quinta-feira, 7 de abril de 2011

Um freio bem-vindo à enxurrada de dólares



O anúncio feito pelo Ministro Guido Mantega de que o prazo para o capital estrangeiro que entrar no Brasil ficar livre da cobrança de IOF, de um para dois anos, vai surtir, pelo menos no curto prazo, efeito na contenção da absurda onda de dólares que entra – viciosamente – na economia brasileira.


Só em três meses, entraram US$ 35,6 bilhões, quase 50% a mais que no primeiro trimestre de 2010, quando já entravam muitos dólares.


Dois terços deste dinheiro entrou via bancos e o terço restante foram dívidas contraídas por empresas brasileiras. A uma taxa de cerca de 3% ao ano, mesmo com os 4% de IOF que vigiam até o fim de março, não é preciso ser um gênio para ver o que se lucrava ante uma taxa de juros Selic de 11,75%.


Como, a esta altura, não há condições políticas de trabalhar-se com uma cotação fixa e oficial do dólar, pela complexidade das teias que envolvem a economia brasileira ao mundo das finanças internacionais, o Ministro fez o que podia fazer.


E fez até muito gradualmente – pois este processo começou em 2009, com 2% de IOF, depois 4% e, finalmente, 6% , alíquota que agora passa a valer pelo dobro de tempo, até sua isenção. De tal forma que só alguém de má-fé ou de interesses escusos possa dizer que esta taxação seja alguma fobia ao capital estrangeiro.


Porque era assim que tratavam o controle do fluxo de capitais,dizendo que isso faria fugirem os investidores estrangeiros, embora todos, inclusive este blogueiro aqui já em 2009, soubessem que eles não iam fugir coisa nenhuma.


Desde que se iniciou este proceso, era possível saber que esta taxa seria insuficiente para conter a avidez de aplicadores que tomam dinheiro no exterior a custo quase zero e o aplicam numa economia que lhes paga mais de 11% de juros. Com a taxação, essa diferença embolsada, a que os economistas chamam de “arbitragem” se reduz, mas só quando a alíquota chegou a 6% surgiram sinais de que o aperto fazia algum efeito.


A mudança de prazos, agora, possivelmente até representará alguma saída de capital, por algum tempo, estabilizando a moeda americana, ou até com uma leve alta que, se passar dos limites, o BC tem condições de conter, montado na montanha de dólares que são nossas reservas internacionais, acima de US$ 300 milhões.


Reservas que custa caro manter – porque o Tesouro paga juros internos por te-las comprado - e que, se são uma garantia contra ataques especulativos para desvalorizar o real, pouca eficácia tem quando a tendência é de apreciação da moeda brasileira. E o BC, para segurar as cotações, acaba tendo de comprar mais dólares.


E o jogo é pesado, como mostra este trecho de uma matéria publicada ontem no Valor, pelo repórter Eduardo Campos:


A tentativa do governo de reverter ou mesmo amenizar o viés de valorização do real bate em uma singela montanha de US$ 20,217 bilhões.


Essa é a posição vendida (aquela que ganha com a queda do dólar) do investidor estrangeiro na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) neste começo de mês.


A soma recorde é composta por US$ 12,711 bilhões vendidos em contratos de dólar futuro e outros US$ 7,505 bilhões em cupom cambial (DDI – juro em dólar). Cabe ressaltar que apenas na sexta-feira, dia 1º de abril, os não residentes venderam US$ 4,38 bilhões em contratos de dólar futuro.


Pobre de nós que achamos que a cotação do dólar bem baixa é boa para que a gente compre aquele computador ou aparelho tão desejado. O jogo é outro, outro mesmo, muito além da nossa imaginação de simples cidadãos.


De qualquer forma, o sucesso desta medida é temporário.


Porque quando não se tem uma trajetória visível de queda na taxa de juros interna e muito menos uma perspectiva de alta de juros nos EUA – a economia de lá mal botou o nariz fora do buraco e o Federal Reserve, o BC deles, não vai subir suas taxas, menos ainda com o início da campanha eleitoral por lá – a diferença abissal entre o custo do dinheiro lá e cá faz dois anos passarem num estalar de dedos.


Eles vão ter um pouco mais de medo, sim, pelo prazo. Mas não vão fugir, digo de novo. Só baixando nossos juros podemos exorcizar a ameaça do câmbio.


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