Pela lógica, a eleição para prefeito de São Paulo – que se conecta
com as eleições de 2014 – deveria estar decidida. Está no páreo José
Serra, aquele que, depois de Lula, talvez seja o político mais conhecido
hoje no Brasil. Essa “lógica”, porém, não está funcionando.
Ex-candidato a presidente duas vezes, ex-governador do Estado mais
rico e ex-prefeito da capital paulista, do alto de uma carreira política
de mais de 40 anos deveria surrar os candidatos neófitos que disputam
consigo. Todavia, suas perspectivas parecem cada vez menos consistentes.
Pesquisa Datafolha sobre a sucessão municipal de São Paulo divulgada
no fim de semana revela uma piora surpreendente das perspectivas de
Serra. Para os outros candidatos, porém, a pesquisa foi inócua. Quase
todos são ilustres desconhecidos, o que, com a TV, deve mudar em breve.
Para Celso Russomano, único razoavelmente conhecido, mas candidato
por uma minúscula legenda de aluguel, a pesquisa não diz nada. É
herdeiro dos eleitores que se afastaram de Serra e não sabem para onde
ir. Segundo o Datafolha, grande parte de seu eleitorado vota
tradicionalmente no PT e não sabe quem é o candidato petista…
O maior beneficiário do atual quadro eleitoral é Fernando Haddad.
Quase 40% do eleitorado paulistano se diz disposto a votar no candidato
indicado por Lula e esse é o percentual dos que não conhecem o candidato
do PT. Seu espaço para crescimento é enorme.
Gabriel Chalita não tem padrinho político forte e seu partido, o
PMDB, não tem tradição de chegada em São Paulo. Quanto a Soninha, não
vale a pena nem gastar uma análise. Sua candidatura é uma invenção de
Serra e vai virar pó rapidamente.
E quanto aos outros candidatos, nem mesmo pontuam nas pesquisas e não haverá o que mude isso.
Na origem desse quadro está o prefeito Gilberto Kassab. Sua
administração mal-avaliada é o que está enterrando Serra. No início do
ano, a aprovação do prefeito estava até melhor (22%). Em março subiu um
pouco e se esperava que conforme fosse sendo lembrada a sua ligação com
Serra, melhoraria.
Ocorreu o contrário. Após Kassab declarar publicamente seu apoio a
Serra e de este anunciar que faria campanha pela “continuidade” em São
Paulo, ambos perderam apoio. A aprovação do prefeito (20%) está menor
que em janeiro, sua reprovação foi a 39% e a rejeição a Serra aumentou
para 37%.
Tudo isso se conecta com o noticiário cada vez mais inevitável sobre a
explosão da violência e da criminalidade em São Paulo e com o estado de
espírito do paulistano diante de um cotidiano que já se tornou
insuportável.
São Paulo está imunda, uma legião de moradores de rua vaga
desorientada pela cidade, a sensação de insegurança já atingiu níveis
alarmantes, enfim, não se consegue achar praticamente nenhum paulistano
que se diga satisfeito com a sua cidade.
Tampouco se consegue achar quem defenda Kassab. Mesmo os antipetistas
mais convictos não têm coragem de defendê-lo. Daí o inchaço de Soninha,
quem só serve para os que votam com o fígado e não têm coragem de
assumir voto no padrinho político da Geni da eleição deste ano.
A rejeição de Kassab perdeu o caráter apolítico que tinha no início
de 2012. O paulistano manifestava desgosto pelo governo que elegeu mas
não tinha sido provocado a pensar em sobre por que o elegeu. Agora, está
pensando. E está se enfurecendo.
É o efeito Celso Pitta. Serra criou Kassab e, de certa forma, ao
abandonar a prefeitura nas mãos dele foi como se tivesse dito a frase de
Maluf sobre a sua criatura, de que se Pitta não fosse um grande
prefeito ninguém deveria mais votar em si.
Quando a campanha começar mesmo, Serra terá o apoio costumeiro da
mídia e o antipetismo de parcela expressiva do eleitorado paulistano
será açulado. Todavia, em 2012 há um fator que não existiu em 2008 e
muito menos em 2004: São Paulo não estava tão mal, naqueles anos.
Como já se disse incontáveis vezes nesta página, ninguém está
agüentando mais viver em São Paulo. Uma pessoa que se atrasa para chegar
em casa deixa a sua família em pânico. O cidadão sai estressado de
manhã para trabalhar e à noite volta histérico para casa.
Não há antipetismo que resista a um cotidiano como esse. As pessoas estão propensas a refletir sobre novos rumos para a cidade.
O desastre político e administrativo de Kassab, portanto, é o que
está causando essa indefinição no quadro eleitoral de São Paulo. Repito:
não fosse a insatisfação do paulistano com a cidade, Serra, a esta
altura, deveria estar praticamente eleito.
A julgar pelo anúncio feito inicialmente pelo tucano de que faria
campanha pela “continuidade” administrativa em São Paulo – ou seja, por
mantê-la no rumo em que está –, ele deve ter subestimado o
descontentamento da população.
Pode-se prever, assim, que Serra tentará se afastar de Kassab durante
a campanha. Se assumir sua ligação com ele, será suicídio. Todavia,
desvincular-se de sua cria política parece praticamente impossível, a
esta altura. Os outros candidatos não permitirão.
http://www.blogdacidadania.com.br/2012/07/desaprovacao-a-kassab-e-o-grande-fato-da-eleicao-em-sp/
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