domingo, 16 de novembro de 2008

EPIDEMIA MIDIÁTICA DE FEBRE AMARELA MATOU DOIS E FEZ VACINAÇÃO SALTAR DE 5 PARA 20 MILHÕES DE DOSES.

* Vai viajar para esses mesmos lugares por qualquer motivo – negócios, visita a familiares, trabalho, ecoturismo. Importante: a vacina deve ser tomada dez dias antes da viagem, independentemente da época do ano.
* Vai viajar ou procede de países com alto risco de febre amarela, estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde.


Fim de dezembro de 2007. A Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS) registrou o primeiro caso suspeito de febre amarela silvestre do verão 2007/2008. Rapidamente, a mídia, por iniciativa própria, decretou a volta da febre amarela. Por má-fé, irresponsabilidade e incompetência, confundiu a forma urbana – a última epidemia aconteceu no Acre em 1942 -- com a silvestre -- que não voltou porque nunca foi embora; nem irá, a menos que exterminem todos os macacos, os seres silvestres e as florestas no Brasil. Chegou ao cúmulo de misturar casos suspeitos com o número de mortes.

De nada adiantou o ministro José Gomes Temporão, em pronunciamento em cadeia nacional, garantir que: 1) não havia epidemia de febre amarela; 2) só deveriam se vacinar as pessoas que moram em áreas de risco para a febre amarela silvestre ou iriam viajar para essas áreas. Torcendo contra o governo federal, a mídia ignorou olímpica e sistematicamente vários alertas do Ministério da Saúde. Gerou, assim, a sua própria “epidemia”, provocando desinformação, pânico, filas, vacinações desnecessárias, erradas, entre outros “efeitos colaterais”.

O auge da irresponsabilidade foi conclamar a população a se vacinar em massa. Levou milhões de brasileiros a se imunizar sem necessidade e correr o risco de ter efeitos colaterais da vacina contra a febre amarela, feita com vírus atenuado da doença. Como quase todo medicamento, esse imunobiológico pode ter efeitos colaterais, alguns graves; em raros casos, óbitos.

De dezembro de 2007 a abril de 2008, a SVS/MS registrou 53 casos suspeitos de eventos adversos à vacina de febre amarela; 23 foram hospitalizados com reações moderadas a graves. Seis morreram. É o que revela rigorosa e demorada investigação epidemiológica, clínica e laboratorial, em fase final de apuração.

“Duas pessoas faleceram por outras doenças, sem ligação com a vacina”, informa o médico epidemiologista Eduardo Hage, diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica da SVS/MS. “Quatro foram a óbito devido à vacina.”

Dessas quatro pessoas, duas tiveram o diagnóstico confirmado por testes laboratoriais. O vírus vacinal foi encontrado em suas vísceras. As outras duas por ora estão classificadas como prováveis, como recomendam as diretrizes do Centers for Diseases Prevention and Control, o CDC, de Atlanta, nos EUA, e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Nelas, o vírus vacinal não foi detectado nos exames já feitos, porém o quadro clínico de ambas sugere fortemente ser um evento adverso à vacina. A epidemiologista Carla Domingues, coordenadora geral de Doenças Transmissíveis da SVS/MS, afirma: “Pode ser que até o final da investigação talvez um dos dois casos prováveis passe a figurar como confirmado. De qualquer forma, provavelmente relacionados à vacina já estão”.

Os dois casos confirmados:

* Senhora de 79 anos, que, em fevereiro, o Viomundo divulgou a confirmação do diagnóstico com exclusividade. Ela residia na capital, não pretendia viajar para área de risco da doença, portanto nunca deveria ter-se vacinado. Ela teve doença viscerotrópica: as suas vísceras, principalmente o fígado, foram afetadas pelo vírus da vacina. A pessoa apresenta moléstia semelhante à febre amarela: febre, icterícia (pele e olhos ficaram amarelados), insuficiência renal e cardíaca, manchas vermelhas no corpo, hemorragias, entre outras manifestações.

* Senhor de 81 anos, morador de Sorocaba, interior de São Paulo. Ele vacinou-se, porque viajaria para Goiás, área de risco de febre amarela. Também teve doença viscerotrópica.

Os dois prováveis:

* Enfermeira de 43 anos, que residia na capital paulista, não pretendia viajar para áreas de risco de febre amarela silvestre e ainda tinha duas contra-indicações à vacinação: sofria de lupus eritematoso (doença que afeta o sistema imunológico) e tomava corticosteróides continuamente. Ela provavelmente teve doença viscerotrópica.

* Menina de 11 anos, que residia no estado do Amazonas, área de risco para a febre amarela. Portanto, precisava vacinar-se. Provavelmente teve doença neurológica: o vírus da vacina afetou o sistema nervoso central (cérebro), produzindo complicações neurológicas graves.

Ou seja, a senhora de 79 anos e provavelmente a enfermeira de 43 anos tiveram as vidas ceifadas pela “epidemia” midiática de febre amarela.

Detalhe: no Brasil, de 2000 a novembro de 2007, havia um total de quatro óbitos associados à vacina da febre amarela. Em apenas um ano – 2008! -- tivemos mais quatro. Dois por conta da mídia, que, sozinha e em curtíssimo espaço de tempo, conseguiu a “proeza” de ser a responsável por 25% de todas as mortes por vacina de febre amarela no País.

