Todos têm direito a ter qualquer opinião sobre qualquer coisa. E se o
que pensamos sobre qualquer assunto não for injurioso, difamatório,
calunioso ou preconceituoso contra pessoas ou instituições, temos o
direito de difundir publicamente. Só não temos o direito de apresentar
nossas convicções como fatos. Fazer isso é trapaça, pura e simplesmente.
Este Blog, por exemplo, julga que difundir um boato sobre extinção do
Bolsa Família não poderia interessar ao governo federal, mas
interessaria à oposição. E pensa, também, que a antecipação do pagamento
do benefício pela Caixa Econômica Federal não poderia fazer os
beneficiários concluírem, autonomamente, que isso significaria a
extinção do programa social.
Os beneficiários do Bolsa Família somam 13 milhões de famílias, ou
cerca de 50 milhões de pessoas. Estima-se que metade desse contingente –
pais e mães dessas famílias beneficiadas –, vota. A mera suspeita de
que o governo Dilma iria extinguir o programa por certo causaria revolta
contra si em cerca de 1/5 do eleitorado brasileiro.
A oposição, no entanto, teria muito a ganhar caso fosse instilada tal
dúvida nesse expressivo naco do eleitorado. Se cerca de 25 milhões de
pessoas se indispusessem de forma tão veemente contra o governo,
desapareceria, do dia para a noite, a vantagem que elegeu Dilma Rousseff
em 2010.
Por fim, a teoria ventilada por setores da oposição e da grande mídia
de que o governo espalharia o boato para depois desmenti-lo e de que,
assim, mostraria aos beneficiários a importância do benefício que lhes
paga, é ainda mais inverossímil. Por que o governo julgaria que os
beneficiários do programa não valorizam sua importância?
A possibilidade de o governo ter sido o autor do boato cai por terra diante de matéria do portal UOL divulgada na semana passada
que mostrou que mesmo após os veementes desmentidos do governo algumas
famílias entrevistadas afirmaram que ainda não acreditavam que o
programa Bolsa Família não iria acabar.
Sejamos francos: dizer que o governo levantaria dúvidas sobre a
continuidade do programa apesar de ser facilmente imaginável que pessoas
tão humildes, como mostra a matéria supracitada, poderiam demorar a
acreditar que não é verdade que o benefício seria extinto, é uma literal
sandice.
Resta, então, a teoria de que a antecipação do dia de pagamento do
benefício pela Caixa fez os beneficiários concluírem, por si sós, que
isso significaria que o Bolsa Família iria acabar.
A teoria que se tornou consenso em toda a grande imprensa brasileira e
que a oposição já trata como fato inquestionável afirma que, em 24
horas, alguns beneficiários que conseguiram sacar o dinheiro antes foram
capazes de espalhar por 12 ou 13 Estados – mas não em todos os 26
Estados brasileiros – que o programa social seria extinto.
A teoria de que a culpa pelo pânico é da antecipação do pagamento do
Bolsa Família tampouco se dá ao trabalho de explicar por que, se essa
antecipação ocorreu nos 26 Estados brasileiros e no Distrito Federal, só
em 12 ou 13 Estados ocorreu o pânico. E por que só houve pânico nos
Estados do Norte e do Nordeste e na Baixada Fluminense.
Essas dúvidas são mais do que suficientes para obrigar qualquer
analista sério a no mínimo não tratar essa versão como fato. Ou seja:
quem está tratando essa suposição sobre o pânico dessas famílias como
fato está tentando enganar a sociedade, está mentindo.
A conduta esperável de um grande meio de comunicação ou de um
jornalista de renome ou de um líder político de expressão é a de
aguardar a conclusão da investigação do ocorrido pela Polícia Federal,
conclusão que, inclusive, poderá ser posta em dúvida se não vier
revestida de provas inquestionáveis. Mas só após ser conhecida.
Contudo, a seriedade obriga a reconhecer que pessoas que têm posições
que as obrigam a ter responsabilidade no tratamento de um caso assim e
que não poderiam se antecipar e difundir conclusões como verdades
absolutas, infelizmente não estão só na oposição e na mídia
oposicionista.
Apesar de estarem se tornando incontáveis os jornalistas de grandes
meios de comunicação e os políticos de oposição que estão difundindo
como fato inquestionável a versão sobre a culpa pelo pânico ser da
Caixa, a ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Maria do
Rosário, foi a primeira a se aventurar em difundir conclusões
precipitadas, acusando a oposição.
Um blogueiro ou um colunista de um grande jornal até podem expor suas
opiniões no sentido de que possa ter ocorrido isso ou aquilo, mas
políticos da oposição e autoridades do governo, nunca. Têm obrigação de,
no mínimo, esperar o fim da investigação da Polícia Federal.
O principal pré-candidato de oposição a presidente da República, o
senador tucano Aécio Neves, e a ministra Maria do Rosário, por exemplo,
agiram muito mal. Contudo, a ministra deu apenas UMA declaração pelo
Twitter e, inclusive, recuou da declaração. Errou? Sim, errou. Agora, o
que Aécio Neves está fazendo é vergonhoso.
Aécio está culpando pessoalmente sua provável adversária na eleição
do ano que vem e exortando-a a “pedir desculpas” pelo que ainda ninguém
sabe se de fato aconteceu. Ele está sendo incrivelmente irresponsável.
Está fazendo politicagem, não pode fazer as afirmações que está fazendo.
Está mentindo.
Quanto à “grande imprensa”, se alguém, algum dia, chegou a duvidar de
que é partidária da oposição – ainda que ouse se dizer “isenta” –, não
pode ter mais dúvidas. Esse bando de jornalistas que está afirmando que a
antecipação do pagamento do benefício pela Caixa foi a causa do pânico
daquela população sofrida, não passa de um bando de picaretas.
http://www.blogdacidadania.com.br/2013/05/caso-bolsa-familia-desvendado-parem-a-investigacao-da-pf/
Nenhum comentário:
Postar um comentário