terça-feira, 23 de abril de 2013

Em nome do Pai: o Estado laico em perigo

 
 
Querem transformar o Brasil em um estado teocrático. A mistura entre religião e política há um bom tempo que rende debates acalorados. Após a ascensão de Marco Feliciano (PSC/SP) à presidência da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara dos Deputados, aumentou-se o fervor dessa discussão. A edição 745 de CartaCapital, em reportagem de Willian Vieira e Rodrigo Martins, mostra bem a tática de igrejas evangélicas para dominar a política brasileira.

Estão sendo criadas em todo o país Frentes Parlamentares de Evangélicos (FPE's), em câmaras municipais e Assembleias Legislativas. Essas FPE's são organizadas pela Associação de Parlamentares Evangélicos do Brasil (Apeb). Na pauta sempre a defesa de posições que negam conquistas históricas em nossa sociedade. As Frentes defendem a submissão da mulher ao marido, perseguição a homossexuais e maior criminalização do aborto, seja em que circunstância for.

Essas FPE's abrangem todos os partidos políticos.

As bancadas evangélicas já aprovaram Brasil afora leis como a obrigação do uso de calcinha por parte das mulheres em casamentos (Vila Velha/ES); obrigação da execução do Pai Nosso e escola públicas (Ilhéus/BA) e leitura de trechos da Bíblia antes das sessões legislativas na Câmara Municipal de Passo Fundo/RS. Em São Paulo o culto evangélico tornou-se “patrimônio imaterial da cidade”. Além de bizarrices já conhecidas como o dia do orgulho hétero.

Até a obrigação de municípios e estados pagarem por festas evangélicas as tais frentes já conseguiram por aí.

Cabe ressaltar que sempre quando conveniente a Igreja Católica se une às evangélicas.

Sempre quando se discute a intromissão da religião na política, se confunde com ataque à fé das pessoas. Fé é uma questão de foro íntimo e assim deve permanecer. Essa discussão precisa ser feita de forma firme e madura no sentido de defender o Estado laico. O Estado teocrático como a mistura fé/religião e política constrói leva ao totalitarismo.

Na Idade Média política e religião eram praticamente a mesma coisa. Não é à toa que esse período é chamado de “Idade das Trevas”. Um sem números de mulheres foram assassinadas em nome de Deus. Cientistas também. Na verdade, qualquer um que se opusesse ao poder clerical, mesmo tendo fé em Deus, era logo morto em nome Dele.

O escamoteamento dessa discussão deixa nossas Instituições à mercê do poderio crescente das igrejas. A eleição presidencial de 2010 parecia uma disputa para um feudo qualquer na Idade Média e não para a Presidência da República, em um país que não viveu o período medieval, em pleno século 21.

André Ricardo Souza, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), entrevistado na reportagem, não acredita que a intenção de se construir um Estado teocrático tenha êxito. Para a existência de vários partidos nessas frentes evangélicas dificulta as concentrações de votos, além da maior distribuição de renda existente no país, o que aumenta a autonomia das pessoas em relação às igrejas.

Se os objetivos desses evangélicos – que se alinham quase sempre com os católicos – conforme foi exposto na matéria de CartaCapital se concretizar, fatalmente o Brasil viverá seu período de trevas. Podem rasgar as leis e a Constituição. Valerá a torpe interpretação bíblica para satisfazer um dos maiores anseios mundanos, mas sempre em nome de Deus: o poder.

 
http://profdiafonso.blogspot.com.br/2013/04/em-nome-do-pai.html 

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