DE 5,3 MILHÕES PARA 20,5 MILHÕES DE DOSES!

Talvez alguém divirja: “ah, essa de dizer que a mídia levou milhões a se vacinar sem necessidade é exagero...”

Mas não é. Para provar isso, criamos uma tabela que mostra a linha do tempo juntando três variáveis: doses aplicadas de vacina contra a febre amarela, casos e óbitos por febre amarela silvestre no Brasil. A fonte dos dados é a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS). Preste bem atenção.

O total de doses aplicadas saltou de 5,3 milhões, em 2007, para 20,5 milhões, em 2008. Um aumento de 387%. “Em 2007/2008, não houve qualquer expansão da área de cobertura da vacinação”, frisa a mestre em saúde pública Zouraide Guerra, responsável pela Vigilância da Febre Amarela no Ministério da Saúde. “O mapa de risco da febre amarela silvestre era o mesmo desde 2003.”

No final de 2002 e início de 2003, houve um surto de febre amarela silvestre próximo a Governador Valadares, e Serro foi o município mais atingido. É uma área que, até então, ninguém imaginava ter o vírus da febre amarela circulando. Atualmente, todo Minas Gerais, inclusive Belo Horizonte, faz parte das áreas de risco de febre amarela. Com tantas belezas naturais e regiões históricas, que mineiro resiste ficar apenas em Belo Horizonte e não fazer ecoturismo no estado? Por isso, a vacinação é recomendada em todo o estado hoje.

“Como a partir de 2003, foi implantado um sistema de informações mais aprimorado em relação aos eventos graves de febre amarela, nós podemos comparar os dados de 2003 com os de 2008”, observa o epidemiologista Eduardo Hage.

Em 2003, houve 64 casos de febre amarela silvestre e 23 óbitos; foram aplicadas 5,2 milhões de doses vacinas. Em 2008, 41 casos de febre amarela silvestre e 23 óbitos; 23 casos a menos que em 2003. Porém, foram aplicadas 15,2 milhões de doses de vacinas a mais.

“As 20,5 milhões de doses aplicadas em 2008 foram excessivas”, avalia Eduardo Hage. “São produto do pânico gerado na população por informações equivocadas divulgadas por parte da mídia, ao indicar vacinação para residentes em áreas sem risco de febre amarela e para pessoas que iriam viajar para essas mesmas áreas.”

Os efeitos colaterais da “epidemia” midiática de febre amarela só não foram mais catastróficos, porque a vacina é eficaz e segura. Considerando os quatro óbitos relacionados à imunização (dois confirmados e dois prováveis), tivemos uma morte para cada 5,1 milhões de doses aplicadas. Bem abaixo das estimativas internacionais: 1 óbito para cada 1 milhão de doses aplicadas.

“É impossível reduzir a zero o risco de qualquer medicamento ou vacina devido à suscetibilidade individual”, enfatiza Carla Domingues. “A melhor maneira de evitar as reações adversas é o uso criterioso.”


Como qualquer vacina composta de vírus vivos (mesmo que atenuados) e cultivados embriões de ovos de galinha, a da febre amarela tem contra-indicações:

* Bebês com menos de seis meses; há risco de encefalite (inflamação do cérebro).

* Pessoas alérgicas, especialmente a ovo; têm risco de reação grave.

* Pessoas com baixa imunidade devido a doenças ou ao tratamento delas. Por exemplo, câncer, transplante de órgãos ou lupus, que exigem remédios imunossupressores, como corticosteróides em altas doses.

* Gestante ou mulher que pretende engravidar; há risco teórico de o vírus da vacina atravessar a placenta e causar encefalite no feto.

Deve se vacinar quem realmente precisa:

* Pessoa que ainda não se vacinou e reside em áreas de risco. Incluem-se aqui as crianças que residam ou viajam para as áreas de risco. Atualmente, a vacina faz parte do calendário infantil de vários estados brasileiros. “Desde o final outubro, há um novo mapa de áreas de risco de febre amarela”, avisa Zouraide Guerra. “Saíram alguns municípios da Bahia e do Espírito Santo, que antes estavam na área de recomendação da vacina, e entraram 295 (233 do Paraná e 62 de São Paulo).”

A vacina contra a febre amarela protege por dez anos. Portanto, só a cada dez anos a pessoa tem que se revacinar. E apenas – insistimos -- se morar ou vai viajar para área de risco. Como o posto de saúde não pode negar a ninguém a vacina, o controle está em suas mãos.

Agora, independentemente de onde você reside ou da cidade para a qual viajará, vacine-se diariamente contra a incompetência, a irresponsabilidade e a má-fé de boa parte da mídia brasileira. A prova dessa necessidade foi o que aconteceu com a febre amarela. Em vez de ajudar a população a se proteger, a mídia atuou contra a saúde pública brasileira. Um verdadeiro crime. Tomara não fique impune nem se repita.

Do site do Azenha:POR CONCEIÇÃO LEMES, ESPECIAL PARA O VIOMUNDO.

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