terça-feira, 27 de março de 2012




Hesitei em divulgar esta história porque não tenho como comprovar a sua veracidade e porque tampouco posso violar o sigilo da fonte que ma confidenciou, pois resguardá-la foi condição para que a sua versão sobre a sucessiva queda de ministros em 2011 me fosse revelada.


Todavia, diante da recente entrevista da presidente da República à revista Veja, aquela história ganhou, a meu juízo, verossimilhança suficiente para que fosse apresentada ao público, ainda que não possa, de forma alguma, ser tomada ao pé da letra, pois, cabe dizer, este blogueiro julga que a sua fonte tem motivos para não gostar de Dilma.


De qualquer forma, como costuma acontecer com opiniões – e, frequentemente, com fatos inquestionáveis –, acreditará ou desacreditará quem quiser. Mas, se alguém quiser saber a minha opinião sobre o que relatarei a seguir, acho que há muita chance de tudo ser verdade.


Surge então, na mente do leitor, a pergunta crucial: que importância tem a tal fonte para fazer o blogueiro reproduzir a sua “acusação”? Resposta: não posso dizer. Se disser, isolarei um grupo entre o qual se poderá buscar a identidade de quem “acusa”. Mas posso garantir que a pessoa que disse o que será revelado conhece muito bem o assunto. Se falou a verdade, aí é outra história.


Tudo teria começado logo após a vitória de Dilma Rousseff sobre José Serra, ao fim de 2010. Naquele momento, a então presidente eleita estaria “mortificada” pelo baixo nível da campanha, mas, ao contrário do que possa parecer, não tinha raiva da mídia que trabalhou contra si durante todo o processo eleitoral em que se elegeu.


Dilma teria sido sempre contra a “picuinha” que, então, achava que Lula teria comprado com a mídia. Segundo ela teria dito, ele tinha vivido um inferno de oito anos – além dos 13 anos anteriores (desde 1989) de embates com a imprensa – simplesmente porque enfrentou Otavinho et caterva, quando poderia ter contemporizado com eles sem abrir mão das políticas públicas que desejava instituir no país.


Dilma teria dito, “textualmente”, que não haveria qualquer política pública adotada pelo governo Lula que fosse tão inaceitável para a elite que a mídia representa. A exceção seriam as cotas “raciais” nas universidades públicas e os planos de regulação da mídia, mas estas políticas – ou propostas de políticas – não seriam motivo para a guerra que se estabeleceu se Lula tivesse contornado o problema.


Bastaria que tivesse feito o que disse reiteradamente, durante a sua Presidência de oito anos, que jamais fez e que, aliás, é o que Dilma tem feito à farta, quase tanto quanto FHC durante o seu tempo na Presidência: “almoçar” com dono de jornal (ou de qualquer outro grande meio de comunicação).


Naquele momento, Dilma teria decidido promover uma distensão com a mídia por fazer um julgamento do qual não se pode discordar totalmente: instalar uma guerra política no país só por picuinha seria ilógico e até contraproducente do ponto de vista do interesse público.


Além da distensão política – e, aqui, entramos na questão central –, Dilma, agora nos primeiros meses de 2011, teria decidido se livrar de “problemas” que teria “herdado” do antecessor, dentre os quais sobressairiam ministros com potencial para gerar matéria-prima futura para ataques midiáticos e da oposição ao governo.


Apesar de ser absolutamente defensável a suposta visão desapaixonada de Dilma, pois uma guerra entre a mídia e o governo jamais será boa para o país por fazê-lo perder tempo com escandalizações do nada em vez de se dedicar ao desenvolvimento econômico e social, o método que teria sido engendrado pela presidente para se livrar da “herança” de Lula seria, no mínimo, desleal.


Eis o problema: Dilma, por terceiras pessoas, teria alimentado a mídia com informações passadas por debaixo do pano e ao fazer declarações públicas como a que fez sobre o ministério dos Transportes pouco antes do início da queda seqüencial de ministros. Seu objetivo seria o de levar os alvos à renúncia por uma pressão da mídia que acabou atingindo até as famílias deles.


Como evidência disso, foi-me perguntado se eu não teria notado como os ataques a ministros cessaram repentinamente, neste ano, e sobre como a própria Dilma foi poupada durante os ataques desfechados no ano passado, apesar de participar do governo federal desde 2003, o que faz dela co-autora do governo Lula e, portanto, responsável pelos ministros demitidos, que, inclusive, manteve no governo.


Além disso, a fonte me lembrou de que quando Dilma não quis a queda de um ministro, ela não ocorreu. Garantiu que a mídia abandonou a artilharia contra Fernando Pimentel não tão rápido que deixasse ver que não recebera carta branca de Dilma para atacar e não tão devagar que contrariasse a presidente.


Dilma teria feito tudo isso porque não teria querido dizer não a Lula ou desafiar a sua influência, até porque seria um suicídio político. Assim sendo, optou por esse suposto estratagema.


Você, leitor, não precisa acreditar. Aliás, acho que nem deve, pois quem me passou essa história não me ofereceu qualquer outro elemento de que o que disse seja verdade – e foi avisado de que isto seria dito, caso eu escrevesse este post. Assim mesmo, com a condição de não ter seu nome – ou indícios de seu nome – revelado, deixou-me à vontade para escrever.


Contudo, a reflexão é útil porque a entrevista que Dilma concedeu a uma publicação com o histórico da Veja mostra que, ao menos no que tange a uma suposta intenção dela de distender as relações de seu governo com a mídia, a minha fonte não mentiu. E, sendo honesto, não posso afirmar que essa intenção seja indefensável.


Além disso, julgo que Dilma não preside um governo “de esquerda”, como foi dito aqui no post A ideologia do governo Dilma; preside um governo de conciliação ideológica entre centro-esquerda e centro-direita – e, para tanto, faz concessões a esta. Por conta disso – e de sua visão sobre distensão política –, sua entrevista à Veja era absolutamente previsível.


Deve-se ressaltar, ainda, o sangue-frio de Dilma e sua estratégia maquiavélica (e não vai, aí, qualquer conotação pejorativa, como sabe quem já leu Maquiavel).


Será que alguém notou que não houve ataques de Reinaldo Azevedo ou de Augusto Nunes à entrevista de Dilma? Sabe por que, leitor? Enquanto eles se esgoelam chamando seu governo de tudo de ruim que se possa imaginar, ela estava lá confraternizando com os chefes deles e ainda conseguiu uma capa laudatória na revista a que servem.


Detalhe: Azevedo e Nunes ainda podem fazê-los (os ataques), mas perderam o timing. Isso ficou escancarado.


A administração de Fábio Barbosa, novo presidente-executivo da Abril S/A, holding que comanda as operações de mídia, gráfica e distribuição do Grupo Abril, vai mostrando a cara. E, nesse contexto, gente como esses dois blogueiros-colunistas da Veja não parece que terá vida longa na publicação.


Mais uma vez, isso não acontecerá tão rápido que venha a endossar tal percepção, mas não será tão devagar que mantenha na Veja dois de seus principais passivos hoje. Esses sujeitos fazem parte de um passado que Dilma está enterrando, paulatinamente. Para o bem ou para o mal.


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