Venho de uma maratona de três dias com a filha caçula (13 anos) na UTI de um hospital. Fui “rendido” na vigília ao lado dela por um acompanhante substituto e temporário – ficará com menina até à noite para que eu possa, por algumas horas, finalmente desfrutar do luxo de uma cama após três noites dormindo em uma poltrona.
Esta irrequieta veia de blogueiro, no entanto, não me deixa pegar no sono. Vim caminhando do hospital até em casa – são só quatro quadras – já fuçando a internet pelo celular e perguntando nas redes sociais quais eram as últimas sobre o caso Demóstenes-Cachoeira, que pôs o país perplexo ao desnudar alguns fatos que parecem oriundos de uma ficção policial ou de espionagem.
Amigos daquelas redes me mostraram que Hollywood não faria melhor. Primeiramente, descubro que não preciso mais da imprensa porque foi só de ontem para hoje que jornais como Folha de São Paulo e O Globo deram uma notícia da qual eu tomara conhecimento há quase uma semana: o governador de Goiás, Marconi Perillo, está envolvido no escândalo em tela.
Diálogos de assessores diretos do governador com o bicheiro Carlinhos Cachoeira que este blog e ao menos outros dois publicaram no meio da tarde do dia 29 último – portanto, há seis dias – através da reprodução do inquérito da Justiça sobre a Operação Monte Carlo já davam, então, acesso ao material que aqueles jornais parecem só ter notado na terça-feira (3) e que só realçaram em suas páginas na quarta (4).
Ainda não chegou à grande mídia outra notícia estupefaciente (venho querendo usar o adjetivo há dias, porque me surgiu do nada na cabeça). A maior revista semanal do país, a qual ganhou fama por publicar escândalos políticos, empreendeu uma epopéia denuncista contra um só lado do espectro político ao longo da década passada valendo-se de relações permanentes e profundas com uma quadrilha que se encontra (quase) toda presa.
Um jornalista e blogueiro de renome publica, em primeira mão, que a publicação que se relaciona com bandidos manteve centenas de ligações telefônicas com eles sem jamais ter notado que enquanto eles lhe forneciam informações sobre políticos aos quais essa publicação se opõe escancaradamente, cometiam graves crimes. Tão graves que foram flagrados pela Polícia Federal.
Em seguida, o mesmo jornalista divulga uma extensa lista de matérias de capa que a tal revista semanal publicou contra o governo do país e informa que todas elas derivaram de informações daquela quadrilha que está vendo o sol nascer quadrado em uma penitenciária de segurança máxima.
Enquanto isso, a mesma revista e outros grandes veículos tão distraídos que até agora não descobriram nada disso, tentam, desesperadamente, achar algum membro do partido do governo federal ou de algum partido aliado para envolver em um escândalo que mostra que o segundo maior partido de oposição não passa de um ajuntamento de criminosos que vai sendo flagrado ano após ano, obrigando esse “partido” a uma teatralização de “surpresa” com os crimes de mais um membro até então emérito.
Essa grande imprensa que se especializou em divulgar escândalos valendo-se de informações miraculosamente levantadas contra o governo federal não foi capaz de ver o que acontecia na oposição – ainda que, até 2003, vivesse descobrindo escândalos do partido que, então, era oposição e que, hoje, ocupa o Poder.
Ainda estou caminhando entre o hospital e a minha residência quando um amigo argentino, que também é jornalista, liga-me no celular e pergunta se é verdade que a tal revista publicou todas aquelas matérias contra o governo usando informações da quadrilha de Goiás, e revela que a imprensa internacional só espera a confirmação dessas informações para divulgá-las.
Para a nossa imprensa seria mais fácil. Os relatórios da Polícia Federal e o próprio inquérito que está na Justiça sobre a operação Monte Carlo permitem comprovar tudo. Porém, a imprensa brasileira fatalmente será furada pela estrangeira, pois as provas contra a tal revista são escandalosas.
Quando a imprensa internacional começar a discutir esse assunto, o mundo saberá que as instituições se mobilizaram para investigar denúncias que aquela revista publicou e que se originaram de uma quadrilha de criminosos (!) com a qual a tal publicação mantinha estreita relação. Também saberá que tais denúncias consumiram recursos públicos e nenhuma foi comprovada.
Detalhe: refiro-me às denúncias contra o governo federal que a revista fez baseada em informações da quadrilha que está no xilindró e que, nos grampos da Polícia Federal, os bandidos dizem que foram “todas” fornecidas por eles mesmos.
O que o mundo dirá do Brasil? O que você diria de um país que coloca polícia, toda a grande imprensa, a Procuradoria da República e até o Judiciário para correrem atrás de denúncias feitas por bandidos de forma a distraírem essas autoridades das próprias atividades criminosas? Você, leitor, não sei, mas eu diria que é um país de otários.
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