sexta-feira, 7 de novembro de 2008

NASSIF: 90 DIAS DO GRAMPO SEM ÁUDIO.

O Conversa Afiada não poderia deixar de registrar os 90 dias do maior fenômeno da natureza, um grampo telefônico cuja existência se materializava na palavra escrita (da Veja).
Acompanhe abaixo o post reproduzido no blog do Luís Nassif.
Hoje completa 90 dias do aparecimento de uma provável fraude, talvez a maior já produzida pela moderna imprensa brasileira: o suposto grampo que Veja garante ter sido feito pela ABIN em uma conversa entre um Ministro do Supremo e um Senador da República.
90 dias depois, nenhuma das acusações da revista se confirmou. Nem que foi a ABIN, nem ao menos que a ABIN possuía maletas que permitissem grampo - aliás, a revista foi tão inconsequente que nem contava que a ABIN não dispunha de uma ferramenta óbvia para uma agência de inteligência.
Nesses 90 dias, a nação testemunhou a encenação escancarada de uma farsa, da qual participaram deputados, senadores, autoridades federais, autoridades do Judiciário e a mídia. A revista falava em uma verdadeira indústria de grampos, mencionava dezenas de pessoas supostamente grampeadas. Não conseguiu comprovar nem ao menos que o grampo mencionado na reportagem era real.
Futuramente, a história do jornalismo considerará esse episódio como sendo da mesma dimensão das Cartas Brandi e do Plano Cohen.

Por Jorge Furtado

Uma obra prima este trecho do depoimento do ministro Nelson Jobim à CPI dos Grampos, um perfeito exemplar de falácia argumentativa.
Cada República tem o Platão que merece.
O SR. NELSON JOBIM – Veja, deputado, há um dado importante: tanto o Ministro Gilmar Mendes quanto o senador Demóstenes confirmam o diálogo.
O DEPUTADO LAERTE BESSA – Confirmam.
O SR. NELSON JOBIM – Logo, o diálogo houve. Se o diálogo houve, e confirmado pelos próprios integrantes, houve a gravação. E, se houve a gravação, a gravação foi ilícita.
O DEPUTADO LAERTE BESSA – Foi ilícita.
O SR. NELSON JOBIM – Então, não há que se discutir mais ter havido isso.

Não é uma maravilha? Não há que se discutir.
É tudo falso, claro. Eles podem estar mentindo. Um deles. Ou os dois. Se mentiam, um dos mentirosos pode ter anotado a conversa enquanto falava. É possível que não haja gravação nenhum, portanto. Se um dos mentirosos - se mentiram - estivesse gravando sua própria conversa, a gravação não é ilícita, qualquer um pode gravar suas próprias conversas telefônicas e nem precisa dizer ao interlocutor que está fazendo isso. É uma sacanagem, talvez, mas não é crime.
Pode não haver, portanto, ilicitude alguma na gravação, se é que houve a gravação. E se houve a gravação (que não se ouve), quem gravou? Quem perdeu com o episódio? E quem ganhou?

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