segunda-feira, 2 de abril de 2012

Deputado tucano recebeu R$ 100 mil de Cachoeira. PSDB finge que não vê e a imprensa silencia




Diálogos interceptados pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, revelam que o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) também negociava com a organização comandada pelo bicheiro Carlos Alberto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O tucano, segundo as investigações, recebeu depósitos bancários e bens - inclusive imóveis - obtidos com atividades ilícitas.


Leréia é aliado do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e, a exemplo do senador Demóstenes Torres (DEM-GO), também usava um telefone da marca Nextel, habilitado nos Estados Unidos, cedido por Cachoeira para dificultar grampos nas comunicações do grupo.

Ele é um dos seis parlamentares relacionados até agora como alvos do inquérito criminal aberto no Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria-Geral da República. Stepan Nercessian (PPS-RJ), confirmou ter recebido R$ 175 mil de Cachoeira, segundo a edição de ontem do jornal Folha de S. Paulo. Ainda ontem Stepan pediu, por meio de nota, licença temporária do PPS e de todos os cargos e funções que ocupa no partido.


Entre os valores destinados ao deputado tucano e já rastreados estão um depósito de R$ 100 mil, feito na conta de uma empresa comandada supostamente por laranjas - a Linkmidia Tecnologia da Informação e Editoração Ltda - e uma sociedade com Cachoeira em terreno avaliado em R$ 800 mil, em um condomínio de luxo em Goiânia.


A empresa Linkmidia fica em Formosa (GO), a 80 quilômetros de Brasília, e está registrada em nome de Hugo Teixeira, mas pertence de fato ao pai, Leônidas Teixeira, segundo apurou a PF.
Grampos.


Em diálogo grampeado em 22 de junho de 2009, na Operação Vegas, Leréia instrui o contraventor Wladimir Garcez Henrique a depositar R$ 100 mil na conta da Linkmídia. Wladimir foi denunciado pelo Ministério Público como um dos membros do esquema de exploração de jogos ilegais comandado por Cachoeira, desmantelado em 29 de fevereiro pela Operação Monte Carlo.

O deputado, segundo a PF, tinha o hábito de conferir cada real depositado em seu favor e, dois dias depois, em novo contato com o contraventor, reclamou que o valor combinado estava incompleto.


"Eu liguei pro rapaz lá, falou que só fizeram um depósito daquele lá, entendeu? Podia verificar isso aí." Wladimir garante: "Foi feito ontem o outro... foram os dois".


Leréia aceita a resposta, mas com desconfiança: "Tá bom, então tá, um abraço, certeza, né?" E Wladimir encerra a conversa com uma ponta de vacilo: "Certeza, só se o cara tá mentindo, né? Ele não mentiria, não… Foram os dois". Horas depois, a desconfiança de Leréia se confirma num contato de Wladimir com um subalterno, Geovani.


"O Leréia ligou, você olhou aquele negócio, tá confirmado ou não tá?", indaga o chefe. "É... tá faltando... 25 que... é... segundo ele aqui vai conseguir fazer só amanhã. Então, quer dizer que foi (depositado) só 75", responde Geovani. "Fala que amanhã vai entrar os outros 25."


Nesse mesmo dia 24 de junho, em outro diálogo interceptado, Cachoeira, provavelmente acionado por Leréia, ligou para Geovani para tomar satisfações sobre os 25 mil que faltavam.


Os diálogos, aos quais o jornal O Estado teve acesso, foram travados entre 17 de junho e 3 de julho de 2009, na Operação Vegas, que antecedeu a Operação Monte Carlo, que desbaratou, em 29 de fevereiro passado, a organização criminosa chefiada por Cachoeira.

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