Quando explodiu o escândalo do mensalão, em 2005, o PT e alguns
poucos partidos aliados mergulharam em uma verdadeira hibernação. Eu
mesmo brincava, àquela época, dizendo que os petistas e simpatizantes
estavam todos escondidos debaixo da cama, pois o Partido dos
Trabalhadores havia se tornado maldito, um símbolo de “corrupção”.
A avalanche midiática criminalizando o governo Lula e um partido
inteiro – que, então, já tinha mais de um milhão de filiados –
estabelecera um fenômeno: ninguém – nem os próprios petistas – tinha
coragem de se contrapor à corrente opinativa forjada pelos grandes meios
de comunicação.
Pensar diferente, então, tornara-se praticamente um crime – o cidadão
acabava sendo acusado de “cumplicidade” com os “corruptos” petistas.
Este blogueiro, por exemplo, àquela época era colaborador frequente
de colunas de leitores dos maiores jornais do país. Foi a forma que,
desde uma década antes – em meados dos anos 1990 –, encontrara para
participar do debate público.
Porém, quando explodiu o escândalo, nadar contra a corrente e
escrever àqueles veículos criticando o linchamento de todo um partido me
rendeu ser banido dos espaços em que podia dar a minha opinião. Eu, que
vivia sendo convidado pela Folha e por outros jornais para seus
eventos, de repente, do dia para a noite, “desapareci”.
Eu padecia de uma “doença” opinativa que costuma ser chamada nos
meios jornalísticos de “opinião impublicável”. Ou seja: aquela opinião
que discorda do que parece ser “consenso” de uma esmagadora maioria e
que ninguém quer reproduzir com medo de ser acusado de “conivente”.
A força da “maioria” opinativa era tão avassaladora, à época em que
estourou o escândalo do mensalão – no terceiro ano do primeiro governo
Lula, assim como estamos no terceiro ano do primeiro governo Dilma –,
que havia uma certeza praticamente inabalável: o então presidente da
República “sangraria” até a eleição de 2006 e, ali, seria fragorosamente
derrotado.
Qualquer semelhança com a situação política de hoje em relação a Dilma Rousseff, não é mera coincidência.
A semelhança entre o passado e o presente se dá até na época de 2005
em que eclodiu o escândalo do mensalão. A entrevista demolidora de
Roberto Jefferson à jornalista da Folha de São Paulo Renata Lo Prete
denunciando o escândalo foi publicada em 6 de junho e foi nesse mesmo
dia e mês que eclodiu a primeira grande manifestação do Movimento Passe
Livre, que marcaria a derrocada de Dilma nas pesquisas, assim como a
denúncia de Jefferson marcou a perda de popularidade temporária de Lula
no segundo semestre daquele ano.
Até o fim de 2005, Lula era dado como um zumbi político. A cada
pesquisa de opinião sua popularidade caía mais um pouco, chegando a
dezembro daquele ano – a menos de um ano da eleição presidencial de 2006
-, segundo o Datafolha, com apenas 31% de bom é ótimo, coincidentemente o mesmo índice que Dilma tem hoje.
A precipitação dos que, nesta mesma época do ano, há oito anos,
comemoraram antecipadamente a destruição política de Lula e do PT, pouco
mais de um ano depois resultou na capa da Folha que você vê no topo
deste texto, publicada naquela segunda-feira, 30 de outubro de 2006,
quando ele obteve 60% dos votos válidos.
Nunca me arrependi de me manter fiel aos meus princípios. No ano
seguinte ao da eleição presidencial, o blog que criei lá em 2005 para
dizer o que ninguém dizia, já que os petistas estava escondidos debaixo
da cama, fez com que jamais me arrependesse ao contrariar as “maiorias”.
Em setembro de 2007, a partir de post em que considerei inaceitável a
aceitação pelo STF do indiciamento de José Dirceu no escândalo do
mensalão sob pressão da mídia – conforme conversa do ministro Ricardo
Lewandowski captada por uma repórter da Folha –, através deste Blog
convoquei o primeiro ato público contra um grande meio de comunicação
após o retorno da democracia, conforme mostra matéria publicada no Terra
Magazine que você pode ler aqui.
A partir daquele ato público, junto a leitores desta página fundei o
Movimento dos Sem Mídia, que, nos anos seguintes, produziria as
primeiras ações de cidadãos comuns e sem partido ou interesses
particulares em prol da democratização da comunicação e contra os abusos
midiáticos.
No primeiro semestre de 2008, o Movimento dos Sem Mídia ajuizaria
representação no Ministério Público Federal contra alarmismo midiático
em torno de uma suposta epidemia de febre amarela que haveria no Brasil,
amplificada pela mídia. Entrevista que dei à época ao portal Vermelho
explicando o caso pode ser lida aqui.
Em 2009, o mesmo Movimento dos Sem Mídia, a partir de convocação
feita neste Blog, reuniu, segundo a polícia militar, cerca de 300
pessoas diante da Folha de São Paulo para protestar contra afirmação do
jornal de que a ditadura militar brasileira fora uma “ditabranda” por
ter “matado pouca gente”. A informação consta no verbete da Folha na
Wikipedia, aqui.
Em 2010, durante a eleição presidencial, o Movimento dos Sem Mídia
conseguiria fazer sumir polêmica entre os quatro maiores institutos de
pesquisa do país, que se dividiam – dois para cada lado – sobre as
posições de Dilma Rousseff e José Serra nas pesquisas. Representação
junto à Procuradoria Geral Eleitoral fez a titular do órgão determinar
abertura de inquérito na Polícia Federal e, a partir dali, uma semana
depois as pesquisas todas convergiram para os mesmos números. Matéria do
portal IG sobre o caso pode ser lida aqui.
Estes são só alguns exemplos de ações do MSM entre 2007 e hoje.
Atualmente, manifestações contra meios de comunicação se tornaram
comuns. Há, inclusive, ações sendo ajuizadas contra eles no Ministério
Público. As pessoas comuns estão se mexendo, agindo sem esperar que
alguém faça alguma coisa em seu lugar.
Um dos objetivos desta página, ao ser criada lá em 2005, era
justamente esse: estimular os cidadãos comuns a se mexerem, a não
ficarem só reclamando. Daí a razão de este Blog ter sido intitulado como
Blog da Cidadania, pois nos últimos cerca de oito anos a tônica do que
se fez aqui foi estimular as pessoas a fazerem o que hoje estão fazendo.
Em 2005/2006, a internet não era nem sombra do que é hoje e quem
discordava da Onda de consenso compulsório estava escondido debaixo da
cama. Assim mesmo, a destruição política artificial de um partido
inteiro não foi possível. Esteja certo, leitor, de que hoje será bem
mais fácil impedir que mistificações do mesmo jaez obtenham sucesso.
http://www.blogdacidadania.com.br/2013/07/pt-revive-hoje-2005-quando-sua-primeira-morte-foi-decretada/
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