O conceito “populismo” sempre foi elástico e subjetivo. Contudo, em
alguns momentos da história chegou a fazer sentido. No século passado,
porém, não era usado apenas para caracterizar a forma de governar de
políticos de esquerda como hoje. O caudilho, que por definição governa
de forma populista, poderia ser partidário de qualquer ideologia.
Em resumo, caudilho seria um chefe político que governa acima dos
partidos e que adota medidas populistas (demagógicas) que agradam aos
governados independentemente de serem viáveis, o que, por essa teoria,
no médio e no longo prazos terminariam por causar mais malefícios do que
benefícios.
No Brasil, o “caudilho populista” mais famoso é Getúlio Vargas, ainda
que outros políticos trabalhistas como Leonel Brizola tenham sido
associados a essa pecha.
A história do “populismo”, no entanto, importa menos do que o uso
contemporâneo desse conceito, tal como vem sendo empregado na América
Latina e, mais precisamente, na América do Sul ao longo do século XXI,
período em que líderes de esquerda ascenderam ao poder por toda a região
e a revolucionaram econômica e socialmente.
O recém-falecido Hugo Chávez foi proclamado “caudilho” e “populista”
por ter contrariado interesses econômicos dos Estados Unidos e de classe
social na Venezuela, e exportado um modelo de organização social e
econômica para vários outros países da região, dos quais os governantes
também foram rotulados como “populistas”.
O conceito contemporâneo de populismo, assim, tem servido para grupos
de direita tentarem subverter a imagem de governos que vem reduzindo a
pobreza e distribuindo renda e que, por isso, tornaram-se extremamente
populares.
Com efeito, para a direita latina o venezuelano Chávez foi populista,
o brasileiro Lula é populista, o boliviano Evo Morales é populista, o
equatoriano Rafael Correa é populista, e por aí vai.
A direita sempre tentou vender, sobretudo aos povos de Terceiro
Mundo, a premissa de que para a vida de um povo melhorar ele precisa
antes passar pelo inferno. Distribuir renda, reduzir a pobreza, gerar
empregos suficientes para que a demanda por mão-de-obra aumente e,
assim, os salários se valorizem, tudo isso seria negativo.
Acredite quem quiser.
Governante bom seria aquele que “planta” hoje para que o povo colha
benefícios no futuro. E se essa premissa lhe soa familiar, não é à toa.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nunca foi chamado de
populista porque seu governo dito “responsável” não trouxe benefícios
imediatos – ou tardios. Por isso, você sempre lê ou escuta na mídia que
FHC “plantou”.
FHC não é nem foi populista porque seu governo foi impopular –
terminou seu segundo mandato com 85% de rejeição. E foi impopular porque
ao fim de seus oito anos de governo a inflação, o desemprego e a dívida
externa explodiram, o país não tinha crédito ou credibilidade no
exterior, enfim, foi uma época em que a vida dos brasileiros piorou
muito.
Eis por que todo reacionário, quando confrontado com a popularidade
dos governantes latino-americanos mal chamados de “populistas”, vem com
aquela história de que Hitler também era popular, como se impopularidade
fosse sinônimo de qualidade de um governante.
Dia desses assisti ao filme A Dama de Ferro, com Meryl Streep no
papel da ex-premiê britânica Margareth Tatcher. O que se nota é a
verdadeira obsessão da direita pela impopularidade, que denotaria
“coragem” de tomar medidas impopulares que, em tese, depois produziriam
efeitos benfazejos – o que, como se sabe, nunca acontece.
Em resumo, é a velha história de primeiro fazer o bolo crescer para
depois dividir. Contudo, como bem sabem os brasileiros, o bolo cresce,
cresce e nunca é dividido coisa nenhuma.
Populismo, portanto, é um conceito que busca deturpar a popularidade
de um político associando-a à demagogia, como se ser popular fosse
indicativo de não ser bom governante quando é justamente o oposto, pois
se quem governa é popular é porque seu governo está satisfazendo a
população.
Por fim, uma péssima notícia para os devotos dessa teoria canhestra:
após anos sendo governados por “populistas”, os povos da América Latina
entenderam que não é preciso sofrer indefinidamente para que um dia –
que nunca chega – atinjam o bem estar social. O conceito “populismo”,
hoje, só faz sentido para uns poucos reacionários endinheirados.
http://www.blogdacidadania.com.br/2013/03/populismo-e-invencao-da-direita-para-pegar-trouxa/
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