domingo, 17 de julho de 2011

Etanol: quem segura o rojão é a Petrobras




No meio da colheira, a indústria canavieira diz que houve uma “quebra de safra” e que vai produzir menos etanol este ano. Pronto, está justificado o aumento de preços, não é?. É o mercado, a oferta menor deve, naturalmente, refletir-se em preços maiores. Está no livrinho santo das regras mercadistas.


E quais as razões desta “quebra de safra”? Ah, foi o clima – sabe como é, chove, faz sol… – e também a falta de investimento na renovação e ampliação dos canaviais.


Mas isso aconteceu por dificuldades no setor? Vai aí ao lado o gráfico do faturamento bruto da Cosan-Shell, a maior empresa do setor. E o crescimento dos lucros não é menor, como registra a Agência Reuters, em matéria republicada pela Folha, há um mês:


“A Cosan, maior grupo de açúcar e etanol do Brasil, fechou o quarto trimestre fiscal com lucro líquido de R$ 480,9 milhões, salto de 64% em relação ao ganho de R$ 294 milhões do mesmo período do ano anterior. Em todo o ano-safra 2010/2011, a companhia acumulou lucro líquido de R$ 771,6 milhões, com queda de 26,8% sobre o ganho de R$ 1,054 bilhão de igual período do ano anterior”.


Não se está desfazendo das dificuldades que muitos produtores têm, mas é preciso que fique claro que este setor é cada vez mais concentrado e internacionalizado. 70% das áreas de cana estão em mãos de usinas e, hoje, 35% das usinas são estrangeiras. E as multinacionais pouco investiram em novos projetos.


Claro que é correto o Governo estimular, com financiamento, a ampliação da capacidade de estocagem de etanol. Ela é indispensavel para garantir a estabilidade no abastecimento. Como é correto, para estabilizar preços, a determinação de que as compras se façam em contratos de longo prazo, para garantir linearidade nas entregas, em lugar da especulação confessada de algumas empresas, que usam sua capacidade de estocar – na planta ou no tanque – à espera de melhores preços.


A estocagem, por si só, não basta. Ao contrário, ela muitas vezes é utilizada como ferramenta para majorar preços, como a gente publicou aqui.


Deve haver duas condicionantes para financiá-la.


A primeira delas é o controle público sobre os estoques. Não se argumente que isso é um bem privado, por várias razões, desde o subsídio dado ao setor, diretamente, até o apoio com que ele contou na formação de um mercado de consumo, com as desonerações tributárias que se fei para a criação de um frota flex-fuel.


A segunda é que o próprio Governo precisa avançar na sua participação no setor, através da Petrobras, tanto na produção quanto na distribuição. E, portanto, o crédito público disponível deve a ela ser preferencialmente dirigido.


Até porque quem segura o rojão, em matéria de combustíveis, é a Petrobras, que não reajustou seus preços na gasolina entregue na boca das refinarias, importou e ampliou o volume de refino do produto.


Apesar da lentidão com que a ANP vem tratando essa regulação, os contratos de fornecimento pré-estabelecido, a longo prazo, vão sair. É que a presidenta Dilma tem mandado avisar que, se não houver um acordo em que as usinas garantam o fornecimento de etanol, taxará a exportação de açúcar.


Aí a turma treme.


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