Honestaudo Never: Tá com a pulga atrás da orelha. |
O que levou o senador Aécio Neves (PSDB) a se envolver pessoalmente
na batalha perdida da comunicação sobre o escândalo de corrupção da
Alstom e da Siemens nos trens e empresas de energia nos governos tucanos
de São Paulo?
Aécio vem da escola política mineira que cultiva a prudência e
esperteza. Essas características recomendariam manter seu nome o mais
longe possível do caso. Estava claro que haveria o alto risco de que
atacar o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pelas investigações
da Polícia Federal, viraria um tiro no pé, pois a opinião pública veria o
caso como pressão pelo engavetamento. E foi o que aconteceu, apesar dos
esforços editoriais da imprensa oposicionista em dar uma mãozinha aos
tucanos, para tentar colocá-los na posição de vítimas.
Para piorar, o gesto político de Aécio acabou por reforçar a
impressão de maior envolvimento dos governos tucanos paulistas no
escândalo, além de "contaminar" a imagem do senador mineiro. Afinal,
para o público telespectador que acompanha superficialmente o caso, ao
ver Aécio reclamando das investigações, pode até achar que ele estaria
no rol de suspeitos.
Nem o fato de ele ser o presidente do partido justifica. Os tucanos
poderiam escalar apenas os líderes na Câmara e no Senado, poupando seu
pré-candidato à Presidência da República de se "contaminar". O
governador paulista Geraldo Alckmin, por exemplo, evitou se expor.
Mas uma explicação para o comportamento do senador Aécio pode ser as
estreitas relações da Alstom e seus ex-executivos com o tucanato
mineiro, sobretudo através da Cemig, a empresa de energia elétrica do
governo do estado de Minas.
Em 2002, chama atenção a dispensa de licitação no contrato da Cemig com o Consórcio Alstom/Orteng/Inelto
para implantação da Subestação Seccionadora Bom Despacho 3. O contrato
foi executado durante o governo de Aécio Neves, que manteve o presidente
da Cemig, Djalma Bastos de Morais.
Em janeiro deste ano, a mesma Alstom anunciou que Cemig a selecionou em um contrato de 20 milhões de Euros para reforço da transmissão nas Subestações de Bom Despacho 3 e São Gotardo 2.
Outra coincidência curiosa é que, quando a Cemig virou sócia da
Light, durante a gestão de Aécio Neves como governador de Minas, o
escolhido para presidir a Light foi José Luiz Alquéres, ex-presidente da
Alstom no Brasil entre 1998 e 2006, período em que a multinacional é
investigada por suposto pagamento de US$ 6,8 milhões em propina para
políticos do PSDB para vencer licitações de US$ 45 milhões do metrô de
São Paulo.
Outra pedra no sapato do tucanato mineiro é o testemunho do
empresário Edson Brockveld – dono da Brockveld Equipamentos – na CPI dos
Correios, dado em 2005. Brockveld contou que a ECT (Correios) abriu a
concorrência internacional 016/99 para a compra de esteiras rolantes. A
ECT estava sob hierarquia do Ministério das Comunicações, e o ministro
era Pimenta da Veiga, do PSDB mineiro. Brockveld colocou sua proposta de
R$ 48 milhões em envelope lacrado.
Brockveld diz ter sido procurado pouco antes da abertura das
propostas pelas empresas Mannesmann, Siemens e Alstom para desistir da
concorrência, pois estaria acertado previamente que as duas últimas
seriam as vencedoras da licitação. Ele entregou o envelope, porém sequer
foi aberto, pois sua empresa foi inabilitada por mudanças no processo
de seleção em desacordo com o edital, segundo ele.
Siemens e Alstom foram às escolhidas, cobrando quase o dobro da
Brockveld. As vencedoras ainda passaram a gerenciar outros três
contratos no valor de US$ 100 milhões (cerca de R$ 230 milhões).
Em seguida, conta o empresário, a direção da Brockveld foi procurada
pelas vencedoras para um acordo. Não contestaria a licitação, em troca
de Siemens e Alstom dividirem com a perdedora parte do fornecimento dos
equipamentos. No entanto, as empresas vencedoras não honraram os
acordos, segundo o empresário.
Na CPI dos Correios, Edson Brockveld entregou toda a documentação
sobre o caso. O sub-relator, então deputado federal, hoje ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou na audiência que a CPMI iria
solicitar ao Ministério Público o aprofundamento da investigação sobre o
caso. Será que este processo descansa em alguma gaveta por aí?
Como se vê, Aécio Neves pode ter mais motivos para se queixar da
Polícia Federal mexer nesse vespeiro do que a mera solidariedade a
tucanos paulistas.
http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/helena/2013/12/sera-que-o-escandalo-do-trensalao-paulista-pode-descarrilar-para-minas-1367.html
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