segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Não há Poder da República que sequer cogite enfrentar a mídia



Passei a manhã e o início da tarde de segunda-feira mergulhado em telefonemas para jornalistas e políticos de Brasília sondando as possibilidades de a CPI do Cachoeira vir a aprovar o requerimento do deputado federal petista do Paraná Doutor Rosinha para convocar o diretor da sucursal de Brasília da revista Veja, Policarpo Júnior.
Motivos para essa convocação, não faltam. Se até o último fim de semana havia ainda algum tipo de desculpa para ela não ocorrer, matéria do repórter da revista Carta Capital Leandro Fortes esgotou a questão. Escutas da Operação Vegas mostram Policarpo até encomendando escuta ilegal de um deputado federal ao bicheiro Carlos Cachoeira.
A Operação Vegas, acima da Operação Monte Carlo, contém PROVAS materiais de que havia uma relação de cumplicidade entre a revista e o bicheiro e torna obrigatória, ao menos em tese, uma ampla investigação sobre o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, por ter engavetado a investigação.
A CPI do Cachoeira e o próprio Congresso Nacional, portanto, têm TODOS os elementos para colocarem ao menos Veja e o PGR no paredão. Todavia, os políticos e jornalistas com os quais conversei consideram praticamente nula a possibilidade de alguma providência vir a ser tomada contra aquele órgão de imprensa ou contra o chefe do Ministério Público.
Em primeiro lugar porque, ao menos em relação à Veja, fui informado de que, em Brasília, até os postes de luz sabem que o principal executivo da Revista, Fabio Barbosa, e o diretor da Globo José Roberto Marinho foram ao Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, Michel Temer, e firmaram um pacto de não agressão entre a mídia e o governo Dilma.
Entre os partidos políticos, a situação não é muito diferente. Do PSOL ao DEM, passando por PT, PMDB e todo o resto, nenhum partido tem a menor intenção, enquanto agremiação partidária, de desafiar a associação midiática composta, essencialmente, por Globo, Folha, Veja e Estadão.
Se os Poderes Executivo e Legislativo não estão dispostos a tomar providências contra essa organização criminosa composta pela quadrilha de Carlos Cachoeira e Veja que salta aos olhos – e aos ouvidos – na extinta Operação Vegas, com o Judiciário não é diferente. Basta ver como foi tratado o inquérito do mensalão.
Só para não me estender demais no caso: o inquérito deveria ter sido desmembrado e não deveria, de forma alguma, ir a julgamento exatamente durante as eleições. É um escândalo. Processos similares, como o mensalão do PSDB (envolvendo o ex-presidente do partido Eduardo Azeredo), foram praticamente acobertados pelo STF. Tudo porque a mídia quis.
Alguns dirão: mas o governo Dilma vai permitir que a mídia imole a era Lula e o PT? Resposta: vai. Dilma porque, passado o circo midiático sobre o julgamento, continuará perseguindo resultados sociais e econômicos e, melhorando a vida do povo, ele esquecerá tudo. E o PT porque cederá os anéis (os acusados no inquérito) e preservará os dedos graças à curta memória popular.
Sempre segundo as fontes ouvidas, Dilma não está nem aí para Lula ou para o PT. Ela, segundo dizem, é uma burocrata que não quer se envolver em política. Persegue números positivos para seu governo na economia e no social e ponto final. Não gosta de política e só quer deixar o cargo – seja em 2014, seja em 2018 – tendo o que mostrar em termos de realizações.
O pacto de não agressão entre o governo Dilma e a mídia fará com que não seja desencadeada campanha de destruição como a que foi desfechada contra Lula, que, segundo as fontes ouvidas, só foi alvo de tal campanha porque o ex-presidente questionou o poder midiático e o desobedeceu implementando políticas públicas que desaprovou.
Todavia, do ponto de vista da administração pública não houve nada, no governo Lula, que justificasse a campanha de destruição que a mídia desfechou contra si. Pelo contrário: os mais ricos ganharam muito dinheiro.
Quem acha que pode haver alguma alternativa mais à esquerda, esqueça. O PSOL, por exemplo, mantém alguma retórica de regulação da mídia, mas é um dos maiores beneficiários de sua atuação. Apesar de sua retórica esquerdista, a mídia não o ataca e ainda lhe oferece material para atacar o PT, no qual o PSOL pretende se converter um dia.
É doloroso dizer, meus companheiros, mas está tudo dominado. De oposição verdadeira ao capitalismo selvagem brasileiro e ao seu principal sustentáculo, a mídia hegemônica, não existe nada mais do que a blogosfera, alguns movimentos sociais e alguns poucos políticos idealistas como o Doutor Rosinha. Todos, porém, sem poder.
Enquanto a América Latina vai caminhando para a esquerda, o Brasil é o último grande sustentáculo do selvagem capitalismo de inspiração ianque na região. É o país em que ele é mais poderoso sobretudo por falta de forças políticas que lhe dêem combate real, ou seja, que combatam seu braço midiático, que o sustenta.
Sim, o governo Dilma poderá conseguir avanços sociais e econômicos relevantes, mas não promoverá qualquer tipo de avanço institucional duradouro. Tudo o que conseguir poderá ser desmontado por uma gestão posterior de direita. Sei que muitos ficarão incomodados com o que eu disse neste post, mas, tragicamente, essa é a verdade.

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