A 12ª edição do Big Brother Brasil (BBB12) foi o tiro no pé da Globo, que por conta de uma história mal contada, acelera a ruína de um império do finado Roberto Marinho, construído sobre o castelo de cartas das concessões públicas de TV, entulho do regime de exceção que ainda aflige o país, há mais de meio século. Um novo meio de comunicação, mais ágil, independente, sério quando precisa e brincalhão o suficiente para eleger Luíza, que estava no Canadá, a nova musa do verão da Paraíba, começa a desbancar a velharia que insiste em sobreviver agarrada aos faustões da vida, lucianos hucks, BBBs tarados e apresentadores de jornais metidos à besta. Um deles, do SBT – rebotalho da antiga TV Tupi, desmontada pelo generalato ditatorial para agradar ao camelô de coturnos do Baú da Felicidade, até se achou no direito de passar uma descompostura na nação e dizer que o brasileiro é, antes de tudo, um idiota. Mal sabe o coitado que “o maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante do idiota que quer bancar o inteligente”, já dizia o velho Confúcio.
O que o moço também não percebe, porque fala o que lhe mandam falar diante das câmeras e, se fosse diferente, ficaria na mesma, é a qualidade da informação que circula pela internet brasileira, uma das mais abrangentes do mundo, com um tempo de uso por pessoa de deixar qualquer gringo de queixo caído. No laptop, no desktop, no celular, no tablet que vai a qualquer canto, os brasileiros souberam avaliar a idiotice imensa que é o BBB12 e, de quebra, os demais 90% do conteúdo produzido pela TV nacional. O país acompanhou as notícias sobre o crime que – horas após supostamente cometido – foi desvendado e traduzido aos brasileiros como uma armação errada da Vênus encardida do Jardim Botânico. Muito errada, diga-se de passagem. Tanto, a ponto de lhe valer um contravapor, caso a seriedade que falta à emissora exista no setor governamental responsável por julgar tais infrações.
Se os mais de 40 milhões de internautas brasileiros resolveram criar o maior fenômeno de marketing dos últimos tempos, numa brincadeira com o pai da Luíza (aquela que estava no Canadá), coisa bem típica de quem tem bom humor, também souberam apontar para o canal de TV líder de audiência no país e dizer-lhe, com todas as letras, que desta vez passou dos limites. Não é lícito mostrar para crianças, em horário próprio para 12 anos, as cenas reais – em tempo real – de um sujeito embaixo do edredom, fazendo os diabos com a moça que mais parecia uma boneca de pano. “Estupro!”, gritaram de imediato os afoitos. Bateu até polícia na porta da Rede Globo. Pegaram calcinhas e lençóis. Abriram um Boletim de Ocorrência. Tomaram depoimentos. O que para os pombinhos atochados debaixo do cobertor não passava de uma fantasia erótica, apresentou aos brasileiros a realidade de um sistema de comunicação social construído sobre o lixão da ditadura.
Este episódio do BBB12, no final das contas, chegou em boa hora. Bem a tempo de se promover, no Congresso, uma reforma objetiva na legislação que regula os meios de comunicação no país. Sem essa de que a democracia ou a estabilidade política do Brasil estarão ameaçadas e, por isso, o escritório da CIA, na Avenida Paulista, telefonará ao Pentágono e pedirá a presença da IV Frota nas costas brasileiras, em cima da camada pré-sal. Os veículos que integram o Partido da Imprensa Golpista (PIG), certamente, aproveitarão o mote. Em outros tempos, teriam músculos suficientes para dizer que a Vila (Militar, de Deodoro, na Zona Norte do Rio) iria descer (para o Palácio do Catete, onde se consumou o golpe militar de 1964). Outros tempos. A Vila hoje, aquela que faz samba, desce mesmo é a avenida, na folia de Momo. Os militares brasileiros aprenderam que o respeito à Constituição é a melhor arma contra quaisquer aventureiros.
Agora a internet brasileira está crescida, parruda, com o conjunto de jornais independentes, e o Correio do Brasil em suas fileiras, na companhia dos blogueiros sujos, os limpinhos e os irreverentes, mostrou para a Globo, o SBT, afiliadas, cúmplices e adereços que a realidade mudou. O velho esquema, montado durante os Anos de Chumbo, foi também derrotado nas últimas eleições presidenciais, quando tentava disseminar uma miríade de infâmias contra a presidenta Dilma Rousseff. A alta patente da direita tupiniquim, descrita no best seller Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr., encontra-se diante de uma possível Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) capaz de lavar a alma dos brasileiros. Ganha força incontestável a proposta para se corrigir o desvio causado durante o apagão de democracia, e redimensionar os olhos e ouvidos da Opinião Pública, com uma nova plataforma no setor de Telecomunicações.
Em bem a tempo da Luíza, que estava no Canadá, brincar o carnaval com a família, lá em João Pessoa.
Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do Correio do Brasil.
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