de uma eventual redução de pena.
Em depoimento à Polícia Federal, o ex-diretor Everton Rheinhaimer se
disse disposto a contar tudo o que sabe, mas pediu em troca um cargo na
mineradora Vale, que negou ter alguém com este nome no seu quadro de
funcionários.
De uns dias para cá, parece estar se rompendo a cortina de proteção
em torno das denúncias contra políticos e governos tucanos. Também nesta
quinta-feira, a Folha, principal concorrente do Estadão, publicou um
editorial sob o título "O outro mensalão", em que afirma: "STF não pode
mais atrasar julgamento da ação sobre esquema de corrupção do PSDB em
Minas, praticado na campanha eleitoral de 1998." E conclui: "Após o
desfecho do processo do mensalão petista, a Suprema Corte brasileira não
pode dar espaço à interpretação de que funciona em regimes distintos de
acordo com a coloração partidária dos acusados".
Foi mais ou menos o que escrevi aqui na semana passada, num texto em
tom de ironia, sob o título "Imprensa vai fazer força-tarefa para
investigar tucanos".
http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/2013/11/21/aparecem-primeiros-nomes-de-tucanoes-do-trensalao-paulista/
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