SINTONIA FINA
Sempre independente e transparente.
Contra o desejado
Janio de Freitas
Os juros em alturas imorais eram acusados
de impedir a retomada efetiva do crescimento e a capacidade da indústria
de competir com a produção estrangeira. Os juros foram baixados. E as
correntes que os culpavam entregaram-se a intensas e extensas críticas à
sua redução. A energia cara era há muito acusada de obstruir o
crescimento econômico e a capacidade de competição da indústria
brasileira. Foi reduzida em 32%, um terço, para a produção industrial. E
as correntes que a culpavam se entregam a criticá-la e desacreditá-la.
Esse jogo de incoerências proporciona noções importantes para os cidadãos, mas de percepção dificultada pela próprio jogo.
Está evidente na contradição das atitudes o
quanto há de política no que é servido ao público a respeito de
assuntos econômicos. Na maioria dos assuntos dessa área, o
direcionamento é predominantemente determinado por política, e não pela
objetividade econômica.
É assim por parte dos dois lados. Mas não
de maneira equitativa. Os economistas mais identificados com o capital
privado do que abertos a problemas sociais, ou a projeções do interesse
nacional, fazem a ampla maioria dos ouvidos e seguidos pelos meios de
comunicação.
É esse o desdobramento natural da
identificação ideológica e política e das conveniências mútuas, entre
empresas capitalistas e "técnicos" do capitalismo. Mas não
necessariamente, como supõem certas interpretações ditas de esquerda, um
desdobramento forçado aos jornalistas. Também entre os comentaristas e
editores há, é provável que em maioria, identificação com os economistas
do capital. E, em certos casos, com o capital mesmo. O que vai implicar
tratamento político -de apoio ou de oposição- a decisões econômicas e
respectivos autores.
Foi a essas críticas políticas que, a meu
ver, Dilma Rousseff respondeu junto com a comunicação do corte maior no
preço da energia. Nada a ver com o lançamento de campanha reeleitoral
que lhe foi atribuído pelo presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra,
logo seguido pelos porta-vozes, assumidos ou não, do PSDB e dos
remanescentes do neoliberalismo.
Do alto de sua aprovação pessoal e da
aprovação ao seu governo, o que de menos Dilma Rousseff precisa é
precipitar a disputa eleitoral. Essa necessidade não é dela, é dos
oposicionistas -como se viu, há pouco, Fernando Henrique propondo o
início imediato de um périplo eleitoreiro de Aécio Neves pelo país
afora.
Dilma Rousseff fez a promoção de seu
governo como Fernando Henrique fazia do seu, e todos os presidentes
fizeram e fazem. A afirmação de que falou como candidata leva a uma
pergunta: se não a favor do seu governo e da novidade que lança, nem há
algo grave, como é que um/uma presidente deve falar?
A redução do preço da energia e a queda
dos juros agravam o aturdimento da oposição representada pelo PSDB. Se
nela não brota nem uma ideiazinha nova, para contrapor à queda de juros,
desoneração da folha de pagamento, redução do IPI, ampliação do crédito
para casa própria, só lhe resta dizer que isso não passa de um
amontoado de medidas de um governo sem rumo. Mas não ver nesse
amontoado, ainda que para criticar, uma coerência e um sentido de
política a um só tempo industrial e social, aí já é problema para quem
organiza o Enem.
http://asintoniafina.blogspot.com/2013/01/colunista-da-folha-pede-volta-do-mobral.html
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