sexta-feira, 15 de julho de 2011

Lula: “Propaganda das estatais na TV é democrático. Para vocês, é chapa-branca”



GOIÂNIA – Ao participar nesta quinta-feira do 52.º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Goiânia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu a crítica de que a entidade mantém uma postura ‘chapa-branca’, isto é, favorável ao governo federal. Lula não só saiu em defesa da UNE, como também partiu para o ataque contra a imprensa. Ao iniciar seu discurso, Lula disse que estava com “saudades do microfone” e repetiu por diversas vezes o bordão “nunca antes na história deste país”, que marcou sua gestão. O ex-presidente registrou a ausência de duas pessoas: de seu vice José Alencar, morto em março, e da presidente Dilma Rousseff.


Citando matéria públicada na última quarta-feira sobre o fato de o congresso da UNE ser patrocinado por estatais, Lula criticou a cobertura do evento pela imprensa nacional. Ele também criticou a interpretação dos jornais que fazem comparações entre o seu estilo de governar e o da presidente Dilma Rousseff.


Ele reclamou das matérias sobre sua ida a Brasília para reunir-se com políticos e ajudar o governo Dilma, criticando o tom que, segundo ele, buscaria passar a imagem de que a presidente é fraca.


- Só diz que ela é fraca quem não conhece a personalidade dela. Se o babaca que escreveu isso já tivesse sentado com a Dilma dez minutos ele ia saber que ela pode ter todos os defeitos do mundo, menos ser fraca. Ninguém passa três anos e meio na cadeia, barbaramente torturada, e é eleita presidente da República. Essa é a maior vingança com quem a torturou.


O ex-presidente também declarou:


- Eu estou ficando invocado, porque já faz seis meses que eu deixei a Presidência, mas eles não saem do meu pé.
Antes, ao se dirigir ao presidente da UNE, Augusto Chagas, Lula afirmou, de novo sem citar nomes, que não seria uma publicação de cobertura nacional.
- E você, Chagas, não tenha preocupação com quem diz que vocês são chapa branca – afirmou. – Você pensa que (o jornal) tem caráter nacional. Não sai do Rio de Janeiro. Vai na Baixada Fluminense e vê quantos jornais chegam lá.
Lula fez o mesmo raciocínio em relação à imprensa paulista, dizendo que em São Paulo também haveria jornais que “se acham nacionais”:
- Os grandes de São Paulo quase não chegam ao ABC, que está a 23 quilômetros da capital.
O ex-presidente argumentou que é comum as empresas estatais, assim como o próprio governo, investirem em publicidade:
- Você liga a televisão e vê propaganda de quem? Quem é a propaganda do futebol brasileiro? Quem é a propaganda das novelas? Para eles, é democrático. Para vocês, é chapa-branca.
O ex-presidente respondeu também a quem o critica por falar demais no tempo em que era presidente:
- Ao eu falar, eu competia com o que eles falavam. E o povo acreditou mais em mim. E eles tiveram que saber que eu saí com 87% (de aprovação) – discursou Lula. – O dado concreto é que eles não perceberam que as coisas estão mudando no Brasil. O povo não quer mais intermediário entre eles e a informação. O povo está se informando de muitas formas. Muitas formas. E não apenas naqueles que habitualmente achavam que formavam.
O ex-presidente rebateu também as críticas de que teria deixado uma herança maldita a Dilma. Após enumerar diversas realizações de seu período, entre elas a criação do ProUni, Lula arrematou:
- Quem sabe a herança maldita que a Dilma e eu deixamos, porque a Dilma também deixou, porque ela ajudou a fazer, sejam cerca de 15 milhões de empregos e carteiras assinadas.
Lula voltou a dizer que Dilma enfrentou preconceito por ser mulher, durante a campanha eleitoral, e citou o incidente em que o então candidato do PSDB, José Serra, foi atingido na cabeça por um objeto. Segundo Lula, foi um “meteorito de papel” que, após análise de outras imagens, teria passado a ser chamado de “objeto não-identificável”.
- Se eu fosse a imprensa, eu ia atrás da tomografia que tiraram da cabeça dele – afirmou Lula, referindo-se a Serra.
Embora tenha rejeitado a pecha de chapa-branca para a UNE, Lula agradeceu à entidade e cobrou mais empenho em suas reivindicações
- Sou grato à UNE pela lealdade na adversidade. Este governo nunca pediu para a UNE abdicar uma única bandeira.


Lula esteve no congresso da UNE para participar de encontro de bolsistas do ProUni.


Haddad rebate crítica de que UNE é ‘chapa-branca’


Assim como já havia feito Lula, o ministro da Educação, Fernando Haddad, também rebateu a crítica de que a UNE seria uma entidade ‘chapa-branca’ em relação ao governo federal. Ele começou o discurso no congresso da entidade realizado em Goiânia dizendo que gostaria de fazer um desagravo à UNE.
- Algumas pessoas imaginam que é possível comprar a consciência do movimento estudantil com alguns trocados. Um dinheirinho para organizar um congresso bastaria para pacificar todas as contradições existentes na sociedade brasileira que provenham da educação – disse Haddad, completando:
- Estudante não se vende por dinheiro nenhum, muito menos por migalha.


Ex-presidente sugere que Dilma terá outro mandato


Entre elogios à presidente Dilma Rousseff, Lula sugeriu a possibilidade de reeleição de sua sucessora. Ele numerou obras que Dilma deve entregar até o fim de seu “primeiro mandato”. Entre as obras citadas pelo ex-presidente, estão 6 mil creches e 200 escolas técnicas.
Lula destacou as ações de sua sucessora e disse que a eleição de uma mulher à Presidência foi uma das “maiores conquistas” da história brasileira. “Dilma vai fazer mais e melhor do que fizemos”, declarou o ex-presidente.
Em tom de brincadeira, Lula disse que ele é a “evolução de seu próprio governo”, pouco depois de ter usado a palavra “factível” em seu discurso.
- Antes eu falava menas laranja, agora falo ‘en passant’, factível – disse. O ex-presidente foi bem recebido pela plateia da UNE e terminou sua fala com o coro de “olê, olê, olá, Lula, Lula.


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