A divulgação na última segunda-feira do Índice de Desenvolvimento
Humano dos Municípios (IDHM) gerou um previsível proselitismo político
da grande mídia em relação a uma pequena diferença no desempenho dos
indicadores do estudo em favor do decênio em que o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso governou em maior parte.
A Folha de São Paulo, por exemplo, destaca que o IDHM subiu 24,14%
(de 0,493 para 0,612) entre 1991 e 2000 (década em que FHC governou por 6
anos), enquanto que subiu 18,79% (de 0,612 para 0,727) de 2000 a 2010
(década em que FHC governou por 2 anos e Lula, por 8 anos).
Abaixo, um quadro que mostra em que áreas de estudo do IDHM o governo
FHC teve melhor desempenho. O gráfico deixa claro que a política de
“universalização da educação” no governo FHC foi responsável pela
melhora um pouco maior na década retrasada nesse índice específico da
ONU. Àquela época, houve um grande esforço para “colocar todas as
crianças e adolescentes na escola”
—–
O intuito da Folha, é óbvio, foi o de desmontar a teoria de que a era Lula foi superior à era FHC no “social”.
Infelizmente, o IDHM é um índice apurado a cada 10 anos e, assim, não
existe disponibilidade ano a ano de sua evolução. Se existisse, ficaria
claro que a década “de Lula” foi prejudicada pelos 3 anos finais do
governo FHC (2000, 2001 e 2002), quando o país mergulhou em uma
gravíssima crise econômica que teve início em 1998 e que piorou todos os
indicadores até o primeiro ano do governo Lula (2003), a partir do qual
o Brasil começou a melhorar socialmente.
Assim como o desemprego e a inflação dispararam entre 1999 e 2002 (o
segundo mandato de FHC), pode-se supor que os dados apurados pelo PNUD,
pelo IBGE e pelo IPEA para compor o IDHM também devem ter sofrido com a
situação vigente naqueles quatro anos.
Seja como for, para esclarecer melhor essa pequena diferença em favor
do período FHC no âmbito do IDHM, o Blog da Cidadania, mais uma vez,
recorreu ao doutor Marcio Pochmann, que foi presidente do IPEA entre
2007 e 2012 e que, semana passada, concedeu-lhe uma entrevista.
Abaixo, a visão de Pochmann sobre o resultado do estudo
recém-divulgado e, em seguida, um dado impressionante que o Blog apurou
sobre a distribuição de renda no Brasil nos governos Lula e FHC.
—–
“O índice de desenvolvimento Humano das Nações Unidas foi
criado em uma época em que a dominação neoliberal era bastante grande
no mundo. Hoje estamos vivendo um quadro de questionamento do que foi o
neoliberalismo e os resultados sociais e econômicos que deixou.
O IDHM é simplista e se fundamenta em três informações:
renda per capita, expectativa de vida e escolaridade. Esses três
indicadores, de maneira geral, têm quase uma progressão natural porque é
difícil um país não abrir escolas, não crescer minimamente a sua
economia e é difícil não haver ganhos na saúde, que resulta em mais
expectativa de vida.
No meu entender, esse índice deveria ser melhor
aprofundado, com dados tão importantes quanto expectativa de vida,
educação e escolaridade. Haveria que incluir indicadores de maior
qualidade. Da forma que é feito, não permite uma visão mais complexa e
aprofundada dos países.
Da forma como é feito esse estudo, é como medir a
temperatura de dois braços, estando um no congelador e o outro no forno.
Somam-se as temperaturas de ambos os grupos (mais pobres e mais ricos) e
se tira a média, o que produz um resultado distorcido”.
—–
Com base na explicação do doutor Pochmann, o Blog foi verificar outro
indicador que explica melhor o que aconteceu no Brasil durante os
governos Lula e FHC em termos, por exemplo, de distribuição de renda e o
resultado foi impressionante.
O gráfico abaixo foi extraído da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) 2011.
Ilustra os níveis de concentração de renda no Brasil de 1995 a 2002
(governo FHC) e de 2003 a 2011 (governo Lula), apurados pelo Índice de Gini.
O que se nota, através do gráfico acima, é que, enquanto entre 1995 e
2002 (8 anos) a concentração de renda no Brasil caiu 1,89%, de 2003 a
2011 (9 anos) a queda foi de 9,22%. Ou seja: o gráfico mostra uma queda
da desigualdade durante a era FHC que foi quase que inercial, enquanto
que durante a era Lula-Dilma foi uma política de Estado.
Se o IDH juntasse a concentração de renda e a redução da pobreza aos
três dados “simplistas”, por certo haveria como comparar os governos
Lula e FHC no que tange ao social. Usar para esse fim somente três
indicadores que são afetados pelo transcurso do tempo e pelo
desenvolvimento que experimenta qualquer país, é vigarice.
http://www.blogdacidadania.com.br/2013/07/desigualdade-caiu-189-com-fhc-e-918-com-lula/
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