As primeiras imagens do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, ao
ser anunciado como papa Francisco I, na tarde desta quarta-feira, me
fizeram lembrar do momento em que o mundo ficou conhecendo o cardeal
vêneto Albino Luciani, o papa João Paulo I, que ficou apenas 33 dias no
trono de São Pedro, em 1978.
Eu estava lá na praça de São Pedro e, como todos os outros
jornalistas, vaticanistas e outros "istas" fui pego de surpresa. Ficamos
um olhando para a cara do outro, querendo descobrir: quem é esse?
Assim como aconteceu com Bergoglio, o nome de Luciani não constava
das listas de apostas de Londres nem dos favoritos apontados pela
imprensa.
Simpático, humilde, de fala fácil, cara boa, mais de pároco de aldeia
do que de teólogo da Curia Romana, Francisco I em nada lembrava seu
antecessor, Bento 16, assim como aconteceu com João Paulo I, eleito para
o lugar de Paulo 6º.
Primeiro papa jesuíta, primeiro papa latino-americano, primeiro papa
de nome Francisco, cardeal Bergoglio até parecia um pouco acanhado ao
olhar para a multidão reunida à sua frente, bem no estilo de Luciani,
que ficou conhecido como o "papa sorriso".
Em poucos minutos, porém, cativou as pessoas que acompanhavam as suas
primeiras palavras no mundo todo, ao pedir que o povo orasse por ele,
antes de dar a sua primeira benção.
Uma curiosidade: o novo papa foi anunciado às 20h13 minutos de Roma,
no dia 13/3/2013, exatamente 30 dias após a renúncia de Bento 16.
Neste período, falou-se muito de ética, moral e política da igreja,
entre uma e outra denúncia de corrupção, pedofilia e disputa de poder
na Cúria, e muito pouco de espiritualidade.
Pode ser que isso agora mude, a julgar pelas primeiras impressões
deixadas por Francisco I, que prometeu se dedicar à evangelização, algo
vital para uma igreja que a cada dia perde fiéis e credibilidade.
Aos 76 anos, o novo pontífice herda uma igreja em crise profunda, com
um pacote de desafios pela frente, a começar pelo relatório das
investigações solicitadas por Bento 16 a três cardeais da sua confiança
sobre malfeitos diversos praticados por religiosos, que ficou trancado
num cofre dos aposentos do papa.
A este tema explosivo, somam-se velhas questões da igreja como o
celibato, a ordenação de mulheres, o aborto em casos extremos, o
casamento entre pessoas do mesmo sexo, o planejamento familiar e o uso
de anticoncepcionais, tabus que Bento 16 evitou sequer discutir nos seus
oito anos de papado.
Não será fácil a vida de Francisco I, assim como não foi a do breve
papado de de João Paulo I. Esperamos todos, católicos ou não, que o
destino reserve ao papa argentino mais tempo para enfrentar tantos
desafios e devolva a esperança a quem vinha perdendo a fé.
http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/2013/03/13/papa-francisco-i-me-faz-lembrar-de-joao-paulo-i/
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