Mutirão de limpeza no primeiro dia de governo é medida recorrente pelo Brasil afora. Mutirão é meio-irmão de campanha, e campanha é algo concebido para ter começo, meio e fim. E um município não pode ser governado em ritmo de campanha. Por exemplo, no caso do lixo que, em Belém assume proporções de tragédia universal, e Santarém que, nesse aspecto, segue o exemplo da capital.
No centro de Belém, na área do Ver-o-Peso, considerado a maior feira livre da América Latina, essa cena é diária. Os urubus convivem no lugar onde grande parte da população compra os seus alimentos. Se no centro da cidade é assim, fácil imaginar como são as chamadas periferias desta cidade periférica
Em Belém, Zenaldo Coutinho (PSDB) vestiu roupa de gari no primeiro dia de seu reinado e foi às baixadas “comandar” o mutirão de limpeza da cidade. O espírito da coisa é a “parceria” com o povo e o governo do Estado. Depois irá a Brasília com o chapéu na mão. Parceria supõe participação de vários atores. Há quem acredite nisso em se tratando de um prefeito de personalidade centralizadora e historicamente distanciado do povo?
Em Santarém, Alexandre Von, do mesmo partido, não cansa de
repetir o mantra do “planejamento estratégico”, palavras que já deve ter
pronunciado pelo menos um milhão de vezes nos últimos 20 anos. Termos
redundantes, até porque todo planejamento supõe uma estratégia, enquanto
conjunto de ações que objetivam um fim. Só que planejamento apenas existe
enquanto obra coletiva e, pelo que se percebe, o ator principal não faz parte
da rodada, que é o povo, objetivo final de todo governo. Planejamento de
gabinete, reunião de secretários, burocratas que tudo sabem e nada de
substancial resolvem, porque o “planejamento estratégico” de Von não visa à
estrutura da sociedade, apenas à pirotecnia administrativa da mesma forma como
seu correligionário da capital.
Há palavras que perderam o sentido e tucanos e outros
animais não perceberam. Entre essas palavras podemos enumerar diversas, como
transparência e participação (lembram do planejamento e do orçamento
participativos do ex-prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues e outros “luminares”
da “esquerda”?). Em sã consciência não há quem ofereça dez reis de mel coado de
credibilidade a um discurso de posse. Mas há satisfação, claro, da nova corte
que se entroniza.
Viaduto e BRT
Igualmente como (quase) ninguém crê que, daqui a quatro anos,
Belém, Santarém e muitos outros municípios estarão diferentes do que estão
hoje. É quase certo que estarão piores, pois não se ouve prefeito, antigo ou
recente, tocar nas questões fundamentais de suas cidades e municípios: a imensa
desigualdade social, as decisões são tomadas em gabinetes fechados, ausência
absoluta de consulta ao povo por meio de suas organizações, emprego de recursos
escassos em obras malucas como é o viaduto do cruzamento da BR-163 com a
Avenida Cuiabá, em Santarém, um viaduto estruturalmente falho e perigoso; assim
como o BRT de Belém, obra necessária, porém iniciada pela mais desabrida
irresponsabilidade do ex-prefeito Dudu Costa.
E assim o dinheiro público escapa e nada ou muito pouco
aproveita para a solução de questões essenciais. Isso porque os prefeitos e
demais governantes se sentem reis, senhores do poder e do saber, capazes de,
com a assessoria de técnicos iluminados não se sabe por qual luz, tomarem
decisões à revelia das necessidades púbicas.
Mutirão de limpeza no
primeiro dia de governo é medida recorrente pelo Brasil afora. Mutirão é
meio-irmão de campanha, e campanha é algo concebido para ter começo, meio e
fim. E um município não pode ser governado em ritmo de campanha. Por exemplo,
no caso do lixo que, em Belém assume proporções as mais escandalosas, e
Santarém, que, nesse aspecto, segue o exemplo da capital.
Imagino que, dentro de um efetivo planejamento, nestas duas
e tantas outras cidades, uma medida inovadora poderia ser uma ação conjunta
entre prefeituras e a população por meio de suas organizações populares, no sentido
de limpar efetivamente ruas, praças, favelas. Mas que fosse dentro de uma
proposta de chamamento da população para efetivamente participar da gestão
pública.
Somos lixo?
A limpeza geral, com viés educativo para governantes e
governados, proporcionaria no médio prazo a auto-estima indispensável a
qualquer povo que deseja progredir e sentir-se bem na sua cidade, no seu
bairro. Da forma como se executam esses mutirões, o lixo voltará para onde
sempre esteve, as ruas e as calçadas, alimentando um ambiente de desídia, de
descompromisso geral e de eterna acusação à prefeitura, como se cada cidadão
tivesse o direito de despejar lixo em qualquer lugar e a prefeitura tivesse o
dever de juntá-lo onde quer que o monturo esteja.
Sem a presença do cidadão nas decisões, seja sobre a limpeza
pública, seja sobre a administração como um todo, o lixo espalhado nas ruas
continuará como o signo do nosso fracasso e da nossa incapacidade de
construirmos uma sociedade civilizada. Em Belém e em Santarém o lixo se acumula
por toda parte. Em Belém se torna mais visível por causa dos córregos entupidos
das baixadas. Uma tragédia! E quando nos habituamos ao lixo assim disseminado,
nós, humanos, passamos a fazer parte dele também. Nos tornamos também lixo,
pois interagimos com o nosso ambiente, somos parte dele.
http://blogmanueldutra.blogspot.com.br/2013/01/novos-prefeitos-no-para-tucanos-tentam.html
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