domingo, 23 de junho de 2013

Editorial do Globo: isso foi longe demais


Quando o MPL falou em “reforma”, a Globo vazou. O plano era derrubar a Dilma sem perder os dedos

Como lembra o amigo navegante Marcos, um dos momentos sublimes da liberdade de imprensa dos donos da imprensa no Brasil foi o editorial do Globo, no dia seguinte à intervenção militar em 1964: http://acertodecontas.blog.br/politica/editorial-do-jornal-o-globo-de-2-de-abril-de-1964-celebrando-o-golpe-militar/.

O título é uma obra prima da desfaçatez: “Ressurge a Democracia”.

Neste sábado de junho de 2013, depois do pronunciamento da Presidenta em rede nacional de  televisão – que ela deveria usar muito, muito mais, bem dentro do jornal nacional – o editorial do Globo é outro momento sublime do medo que cerca a Big House, quando vê povo nas ruas.

O PT não tem medo das ruas.

A Globo precisou encapuzar os microfones, depois de embolsar o movimento apartidário do passe livre.

Desde cedo nas manifestações, a Globo assumiu o protagonismo: 40′ de Golpe na veia.

E assim foi ao longo de toda a semana de manifestações.

Na quinta-feira, DEPOIS da redução das passagens, o William Bonner comandou  uma edição extra do jornal nacional, de três horas consecutivas – sim, porque as manifestações apartidárias chegam a tempo do horário nobre da Globo – que foi como “derrubar a grade”  e invadir o Palácio no Inverno.

Quando o PT e a CUT foram às ruas, a batata da Big House começou a assar.

A CUT foi para a companhia dos jovens apartidários e defendeu o marco regulatório da comunicação – aqui chamado de Ley de Meios -, os royalties do petróleo para a educação, e a reforma partidária com financiamento público e voto em lista.

Ai, a Big House sentiu o calor na nuca.

Ontem, sexta, ficou claro que o Golpe tinha saído do controle da própria Globo.

Ela achou que iria dar o Golpe mediático de 48 horas que derrubou o Chávez, provisoriamente.

Mas, aí, a coisa engrossou.

O vandalismo tomou conta do pedaço.

Com a ininterrupta e conivente cobertura da Globo, que esculhamba e Copa e com ela fatura.

A Globo já tinha conseguido atingir o prefeito petista de São Paulo.

A Globo já tinha atingido a Presidenta.

Se não deu para dar o Golpe agora, pelo menos tirou uma lasca do poder.

Já está no lucro.

E antes que os manifestantes cheguem ao coração sistema global, nada como um editorial indignado, construtivo e constitucional, como o de hoje: “ultrapassou os limites”, na pág 26 da edição nacional.

Um primor.

(Embora os redatores de 1964 fossem melhores…)

Limites legais e políticos foram ultrapassados,” diz o editorial apartidário.

Claro que foram.

Onde já se viu uma empresa privada que, sob concessão, explora o espectro eletromagnético incentivar, glamorizar, dar espaço e palanque ao Golpe ?

Violência pura, sem qualquer relação com a maioria absoluta dos manifestantes”.

Era essa a lenga-lenga dos âncoras da Globo: o movimento é uma gracinha, são jovens indignados contra “o que está aí”- ou seja, o Governo do PT – , apartidário, horizontal, pacifico – agora os vândalos, a irresponsabilidade política, isso é uma minoria que não toleramos !

Todos à rua, conclamava a cobertura ininterrupta, editorializada – “já chegaram à ponte Rio-Niterói ?”, “lá no fim da Presidente Vargas fica o Maracanã”.

Pintem os canecos.

Que a gente condena os vândalos e livra a cara de vocês.

…a existência de uma agenda ultrarradical para além do passe livre, como a proposta de uma ‘reforma urbana’, fachada de um programa lunática…” – protestou o editorial apartidário.

Aí, a coisa começou a assustar a Big House.

A jovem apartidária do MPL que propôs a “reforma urbana” propôs, na mesma entrevista, a “reforma agrária”.

Aí, não dá !

Aí, “ultrapassou os limites” !

Onde já se viu ?

Enquanto é para derrubar a Dilma, tudo jóia.

Na hora de derrubar meus interesses, aí, não, “não ultrapassar os limites “ é um  imperativo !

Ou seja, quando movimento apartidário começa a entrar numa agenda partidária, genuinamente política, e, portanto, responsável, aí pau no PT, no PC do B, no MST, como fizeram os “apartidários” na Avenida paulista, com o ódio à Dilma e ao Lula, que o Azenha e o Igor testemunharam, perplexos.

Algo que se aproxima da perniciosa ‘democracia direta’ chavista” … “subordinada a um Executivo cesarista”…

Quando a pauta deixa de ser apartidária, apolítica, é perigoso, é “democracia nas ruas”.

“Democracia nas ruas” só interessa à Globo enquanto foi para derrubar a Dilma.

Se os meninos do MPL se engraçarem em temas mais profundos, como uma Ley de Medios, aí, não, aí, eles terão a cobertura que tiveram durante as gestões Maluf, Pitta, Cerra e Kassab.

Ou seja, serão relegados à mais completa insignificância.

A validade do Passe Livre é o Golpe conta Dilma.

Se ameaçarem entrar na Big House … aí não !

Porque para a Globo, essas manifestações ingênuas, espontâneas, maio de 68, começam a ameaçar a Big House e, por definição, já acabaram:

“As ruas são apenas parte dos processos de mobilização política. Uma etapa que se esgota, como a atual se esgotou”, conclui o editorial apartidário.

Viu, quem mandou falar em reforma ?

jn, Bonner…  never more, MPL !


http://www.conversaafiada.com.br/pig/2013/06/23/editorial-do-globo-isso-foi-longe-demais/

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