segunda-feira, 25 de julho de 2011

Mais de 1 milhão na Classe C



De 2003 a 2009, número de brasilienses a alcançarem o estrato foi de 189,6 mil. Com renda mensal de R$ 1,2 mil a R$ 5.174, essa parcela ganhou poder de compra que se assemelha ao das camadas A e B

O advento da nova classe média, nome dado ao grupo de brasileiros que despontou com grande potencial de consumo na esteira da prosperidade econômica do Brasil nos anos 2000, também deixou sua marca no Distrito Federal. De acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV), que analisou o fenômeno a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) e do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em um período de seis anos, 189,6 mil moradores do DF passaram a integrar a classe C, patamar de renda que engloba famílias cujos ganhos mensais ficam entre R$ 1,2 mil e R$ 5.174. Isso significa que 1,16 milhão dos habitantes de Brasília e regiões administrativas se enquadram nessa categoria.


O crescimento do poder de compra dessa parcela da população tem nuances no Distrito Federal que merecem destaque. O funcionalismo público é responsável por grande parte dos empregos locais e isso inclui trabalhadores da classe C. Por gozarem de estabilidade, esses consumidores têm acesso mais fácil ao crédito e, principalmente, a financiamentos de longo prazo. “O integrante da classe C brasiliense facilmente está se comprometendo com a compra de bens que são caros, como carros e apartamentos”, destaca o consultor de varejo Alexandre Ayres, da empresa Neocom.


São pessoas como o policial Leonidas de Almeida, 39 anos, que está distante apenas 12 prestações de quitar a casa própria em Taguatinga. A boa maré financeira e as condições facilitadas de pagamento permitiram à família de Leonidas adquirir não apenas o imóvel. “Nos últimos anos, compramos eletroeletrônicos e eletrodomésticos, mas agora chega. Não queremos fazer mais dívidas até terminar de pagar a casa”, diz. A prudência, no entanto, não impede o policial de fazer planos para o futuro: quando ficar livre dos compromissos atuais, ele quer trocar de carro.


Ascensão aguda


Na visão de Alexandre Ayres, casos como o de Leonidas ilustram o fato de que, no DF, a melhora na qualidade de vida proporcionada por transformações como aumento de emprego e renda no país deram margem ao desenvolvimento de uma classe C que possui afinidades com a classe média dos patamares A e B. “Brasília tem uma ascensão social muito aguda”, diz. O economista Marcelo Neri, da FGV, reforça que o Distrito Federal tem características peculiares. “Brasília não é uma cidade classe C, mas A ou B. Acompanhou o movimento nacional de ascensão da nova classe média, mas com menos força”, avalia.


Neri ressalta que, enquanto no DF o segmento C passou de 37,99% para 45,37% da população entre 2003 a 2009, no Brasil o salto foi de 37,56% para 50,44% no mesmo período. Estudos mais recentes dão conta de que, no país, a classe C já representa mais da metade da população.

Ainda que em menor escala, os impactos do aumento da representatividade da classe C são visíveis no Distrito Federal, principalmente nas áreas periféricas. O economista Júlio Miragaya, diretor de Gestão de Informações da Companhia de Desenvolvimento do Distrito Federal (Codeplan), diz que levantamentos relativos à Pdad feitos este ano revelaram profundas diferenças face aos dados de 2004, que até o fim de 2010 eram os mais recentes disponíveis.


“Até o momento, a Pdad só foi aplicada em 13 regiões administrativas. Mas indicadores indiretos nos permitem afirmar que esse estrato foi muito beneficiado pelas mudanças no panorama econômico do país”, afirma Miragaya. O economista cita como exemplos a forte presença do comércio nas RAs pesquisadas — em média, ele tem respondido por 30% dos empregos — e o fato de estar aumentando a quantidade de pessoas que trabalham no próprio local de residência, sem necessidade de procurar postos no Plano Piloto. “É sinal de que houve aquecimento da economia nessas regiões”, destaca.

Serviços


O consultor de varejo Alexandre Ayres chama a atenção para outro setor beneficiado pelo advento da nova classe média além do comércio: o de serviços. “Com a melhoria de renda, uma das primeiras coisas que as pessoas têm feito é colocar a saúde em dia. Portanto, têm recorrido mais a médicos particulares e planos de saúde. Os salões de beleza são outro filão que cresceu muito”, comenta.


Gravida há três meses, a representante comercial Elaine Cristina Palmeira, 30 anos, tornou-se usuária de um plano de saúde há pouco mais de 30 dias. “Antigamente eu pagava por fora quando tinha de ir a um médico, pois só tinha necessidade de vez em quando. Agora, por causa dos exames e do acompanhamento, ter esse recurso vale muito mais a pena. Eu e meu marido teremos que apertar um pouco o orçamento, mas damos conta”, diz.


Musa Cruvinel, 41 anos, é gerente de um estabelecimento em Taguatinga que aluga roupas de festa, atividade considerada prestação de serviços. Ela confirma que o movimento de clientes tem crescido nos últimos anos. “Alguns meses são mais fortes que outros no nosso ramo, mas de maneira geral as pessoas estão gastando mais”, afirma. Para Musa, o cuidado ao escolher detalhes e acessórios aponta que a qualidade passou a ser mais valorizada pelos clientes. “Apesar de querer levar um produto de preço acessível, as pessoas procuram o que é bom”, explica.


Nos últimos anos, a comerciante Alvina de Souza, 47 anos, fez conquistas importantes. A casa recebeu novos móveis, as roupas e os sapatos passaram a ser adquiridos com maior frequência. Além das compras, Alvina vai mais ao salão de beleza. “Minha qualidade de vida melhorou 80%”, diz, orgulhosa. Após tantas transformações, a rotina da família também mudou. “Estamos comendo mais fora de casa e compramos um carro zero. Apesar de ser financiado, já pagamos nove meses. É o terceiro na garagem.”, conta.


Correio Braziliense

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