O senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) usou o cargo para negociar um projeto de R$ 8 milhões em favor da Delta Construções, apontam gravações telefônicas e relatório do Ministério Público Federal
De acordo com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, há evidências de que Demóstenes atuava como "sócio oculto" da Delta, empresa que desde 2007 é a que mais recebe recursos do governo federal, principalmente por obras do Programa de Aceleração do Crescimento.
O procurador-geral se baseia principalmente em gravação em que o senador indica condicionar o envio de recursos para uma obra em Anápolis (GO) à escolha da Delta para tocar o projeto.
O negocio se daria por intermédio do empresário Carlinhos Cachoeira, que teria relações com a empresa e que está preso desde fevereiro sob acusação de comandar esquema de jogo ilegal.
No documento em que pediu ao Supremo Tribunal Federal autorização para investigar Demóstenes, Gurgel afirma haver fatos de "especial gravidade" que evidenciam "que o senador também dispunha da sua atividade parlamentar em proveito da empresa de que seria sócio oculto".
PARQUE ECOLÓGICO
A Polícia Federal gravou a conversa telefônica entre Demóstenes e Cachoeira em 9 de julho de 2011.
No diálogo, o senador relatou o encontro que acabara de ter com o prefeito de Anápolis (GO), Antônio Gomide (PT), que lhe pediu ajuda para construir um parque ecológico, orçado em R$ 8 milhões.
Como senador, Demóstenes tem direito a direcionar verbas para esse tipo de obra por meio de emendas ao Orçamento federal.
No telefonema, o senador relata que teria dito ao prefeito ser possível enviar a verba para a cidade, mas que era para ele dar "preferência" ao grupo de Cachoeira.
"Ele falou que topava. Aí você vê se vale a pena ou não", diz Demóstenes a Cachoeira na conversa gravada pela PF.
Um dia depois, o empresário liga para Cláudio Abreu, então diretor da Delta no Centro-Oeste, para relatar que Demóstenes falou com o prefeito.
No relatório, Gurgel interpreta que Demóstenes "condicionou a obtenção dos recursos à contratação da Delta". Segundo investigadores, o termo "sócio oculto" se refere à suspeita de que Demóstenes articulou contratos em troca de receber dinheiro.
Por isso, o STF autorizou a quebra do sigilo bancário do senador.
"O exame das movimentações bancárias dos envolvidos permitirá juízo de convicção sobre a origem do dinheiro e o seu eventual destino ao parlamentar", diz o documento.
A investigação da Operação Monte Carlo da Polícia Federal aponta que Cachoeira comandava os negócios da Delta no Centro-Oeste ao lado de Cláudio Abreu.
A gravação transcrita no relatório do procurador-geral da República representa a primeira ligação entre o senador e a empreiteira.
Na Folha
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