A esta altura, você já deve estar sabendo – e, se não sabia, agora
saberá – que Luiz Carlos Azenha, jornalista-repórter da TV Record e
editor do site Viomundo, foi condenado pela Justiça do Rio de Janeiro a
indenizar o diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, em 30 mil reais.
Segundo a sentença, por Azenha ter movido “campanha insultuosa” contra
ele.
Kamel vem obtendo sucessivas – e esquisitíssimas – vitórias na
Justiça do Rio, assim como a emissora que o emprega, ao lado de outros
grandes veículos de comunicação, conseguiu condenar, no STF, inimigos
dessa corrente política que congrega partidos de oposição e impérios de
comunicação.
O império da direita midiática no Brasil já conseguiu muito mais.
Conseguiu manter o país sob uma ditadura militar durante duas décadas. O
império da direita brasileira já conseguiu derrubar um governo
legitimamente eleito e, depois, sustentou um regime que, por falta de
votos, impediu este povo de escolher seus dirigentes.
A direita midiática, porém, perdeu poder. Hoje, exercita-o investindo
contra trabalhadores da indústria da comunicação, mas não consegue mais
dar golpes e eleger os governos que quer.
Azenha, ao lado de tantos outros, ajudou a derrotar a Globo em 2006,
em 2010 e em 2012 – neste último ano, foi possível impedir o campeão da
direita, candidato duas vezes a presidente, de se eleger como prefeito
de São Paulo.
A Globo e seus tentáculos, bem como o exército de militantes – quase
todos anônimos – que mantêm na internet, dirão que é muita pretensão
achar que a blogosfera derrotou o império destro-midiático. Entretanto,
as investidas desse império contra blogueiros referenda a tese que
tentarão desqualificar.
O diretor da Globo não investiria contra Azenha, Paulo Henrique
Amorim, Rodrigo Vianna, Cloaca News e tantos outros blogueiros, ou um
colunista da Veja não investiria contra este que escreve, entre tantos
outros, se nós não os incomodássemos. Incomodamos, e muito.
O ex-ministro da Secom Franklin Martins explicou, no último encontro
de blogueiros progressistas, em Salvador, que o que nossos blogs fazem é
visto como um perigo e um incômodo imensos por esses impérios de
comunicação.
Para entender como simples blogs podem incomodar tanto esse império
midiático que mantém 90% da comunicação de massas na mão de meia dúzia
de famílias bilionárias, uma analogia: você sabe, leitor, por que as
ditaduras censuram até uma distribuição de panfletos na rua? Sabe por
que censuram uma música ou uma peça de teatro?
A comunicação, seja de que forma for feita, é “viral”. A informação
esgueira-se por qualquer fresta que deixarem aberta e se espalha em
progressão geométrica, mesmo que de forma lenta.
Uma Globo tem o poder da instantaneidade na comunicação. O que sai no
Jornal Nacional às 20:31 hs., em questão de minutos já é sabido e
consabido em todo território nacional e até no exterior. Contudo, a
informação em um simples blog vai circulando devagar, muito devagar, mas
sempre, sem parar.
As pessoas recebem artigo que escrevo em seus e-mails, em seus perfis
nas redes sociais ou recebem indicação daquele texto ou até daquele
blog através de amigos. E os argumentos que eu uso, por exemplo, vão
sendo contrapostos à informação instantânea que a Globo, também por
exemplo, difundiu.
Quando não existia a internet, esse processo era milhões de vezes
mais lento e, ainda assim, assustava os déspotas que precisam falar
sozinhos para mentir com “sucesso”.
Em campanhas eleitorais, aliás, a internet é muito mais importante.
Por que a audiência em blogs políticos sobe tanto em períodos
eleitorais? Porque pessoas pouco ligadas em política vão buscar
informações adicionais na internet, já que muita gente já se deu conta
de que o noticiário tradicional não conta a história toda.
Entendo as razões que o Azenha alega para encerrar seu site. É um
repórter de sucesso, tem uma carreira pela frente e uma família a
sustentar. Seu sufocamento financeiro pelas seguidas ações que Ali Kamel
move contra si – e nas quais a Globo tem muito interesse – pode fazê-lo
perder boa parte de seus bens, amealhados com trabalho honesto.
Além disso, assim como todos os outros blogueiros, Azenha não recebe
dinheiro público que o governo Dilma Rousseff despeja aos borbotões nos
cofres de uma Globo, que, apesar de ter só 45% da audiência, recebe 60%
de todas as verbas publicitárias do governo federal.
É revoltante? Claro. Azenha tem todas as razões plausíveis para
desistir de enfrentar esse poder discricionário e antidemocrático? Tem.
Mas deve? Aí é outra questão.
Ao contrário do que parece, o império destro-midiático está perdendo o
embate. O esforço que vem fazendo desde meados do ano passado, quando
iniciou a sua última investida contra o governo Dilma e contra o PT,
custou-lhe centenas de milhões de dólares.
Que resultado a Globo obteve com edições inteiras do Jornal Nacional
focadas em destruir a imagem do PT? Zero. O PT, em pesquisa recente,
aparece com 29% de preferência dos brasileiros – um patamar histórico – e
se tornou, em 2012, o partido mais votado do país. E, de quebra, ainda
tomou São Paulo do PSDB.
Ainda cabe recurso a Azenha na ação que Ali Kamel venceu contra si em
primeira instância. O caso pode chegar ao Supremo Tribunal Federal, que
está mudando de perfil. Além disso, mesmo se vier a perder, não tenho a
menor dúvida de que boa parte do público da blogosfera se cotizaria e
pagaria a indenização por ele.
Não é fácil ser blogueiro. O próprio Azenha relatou, recentemente, os
riscos de violência física que este blogueiro corre, já que não
conseguirão tirar nada de mim porque não tenho o que tirarem, em termos
financeiros.
Há o caso Falha de SP, site do jornalista Lino Bocchini, quem está
ameaçado de ter que pagar uma indenização pesada à Folha de São Paulo.
Blogueiros que incomodam a direita midiática são assassinados ou
espancados por todo o país. É uma “profissão” perigo que requer muita
resiliência e coragem.
Todavia, os blogueiros têm um papel histórico. Se não nos deixarmos
intimidar, poderemos consolidar a democracia no Brasil minando um poder
discricionário e antidemocrático que meia dúzia de famílias bilionárias
ainda detêm, mas que diminuiu muito e continuará diminuindo.
Diante de tudo isso, exorto o jornalista – e amigo do peito – Luiz
Carlos Azenha a não desistir. Não temos a opção de desistir. Sem
dinheiro, sem patrocínio, sofrendo processos e até violência física,
estamos ajudando (muito) a mudar o Brasil. A recompensa que receberemos
será o agradecimento das gerações futuras, que viverão em um país
melhor.
http://www.blogdacidadania.com.br/2013/03/o-imperio-contra-ataca-2/
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