Nem é preciso ser nenhum grande futurólogo ou cientista político para
prever o que iria acontecer, depois que o povo saiu às ruas para
protestar contra o aumento das tarifas do transporte coletivo, o estopim
das manifestações que quase paralisaram São Paulo por duas semanas e se
espalharam por todo o país. O povo demora a sair às ruas, mas, uma vez
arrombadas as porteiras da inércia, o que o faria voltar para casa? As
principais cidades brasileiras já baixaram as tarifas, mas o povo
continua e permanecerá nas ruas, como previ no final da coluna do Balaio
de quarta-feira.
Só para lembrar:
"Agora, mesmo que o prefeito Fernando Haddad, depois de refletir mais
um pouco e refazer as contas em seu gabinete, que quase foi invadido na
noite de terça-feira, decida voltar atrás e cortar o aumento de 20
centavos nas passagens de ônibus, o que vai acontecer? Vai todo mundo
recolher seus cartazes, faixas e bandeiras, voltar placidamente para
casa e devolver as ruas para quem nelas precisa circular? Motivos ou
pretextos certamente não faltarão para novas manifestações contra tudo e
contra todos".
Não deu outra. Logo após o anúncio da volta do preço das passagens em
São Paulo para R$ 3 reais, os organizadores das manifestações
anunciaram novo protesto para esta quinta-feira, na mesma avenida
Paulista de sempre _ agora, em defesa do passe livre e também das
reformas agrária e urbana, além de combater os latifúndios urbanos, seja
lá do que se trata.
Editorialistas e colunistas da grande imprensa, por sua
vez, apresentam uma extensa lista de sugestões de pauta para os
protestos, todas elas destinadas a desgastar o governo federal, é claro.
Em todo o país, estão sendo programadas manifestações para hoje,
prevendo levar mais de 1 milhão de pessoas às ruas, em mais de 100
cidades brasileiras. Como é inviável o transporte público gratuito para
todos, sem aumento de impostos ou corte de investimentos em outras áreas
sociais, que prejudicariam a todos os cidadãos das grandes cidades,
principalmente os mais pobres, pode-se concluir que os manifestantes não
têm hora nem dia para deixar as ruas.
A começar pelo governo federal e passando por todas as instâncias de
poder, parece todo mundo perdido. Ninguém consegue entender o que está
acontecendo e muito menos explicar o que pretende fazer para que um dia,
quem sabe, os manifestantes não tenham mais motivos para protestar nas
ruas. Para que isso aconteça, seria preciso que os governantes em todos
os níveis saiam dos seus palácios para ouvir as demandas da população
antes que elas se transformem em bandeiras de novas manifestações.
Este abismo hoje existente entre eleitos e eleitores está, a meu ver,
na raiz do descontentamento generalizado que grassa no mundo virtual e
transborda para as ruas.
Em tempo:
Antes que crescesse a onda de protestos e as novas pesquisas
Datafolha e Ibope mostrassem a queda de oito pontos na popularidade da
presidente Dilma, escrevi aqui mesmo no Balaio, no dia 13 de junho, um
post com este título: "A solidão é o maior problema do governo Dilma". Mas parece que ninguém do governo leu...
http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/2013/06/20/tarifas-baixam-mas-protestos-continuam-nas-ruas/
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