Alguns dirão que é jogo de cena, que toda vez que a grande mídia noticia
alguma coisa desfavorável ao PSDB é porque, em seguida, virá bomba
contra o PT. Essa, porém, seria uma explicação fácil para um grande
noticiário que é preciso ter uma dose extra de má vontade para afirmar
que tem poupado o tucanato paulista no âmbito do rumoroso “trensalão”.
Vá lá que não estejam existindo aquelas críticas furiosas e profusas
que tonitruam sobre as nossas cabeças quando a acusação envolve petistas
ou aliados tidos como mais fieis – ou algo próximo disso.
Porém, o que até a Globo vem divulgando sobre os escândalos
Siemens-Alstom deixa o PSDB paulista em uma situação em que não há memória
de ter sido igual ao menos no século XXI. Só para se ter uma ideia,
denúncia do sindicato dos metroviários feita ao Cade na última
terça-feira fora conhecida dias antes pelos telejornais.
O SBT, por exemplo, exibiu várias matérias mostrando que o Estado de
São Paulo, ainda no governo Mario Covas, gastou R$ 1,7 bilhão com a
modernização de 98 trens de metrô e que com um pouco mais seria possível
comprar trens novos.
Segundo matéria publicada há vários dias pela tevê do Sílvio Santos, “O
custo de reforma dos trens velhos foi de 85,7% do preço de um saído da
fábrica e a base de comparação é outro contrato assinado no ano passado,
em que um trem novo saiu por R$ 23,6 milhões. Já o reformado de 2009
custou, em média, R$ 17,1 milhões”.
Já a Globo, semana passada, gastou 8 minutos com denúncias menos detalhadas – e, portanto, menos comprometedoras –, mas que permitiram ao telespectador entender que há uma acusação grave contra os governos do Estado de São Paulo sob o comando do PSDB.
E não ficou só nisso. O caso foi parar até no tucanérrimo Jornal da Globo, exibido tarde da noite e, por isso, objeto das maiores, digamos assim, “licenças partidárias” da emissora.
Isso sem falar na Folha de São Paulo, que, como o resto da grande
mídia, entrou timidamente no caso mas depois se soltou e já o está
cobrindo com certo “gosto”, com manchetes em primeira página como não se
via desde o escândalo da compra de votos para a reeleição de FHC, no
século passado.
Não se descarta, porém, que, como no passado, tudo isso esteja
ocorrendo como um álibi para um ataque muito mais forte ao PT, mas essa
tese carece de lógica.
Após colocar os tucanos “no mesmo saco”, não haverá lucro político em
mostrar que o PT lhes faz companhia. Até porque, a mídia já carimbou
nos petistas tudo o que pôde em termos de corrupção, tanto justa quanto
injustamente.
Claro que ficou bem difícil esconder o “trensalão” com a internet
fervendo com o assunto, mas a mídia esconder escândalos graves do PSDB
não chega a ser novidade. Aliás, ela parece disposta a não tomar mais
furos – ou tomar menos – em um caso que só tem feito crescer.
Não se espera que, de uma hora para outra, corporações de mídia que
se notabilizaram pelo partidarismo se tornem exemplos de
profissionalismo jornalístico, que requer distanciamento ou, se
possível, algo que se pareça razoavelmente com isenção. Mas o que parece
é que, finalmente, essas corporações começam a entender que há muito
menos idiotas por ai do que imaginava.
Excesso de otimismo? Ingenuidade? Talvez não, apesar de parecer.
Essas corporações talvez não sejam tão idiotas a ponto de ainda não
terem percebido que a continuidade do tratamento do público como débil
mental se tornou inviável, sobretudo quando se vai descobrindo que ir à
rua não é um jogo que só pode ser jogado por um lado.
Em um momento em que todo mundo começou a se manifestar por um
sem-número de causas, ocultar um escândalo da magnitude desse que
envolve o PSDB pode gerar resultados imprevisíveis.
Como as vítimas do mau serviço do metrô de São Paulo contam-se aos
milhões, proteger quem essas massas vão descobrindo ser responsável por
seu sofrimento no transporte público pode atrair ira popular de um
tamanho como o que se viu em junho.
Imaginemos dezenas de milhares de pessoas diante de uma Globo dizendo
umas verdades daquele tipo que os barões da mídia não podem se dar ao
luxo de que sejam conhecidas… O prejuízo – inclusive financeiro – que
envolveria uma situação dessas seria incalculável e, talvez,
irremediável.
Se as coisas continuarem nesse rumo, portanto, logo, logo só vai
restar a Veja bradando no deserto contra um lado só da política enquanto
o outro se esbalda em corrupção e ela finge não ver. Eis porque um
desembarque midiático em peso do “Tucanic” talvez não envolva esse
tentáculo da mídia, que pode se dispor a afundar junto.
Aliás, convenhamos que não deixa de ser comovente a lealdade da Veja ao PSDB, não?
http://www.blogdacidadania.com.br/2013/08/midia-desembarca-do-tucanic/
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