A investigação mobilizou um conjunto de jornalistas experientes. A redação de Brasília não era grande o bastante para a abrangência pretendida. Tínhamos que estar representados simultaneamente no Rio Grande do Sul, no Paraná, no Rio de Janeiro, em São Paulo, no interior e no litoral do estado, em Minas, Goiás e na Capital Federal.
Produtores, repórteres e editores, entre eles, este aqui, foram à campo. Objetivo: puxar cada ponta do novelo apelidado de Mensalão. A palavra mensalão tinha não apenas o poder de síntese, mas um apelo popular magnífico. Nossa tarefa era provar a existência da suposta ação sistemática do Governo para comprar votos no parlamento.
Naquele tempo corriam em paralelo várias CPIs. A sensação, para os que viam o país a partir dos noticiários, era a de que o Brasil tinha parado. Uma delas até foi apelidada de "Fim do Mundo". Que ilusão a nossa... O Brasil seguia seu curso, silenciosamente, distribuindo renda e minorando a dor dos excluídos, bem longe das capitais e do centro-sul. Basta levantar dados comércio no Natal de 2005.
Ao cruzar tantas informações sobre banco de sangue, ambulâncias, genéricos, loterias, seguros e resseguros, conselhos administrativos de estatais, verbas publicitárias, correios, sistema bancário "alternativo", caixas paralelos de campanha e embate político, chegamos à conclusão de que, apesar da corrupção disseminada, não era possível diferenciar réu, vítima e algoz.
Todos, repito, todos faziam parte da mesma lógica. Não havia um só partido político, à exceção dos nanicos, que não tivesse "as mãos sujas". Numa das sessões, por exemplo, o então deputado Roberto Jefferson, atacado pela senadora Heloísa Helena, respondeu: vossa excelência pode até não ter participado, ainda. Quando disputar uma campanha majoritária isso vai acontecer...
Ao descobrirmos (em 2005!) via Marcos Valério, que a lógica era a mesma desde a campanha de 1998, em Minas, levamos ao conhecimento de nossa chefia de que tratava-se de uma cultura política, um "modus operandi" disseminado pelo Brasil afora, indiscriminadamente...
Responderam-nos que não haveria censura. Era para investigarmos a todos, indistintamente. Se houvesse indícios fortes o bastante as reportagens iriam ao ar. Que ingenuidade a nossa... Produzíamos reportagens contextualizando e elas eram cortadas. Demonstrávamos a lógica, mas o que se referia aos partidos "amigos", tudo era arquivado.
Eventualmente, uma ou outra história era exibida num dos telejornais de menor alcance. Como havia um bombardeio de novas informações a cada dia, parte do material ficava à deriva na programação.
O escândalo do mensalão, agora em letra minúscula, foi o escândalo da partidarização explícita da imprensa. Nunca ficou tão claro para nós onde queriam chegar e do que eram capazes os inimigos ferozes de Lula, Zé Dirceu e Palocci.
O mal estar foi até as eleições de 2006, quando a imprensa em coro tentou eleger seu candidato sem escrúpulos. Inventaram pesquisas de opinião, tramaram dossiês, omitiram, quebraram sigilo dos adversários, intimidaram e perseguiram. Sobre tudo isso fui testemunha ocular e posso garantir: foi o maior escândalo midiático da história do país.
Ou vocês acham que, se tudo tivesse corrido na base da legalidade e do bom jornalismo teríamos nomes como Carlos Dorneles, Luiz Carlos Azenha, Luiz Malavolta, Rodrigo Vianna, Luiz Nassif, Paulo Henrique Amorim, Heródoto Barbeiro e tantos outros, hoje, do lado de lá do front?
Mas por que José Alencar na ilustração do post? Foi ele o primeiro a farejar o golpe e cerrar fileiras ao lado de Lula. José Alencar também era alvo de ataques em 2005, porque participou da compra do apoio do PL, nas eleições municipais de 2002.
Curiosamente, depois de morrer, foi bajulado pela imprensa, a mesma imprensa que tramou o golpe anunciado. Talvez por isso a família dele sempre preferiu distância dos políticos, dos bajuladores e principalmente dos abutres da imprensa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário