Harakiri (腹切り) foi um ritual suicida japonês do período medieval que
consistia em pessoas que queriam pôr fim à própria vida estriparem-se
com uma espada samurai. A frieza e a metodologia daquela forma de
suicídio a torna perfeita, como analogia, para caracterizar o que a
mídia vem fazendo consigo mesma na questão da geração de energia
hidrelétrica.
Na última segunda-feira, cumpriu-se uma semana da veiculação de
manchete de primeira página do jornal Folha de São Paulo que alarmou a
sociedade induzindo-a à crença de que estaria à beira de um racionamento
de energia nos moldes daquele que o país experimentou entre o penúltimo
e o último anos do governo Fernando Henrique Cardoso (2001/2002).
Nos sete dias seguintes, o Brasil foi de um pânico que fez ações das
empresas geradoras de energia perderem gorda fatia de seu valor para a
literal demolição daquele alarma social, com a conseqüente
tranquilização e até euforia do setor empresarial com uma medida do
governo Dilma que deve produzir efeitos altamente benfazejos à
sociedade.
Na noite da última segunda-feira, o principal autor do pânico
econômico e social que fustigou o Brasil (leia-se Rede Globo) teve que
anunciar, em seu principal telejornal, que, contrariando as suas teses
catastrofistas sobre “racionamento” de energia e “aumento nas contas de
luz”, a partir de março o preço da energia elétrica deve cair, em média,
20%.
As empresas irão pagar 28% a menos pela energia e os consumidores
residenciais, 16%. E, devido ao verdadeiro dilúvio que cai sobre o país,
a tal ameaça de “racionamento”, que nunca passou de empulhação, teve
que ser literalmente extirpada do noticiário.
Eis que beira a perfeição a analogia entre essa estratégia de ataque
da mídia partidarizada (atucanada) ao governo federal e o método suicida
japonês, pois tal “estratégia” se torna verdadeiro harakiri de imagem
pública.
É ou não suicídio martelar, sob razão pífia, uma suposta
incompetência gerencial do governo e uma desgraça como a que seria o
Brasil, além de ter que racionar energia elétrica, pagar mais por ela?
Afinal, era enorme a fragilidade da “razão” mídiática para aquele
alarde, pois escassez de chuvas e reservatórios de hidrelétricas baixos,
após uma década inteira de fortes investimentos do governo Lula em
geração de energia, não produziriam racionamento nem se não chovesse.
Além disso, nota-se que a mídia subestimou, de forma inexplicável,
uma presidente que, antes de se eleger, ganhou notoriedade e importância
justamente pelo desempenho que teve na área energética quando integrou o
governo do Rio Grande do Sul e o governo Lula.
Há poucos meses, Dilma Rousseff foi à televisão anunciar queda no
preço da energia elétrica. Seus adversários destro-midiáticos, porém,
acreditaram que ela seria uma estúpida que anunciaria medida de tal
importância para o país sem ter certeza de que poderia implementá-la.
Mesmo quem se informa mal (só pela “grande imprensa”) e não viu os
telejornais noticiarem o barateamento da energia, a partir de março,
quando as contas de luz tiverem sensível queda de valor, seguramente
haverão de se lembrar do noticiário e, mais uma vez, aprofundarão o
conceito de que a mídia promove alarmismo sob razões politiqueiras.
A própria reportagem do Jornal Nacional que noticiou a iminente
redução das contas de luz após dizer exatamente o contrário poucos dias
antes, deu um exemplo do potencial de beneficiamento da economia com a
queda do preço da energia elétrica. Mostrou o caso de uma pequena
lavanderia que gasta R$ 1,3 mil com a conta de luz e que irá economizar
R$ 200.
A reportagem ainda mostrou que alguns setores da economia terão um
benefício altíssimo. No setor de produção de alumínio, por exemplo, 30%
dos custos são com energia elétrica. Ora, um desconto de quase 30% nessa
energia tornará mais competitivas não só as empresas que produzem essa
matéria-prima, mas, também, aquelas que a consomem.
O potencial econômico e social da medida do governo Dilma, assim,
será sentido fortemente pela sociedade, pois o famigerado “custo Brasil”
será consideravelmente reduzido para as empresas e para os setores mais
pobres da sociedade, para os quais a conta de luz pesa muito.
Foi suicídio, portanto, promover alarmismo subestimando não apenas a
capacidade da presidente, mas a inteligência dos brasileiros. Desse
modo, o termo “harakiri” só não é perfeito porque o ritual suicida
japonês era intencional e constituía pedido de desculpas por erros
cometidos, enquanto que o harakiri midiático foi praticado sem querer.
http://www.blogdacidadania.com.br/2013/01/harakiri-midiatico/
Nenhum comentário:
Postar um comentário