Por Altamiro Borges
Em queda na audiência e quase falida, a RedeTV! decidiu ressuscitar o “humorista” João
Kleber – o mesmo que foi tirado do ar em dezembro de 2005 graças à ação movida
por seis entidades da sociedade civil contra as suas baixarias na emissora. Na
madrugada deste sábado, ele voltou à telinha com o seu quadro “teste de
fidelidade” em pleno Carnaval. O jornalista Mauricio Stycer, da Folha,
acompanhou o retorno do apresentador e ficou indignado com o que viu.
“Teatral, aos berros, insistindo que não estava encenando
nada, João Kleber trouxe uma mulher disposta a ver se o marido seria fiel
durante um trabalho no Carnaval. Com a ajuda de câmeras escondidas, ela viu o
sujeito se apresentar para trabalhar como segurança de uma ‘empresária’, mas
logo ser seduzido por ela e pela amiga. Ao final, ao vivo, João Kleber promoveu
o encontro do casal. A mulher tentou agredir o marido, até que o apresentador
explicou que tudo havia sido uma encenação da parte do homem, que sabia da
intenção da mulher”.
“As frases exibidas na tela, que dramatizam a situação num
crescendo, dão ideia do grau de exposição ao ridículo do casal: ‘Homem esconde
da mulher que fará segurança de uma gostosa’; ‘Homem diz que a sua esposa é
baixinha e gordinha, e mulher vê tudo’; ‘Homem não tira os olhos dos seios da
atriz e mulher vê tudo’; ‘Você não imagina o que vai acontecer com o marido
dessa mulher’. O espetáculo, pouco edificante, tornou-o famoso na década
passada e foi responsável por tirar a RedeTV! do ar em 2005, suspensa pela
Justiça. Está de volta agora num momento em que a emissora enfrenta um de seus
piores momentos. Parece o casamento perfeito”, conclui Stycer.
O pior é que estas e outras baixarias são exibidas numa
emissora privada que explora uma concessão pública e o governo não faz nada –
absolutamente nada! A emissora está irregular – atrasa salários, não paga
dívidas, subloca ilegalmente o canal para grupos religiosos – e o governo não
faz nada! Em 2005, o Coletivo Intervozes e outras cinco entidades civil
conseguiram obter o “direito de resposta” contra o mesmo apresentador, que abusava
dos preconceitos no quadro “Tardes Quentes”, principalmente contra os
homossexuais.
No lugar do programa de baixaria, a Rede TV! foi
obrigada pela Justiça a veicular 30 horas de programação integralmente
idealizada e produzida pelas organizações envolvidas na Ação Civil Pública
contra a emissora. Durante os 30 dias de exibição, debates, vídeos,
entrevistas e até comerciais traziam à telinha os direitos humanos e a
voz dos setores historicamente excluídos da tevê brasileira. O programa
contou com mais de 400 produções independentes enviadas por cerca de 150
organizações de todo o Brasil.
Uma nova ação da sociedade civil seria necessária hoje para
barrar não apenas o retorno das baixarias de João Kleber – mas a própria
baixaria da RedeTV! Este espaço, que é público, seria muito melhor ocupado por
uma emissora pública – ou mais direto, pela TV Brasil.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2013/02/joao-kleber-e-as-baixarias-na-redetv.html
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