terça-feira, 19 de julho de 2011

O tempo se esvai e Dilma não vê




Dilma Rousseff deve a sua eleição a um slogan de campanha que fez todo o sentido para este povo. Dizia que deveríamos votar na candidata indicada por Lula “Para o Brasil seguir avançando”. Aos poucos, porém, o que vai parecendo é que há uma diferença abissal entre o que a maioria da sociedade entendeu e o rumo que este governo está tomando.


“Seguir avançando”, para a presidente parece ser uma coisa e para os diversos setores da sociedade que a elegeram parece ser outra. E mais: para cada um desses setores, esse bordão significa uma coisa diferente.


Acabar com a miséria no Brasil é um grande objetivo, mas não pode ser o único. Há avanços que alguns setores esperam e que não se resumem a ter dinheiro no bolso para consumir.


Há quem espere, por exemplo, que, ao fim do mandato da presidente Dilma, o país tenha uma educação apenas fraca em vez catastrófica. Há quem espere que tenhamos um serviço público de saúde que não trate a população pior do que gado de raça, que, aliás, freqüentemente é muito mais bem tratado do que os humanos.


E há, até, quem espere que, até 2014, tenhamos uma comunicação de massas que sirva ao país em vez de servir-se dele.


O governo Lula foi um sucesso estrondoso porque fez o país dar um salto. Hoje, enquanto o mundo rico afunda, o Brasil nada de braçadas. Isso em um país que este blogueiro, aos 51 anos de idade, só viu fora de crise de alguns poucos anos para cá. Um país em que a maioria deixou de ser pobre e se tornou remediada.


Pode parecer pouco, mas diante do país de 2002 é um salto gigantesco.


Mas que salto o Brasil dará, nos próximos anos? Continuaremos a ter uma legião de analfabetos mais populosa do que as populações da maioria dos países vizinhos? Meia dúzia de bilionários continuarão fazendo das concessões públicas de rádio e tevê um instrumento de defesa de uma elite minúscula que concentra parte indecente da renda nacional?


Não há promessas além da de acabar com a miséria. Não que seja pouco, mas no estágio a que o país chegou ao fim do governo Lula, é insuficiente. Não se está falando de um salto, propriamente. No máximo, será um passo mais largo. Isso se ocorrer.


É pouco.


As tensões já se manifestam inclusive entre os setores majoritários e diversificados da sociedade que apoiaram o governo Lula. A sensação que se tem é a de que o país é dirigido pelo piloto automático. Segue no rumo, mas não salta e não nos é feita a promessa de que irá saltar.

Não admira que dia sim, outro também a mídia martele a idéia de que Dilma recuou. Prestem atenção que todos irão notar que esse é o mote do discurso da direita que luta para retomar o poder com um só objetivo: impedir a distribuição de riquezas.


Dilma não quer marola, não quer contrariar a elite. Por isso, tenta se fingir de morta e deixar o país navegar no piloto automático no qual Lula programou o rumo. Acredita que chegará a 2014 com o país menos pobre, consumindo mais e que, assim, todos ficarão satisfeitos.


O ser humano não é assim. Tende a querer mais. Se o governo continuar nesse ritmo pouco ambicioso, a direita retomará o poder. O salto da era Lula já terá sido esquecido e os ganhos que propiciou já terão sido contabilizados. A cada dia que passa, o passado em que a direita governava ficará mais distante e o que já se conquistou será visto como “o mínimo”.


Falta ambição, a este governo. E falta coragem. Isso já está claro. Dilma cede, cede e cede. Nos seus primeiros seis meses de governo não fez outra coisa além de ceder às pressões da elite midiática conservadora.


Neste momento, estamos vendo uma nação milenar como a Inglaterra se reinventar. O escândalo na imprensa britânica fará o país dar um salto na comunicação que enterrará o poder de desmandos do maior instrumento das elites contemporâneas, a imprensa.


A Europa toda deve ver esse salto acontecer. E o que é pior – ou melhor, dependendo do ponto de vista: aqui mesmo, na América do Sul, boa parte dos países já está chegando ao patamar minimamente civilizado da comunicação que há no mundo rico. Argentina, Bolívia, Equador e Venezuela, pelo menos, já criaram regras de Primeiro Mundo para as suas mídias.


Um oitavo do governo Dilma passou e não se vislumbra que o país saia do piloto automático. Com essa mídia que temos, bastará algum problema na economia para a direita retomar o poder e inverter os avanços sociais e o processo redistributivo.


Promessas mentirosas de avanços em meio a um ritmo morno de governança terão sucesso onde o denuncismo sempre falhou. Quanto tempo irá demorar até a oposição reacionária e sua mídia acordarem e darem espaço a novas lideranças que tenham algum projeto verossímil – ainda que falso – de país para apresentar no lugar de denúncias que não colam mais?


O tempo se esvai e Dilma o gasta como se dispusesse de todo o de que precisa. Preciosos seis meses foram gastos com crises políticas artificiais que poderiam ser criadas em qualquer governo simplesmente porque qualquer governo sempre terá algum espertinho tentando se locupletar.



A presidente parece não ter a menor noção de tempo.


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