Após os protestos de rua de junho os políticos em geral perderam
popularidade – à exceção de Marina Silva, que ganhou aprovação com
aqueles movimentos e depois perdeu o que tinha ganhado enquanto
políticos como Dilma Rousseff, que haviam sido mais prejudicados, foram
se recuperando e a opinião pública foi despertando da catarse em que
mergulhara.
Em São Paulo, no início de julho, o instituto Datafolha detectou que a
aprovação ao governo Geraldo Alckmin (PSDB) caiu de 52% para 38%. O
governo Fernando Haddad sofreu dano similar: sua aprovação era de 34% e
caiu para 18%.
A situação de Alckmin, porém, agravar-se-ia ainda mais devido às
denúncias que surgiram em agosto envolvendo o metrô, a CPTM e as
empresas europeias Alstom e Siemens, que teriam pago propinas a membros
do governo paulista a partir de 1998 e durante os governos seguintes
(todos do PSDB) até 2009, no mínimo.
É interessante, porém, ver as estratégias que dois dos governantes
mais afetados escolheram para se recuperar, ainda que não se saiba se
tais estratégias deram certo porque não foram feitas novas pesquisas.
Enquanto Haddad criou faixas exclusivas para ônibus que repercutiram
bem entre a população da capital paulista por diminuírem fortemente o
tempo de viagem dos que atravessam a cidade todos os dias, Alckmin
preferiu priorizar em sua agenda compromissos fora da capital com a
finalidade de expor sua imagem nas mídias regionais de maneira positiva.
Mas essa não foi a única estratégia tucana para melhorar a imagem de
Alckmin. Assim como fez José Serra em 2010 durante a campanha eleitoral
para presidente – quando foi atingido na cabeça por uma bolinha de papel
e resolveu ir fazer “tomografia” enquanto acusava o PT de tê-lo
atingido –, Alckmin decidiu pegar um “atalho” para melhorar sua imagem
elaborando uma farsa, a qual acaba de ser desmontada pelo jornal Valor Econômico.
Em reportagem publicada em seu site na última quinta-feira, o Valor
publicou entrevista do ex-secretário estadual da Segurança Pública de
São Paulo Antônio Ferreira Pinto, que afirmou que Alckmin (PSDB) busca
lucrar politicamente com supostas ameaças de morte feitas por
integrantes da facção Primeiro Comando da Capital (PCC), captadas em
escutas policiais.
O ex-secretário, nomeado por José Serra quando era governador e que
permaneceu no cargo no governo Alckmin até o ano passado, diz que as
escutas nas quais um integrante da facção fala em “decretar” (matar) o
governador são conhecidas da cúpula da segurança pública desde 2011 e
não têm credibilidade alguma.
“A informação é importante desde que você analise e veja se ela tem ou não consistência. Essas gravações não tinham“, disse Ferreira Pinto.
O ex-secretário de Alckmin explica que, assim como não se pode
acreditar na parte dessa gravação em que membros do PCC disseram que foi
o grupo criminoso e não o governo do Estado quem reduziu os homicídios
em São Paulo, tampouco se pode crer na parte em que um membro da
organização fala em matar o governador.
O trecho da gravação de conversa de membros do PCC em que falam em
matar Alckmin foi requentado pela mídia, pois era amplamente conhecido
desde 2011. De lá para cá, nunca houve evidência de que existiria mesmo
algum propósito nesse sentido. Nunca houve um único atentado ou qualquer
outra evidência adicional.
Por que, então, os jornais O Estado de São Paulo e O Globo, em suas
edições de 12 de outubro último, publicaram uma informação antiga no
topo de suas primeiras páginas, com enorme destaque?
No mesmo dia em que Estadão e O Globo fizeram estardalhaço com o
suposto “plano para matar Alckmin”, a Folha de São Paulo deu apenas uma
nota discreta em suas páginas internas. A mesma Folha que, em sua edição
desta sexta-feira (1/11), divulgou, agora sim em sua primeira página, a matéria publicada na quinta-feira (31/10) pelo jornal Valor Econômico denunciando a farsa.
Segundo a matéria da Folha, o plano tucano-midiático pode ter dado certo. O jornal afirma que “(…) pesquisa
encomendada pelo PSDB após o episódio [das manchetes dizendo que o PCC
queria matar o tucano] detectou alta na avaliação de Alckmin por sua
‘coragem’ (…)”.
Entretanto, como não há maiores detalhes sobre essa “pesquisa
encomendada pelo PSDB” que confirmaria que a farsa do governador
paulista teria elevado sua popularidade e feito a população paulista
esquecer da roubalheira dos casos Alstom e Siemens, não se pode
acreditar nela.
O que fica desse episódio, além da opção de mais um tucano pela
tática da “bolinha de papel”, é a iniciativa do Estadão e de O Globo de
darem destaque tão grande (com manchete principal em suas primeiras
páginas) a notícia tão velha (conhecida pela imprensa e pelas
autoridades há quase dois anos) – à qual a Folha não deu bola, mostrando
ser menos patife.
http://www.blogdacidadania.com.br/2013/11/estadao-e-globo-ajudaram-alckmin-em-farsa-eleitoreira/
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