Ele saiu da tumba. E apareceu onde era mais previsível, em um dos
dois únicos programas de visibilidade da TV brasileira que tratam de
política, no “Roda Viva” (TV Cultura) – que, pela natureza previsível do
que ocorre naquele programa após ser aparelhado pelo PSDB de São Paulo,
passou a ser conhecido como “Roda Morta”. O outro programa é o Canal
Livre (Band).
Vale reproduzir a introdução do programa Roda Viva da última
segunda-feira, que escolheu José Serra para comentar o momento político:
“O Brasil vive a maior onda de manifestações em duas décadas.
Milhões de pessoas saíram às ruas para protestar. Como fica o país a
partir de agora? O que a história pode nos ensinar? (…) Para falar sobre
tudo isso, o Roda Viva de hoje entrevista José Serra (…)”
Que escolha, hein! Por que foi feita? Vamos em frente tentar descobrir.
Para entrevistar Serra, o mediador Mario Sergio Conti anunciou as
presenças de Daniela Lima – novinha, bonitinha, bem como o pretenso
“galã” tucano gosta –, da Folha de São Paulo, Felipe Patury, da revista
Época, Leão Serva, autor de livros de autoajuda, Marco Antonio Villa,
historiador tucano, e Marco Aurélio Nogueira, diretor da Unesp.
A escolha de Serra para comentar o momento político tem uma
significação imensa, que seu semblante e discurso, durante o programa,
traduzem para nós.
Antes de prosseguir, relato uma experiência pessoal: tenho conversado
sobre as manifestações com muitas pessoas de todas as classes sociais
e, de fato, a maioria absoluta as apoia. E quando manifesto minha
posição de desconfiança sobre tudo isso, dizem-me que só sou contra
porque elas são “contra Dilma”.
O sentimento generalizado é o de que o governo federal e a sua
titular perdem com as manifestações porque, apesar de terem começado
tratando de temas relativos a Estados e municípios, como a tal
“mobilidade urbana” e o “preço das tarifas”, descambaram para temas
genéricos como “menos corrupção, mais saúde e educação” etc.
Além de esses temas deixarem a reclusão das esferas estaduais e
municipais, o fato de os protestos ocorrerem em nível nacional sugere
que o problema é do país.
Por fim, a irrupção dos protestos, sobretudo dos violentos, desmonta a
teoria que o governo e até a oposição e sua mídia abraçavam, de que
haveria um sentimento de bem-estar social no Brasil. E não só para nós,
mas para o mundo.
A sensação de que, ao contrário do que se dizia, há mal-estar social e
de que está ocorrendo uma reviravolta na política é, portanto, um
pesadelo para o governo Dilma e para o projeto dela de se reeleger. Mas
não acredito que seja sua morte política. Ainda…
Eis, aí, a razão da escolha de entrevistar José Serra. Para a direita
tucano-midiática, ele é o preferido. Não tem pra ninguém. Aécio era uma
tentativa do PSDB de se mostrar renovado, mas com o governo “morto” –
como a direita acredita que ocorrerá após tudo que as manifestações
desencadearam e irão desencadear -, o nome da direita será Serra.
A imagem no alto deste texto é de charge de Paulo Caruso feita
durante o programa. Ilustra bem o sentimento sobre o momento político. E
mais: sugere que foi Serra quem virou o “bonde” petista, o que faz
pensar por que está sendo atribuído a ele o feito de “zerar o jogo” para
a sucessão presidencial. Estaria por trás das manifestações? Seria
isso?
Não posso dizer que concordo com Serra que o jogo foi “zerado” para
Dilma e seu adversário tucano por conta das manifestações, mas não posso
negar que ele e a sua claque no Roda Viva de segunda-feira última
estavam soltando rojões. De fato, a direita tucano-midiática parece
estar convencida de que agora, vai.
Todavia, você, simpatizante ou militante do PSDB que concorda com a
tucanada em que as manifestações vão eleger um deles – de preferência,
Serra –, devo lembrar que, pelo menos até a semana passada, as
manifestações eram de classe média, não apenas pelo que transpareceram a
quem foi a alguma delas, mas pelas pesquisas do perfil dos
manifestantes.
Ora, será que essa massa que foi às ruas representa mesmo o conjunto
da sociedade ou é o esgar de uma classe social que perdeu o privilégios
nas políticas públicas, como bem nota Serra na entrevista quando lembra
que a grande criação de empregos no Brasil tem sido para os mais pobres?
Em minha opinião, Serra está cantando vitória antes do tempo.
Confira, abaixo, a (precipitada) comemoração tucana no último Roda Viva.
http://www.blogdacidadania.com.br/2013/06/convite-a-serra-pra-soltar-rojao-no-roda-morta-diz-tudo/
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