Se eu fosse jornalista e trabalhasse em um grande órgão de imprensa jamais faria o que o blogueiro da Globo Ricardo Noblat fez neste sábado ao transformar, publicamente, um ministro do Supremo Tribunal Federal em seu inimigo particular.
Antes que alguém ache que estou sugerindo que o jornalista não deveria ter brigado com o juiz porque pode ser retaliado por ele, esclareço que não quero dizer que o ataque público que aquele fez a este irá gerar retaliação.
Poderia, pois o jornalista fez acusação sem provas ao magistrado do STF. A sorte de Noblat, porém, é que não atacou outro juiz daquela Corte que tem por costume processar jornalistas que o criticam.
Segundo a imprensa, o ministro do Supremo Gilmar Mendes ligou para o senador do PSOL, Randolfe Rodrigues, que o criticou, e ameaçou dizendo-se “um homem de enfrentamentos”. Até prova em contrário, esse não é o perfil de José Antônio Dias Tóffoli.
Antes de explicar a razão pela qual julgo que o blogueiro da Globo cometeu um erro que se voltará contra si, porém, reproduzo, abaixo, post dele em que “denuncia” Tóffoli por tê-lo xingado com palavrões.
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11.08.2012
Por Ricardo Noblat
Acabo de sair de uma festa em Brasília. Na chegada e na saída cumprimentei José Antônio Dias Tóffoli, ministro do Supremo Tribunal Federal.
Há pouco, quando passava pelo portão da casa para pegar meu carro e vir embora, senti-me atraído por palavrões ditos pelo ministro em voz alta, quase aos berros.
Voltei e fiquei num ponto do terraço da casa de onde dava para ouvir com clareza o que ele dizia.
Tóffoli referia-se a mim.
Reproduzo algumas coisas que ele disse (não necessariamente nessa ordem) e que guardei de memória:
- Esse rapaz é um canalha, um filho da puta.
Repetiu “filho da puta” pelo menos cinco vezes. E foi adiante:
- Ele só fala mal de mim. Quero que ele se foda. Eu me preparei muito mais do que ele para chegar a ministro do Supremo.
Acrescentou:
- Em Marília não é assim.
Foi em Marília, interior de São Paulo, que o ministro nasceu em novembro de 1967.
Por mais de cinco minutos, alternou os insultos que me dirigiu sem saber que eu o escutava:
- Filho da puta, canalha.
Depois disse:
- O Zé Dirceu escreve no blog dele. Pois outro dia, esse canalha o criticou. Não gostei de tê-lo encontrado aqui. Não gostei.
Arrematou:
- Chupa! Minha pica é doce. Ele que chupe minha pica.
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Em primeiro lugar, colocar em um blog de grande visitação – por estar hospedado no portal da maior empresa de comunicação do país – termos como esses é um desrespeito ao leitor. Não precisava. Infelizmente, tenho que reproduzir para emoldurar a gravidade do caso.
Noblat confessa que espionou Tóffoli para saber o que dizia a seu respeito. Ou seja: mesmo se for verdade a versão do jornalista, ainda assim o que o magistrado teria dito foi em privado. Não disse essas coisas – se é que disse – publicamente.
Fico me perguntando se Noblat, em privado, usa termos de um lorde inglês ao se referir a seus desafetos. Você, leitor, já usou termos assim sobre alguém em conversa privada? Tófolli é ministro em sua intimidade?
Quem ouviu o que o juiz teria dito? O blogueiro global não diz.
Se não diz, provavelmente não considerou útil a informação. Se não considerou útil é porque não havia platéia, mas, provavelmente, só amigos ou familiares do alvo de sua espionagem confessa.
Mas a questão nem é essa. A questão é que, como jornalista de política, Noblat certamente terá que “cobrir” a atuação do ministro, até porque ele está na linha de frente de um dos fatos políticos mais importantes dos últimos anos.
Com o post que publicou, Noblat, por decisão pessoal, tornou-se inimigo público de Tóffoli. Que tipo de informação sobre ele o público pode esperar no futuro? Isenta? Certamente as pessoas se lembrarão de que o jornalista é inimigo do juiz.
A razão que o jornalista da Globo alega para o suposto acesso de fúria do juiz contra si é a campanha que moveu contra ele para que se declarasse impedido para julgar o mensalão. Noblat pegou no pé de Tóffoli e não largou mais por ele ter decidido julgar o caso.
Bem, agora o juiz se livrou do jornalista. Ou, ao menos, do peso de suas críticas. Toda vez que Noblat tocar no nome de Tóffoli as pessoas se lembrarão de que está aludindo a um inimigo e que, portanto, sua opinião ou acusação ou mero relato carecem de isenção.
Jornalista não deve se envolver pessoalmente com a notícia. O público quer notícia, não idiossincrasias. Ironicamente, Noblat quis impedir Tóffoli e acabou impedido. Ah, sei, a Globo não dá bola a tais “detalhes”… Ok, mas o público dá.
Resumo da ópera: Tóffoli está livre ao menos da credibilidade de Noblat em relação ao que vier a dizer sobre si.
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