quinta-feira, 14 de julho de 2011

O governo Dilma faz seis meses

As pessoas tendem a olhar Dilma e o governo da mesma maneira que percebem as vicissitudes de sua vida concreta. Mudanças, desafios, errar e acertar são parte das experiências reais pelas quais as pessoas passam, no trabalho, na escola, no cotidiano.
O governo chega aos seis meses com uma imagem muito boa, apesar de que nem todos (como é natural) fiquem felizes com isso.
Existem diversas pesquisas publicadas sobre como é percebido pela sociedade. Vários resultados são relevantes, mas um é fundamental: a vasta maioria dos entrevistados diz estar satisfeita com seu trabalho.

Dilma tem um nível de aprovação popular superior a qualquer outro presidente em momento semelhante. Nenhum chegou ao fim de seu primeiro semestre com números iguais. Nem Lula, que só foi além mais tarde, no segundo ano de seu segundo mandato.
Não é apenas isso que as pesquisas mostram. Quando, em pesquisas qualitativas, se aprofundam as perguntas de avaliação de seu comportamento, o que se vê é uma ampla tolerância em relação ao que as pessoas entendem como um período de adaptação e aprendizagem.
Para aqueles que votaram nela, a informação de que ela não tinha experiência política anterior não era fundamental e, provavelmente, sequer relevante. Tanto que não hesitaram em preferi-la a quem se apresentava como mais qualificado e que possuía, segundo qualquer critério objetivo, mais credenciais no currículo.
As 47 milhões de pessoas que votaram em Dilma no primeiro turno a escolheram sabendo o que faziam. Não foram iludidas a vê-la como o que não era. Sua campanha não inventou uma biografia.
Para os outros 8 milhões que votaram em Dilma apenas no segundo turno, ela não era a primeira preferência, mas, quando se decidiram por ela, não foi por compará-la favoravelmente a Serra no passado de gestora. Foram outras coisas que levaram em conta.
Seus 55 milhões de eleitores em 31 de outubro estavam conscientes de que ela iria aprender a ser presidente exercendo a função. De que precisaria de tempo para se desempenhar com máxima eficiência. De que, por isso mesmo, apoiaria-se na equipe e nos projetos do governo anterior. De que, enquanto estivesse "se acostumando" com suas funções, precisaria da colaboração de Lula.
Muitos dos que não votaram nela pensam de forma parecida, pelo que mostram as pesquisas atuais. É claro que não são poucos os que não comungam com essas ideias, mas são minoria. Se não, como estaria ela batendo recordes de popularidade?
O que acontece é que, independentemente do voto, as pessoas tendem a olhar Dilma e o governo da mesma maneira que percebem as vicissitudes de sua vida concreta. Mudanças, desafios, treino, aprendizagem, errar e acertar, ficar à vontade em uma nova atividade, são parte das experiências reais pelas quais as pessoas passam, no trabalho, na escola, no cotidiano. É com base nelas, ou seja, na sua própria vida, que pensam o governo.
Ao contrário do que acreditam alguns, as pessoas comuns não imaginam que quem ocupa a Presidência da República é um ser superior, alguém fundamentalmente diferente do que são. Nem esperam, nem cobram que seja capaz de proezas intelectuais ou gestos heroicos.
Há, nisso, algo muito positivo: a dessacralização da função pública, a humanização do governante. E, para um país com nossas tradições hierárquicas, uma benvinda transformação. Não faz muito tempo, pensávamos diferente. No centro do sistema político, tínhamos que ter um sol. A Presidência era lugar para super-homens (ou super-mulheres).
Foi aprendendo com decepções que chegamos aqui. A frustração com os que tinham experiência política para dar e (especialmente) vender, a desmoralização do salvadorismo, o fracasso da genialidade, abriram o caminho para Lula. Que continuava, no entanto, a ser extraordinário, pelo caráter único de sua trajetória. É com Dilma que o processo se completa.
As pessoas aprovam seu trabalho reconhecendo que está no início. Que avança na direção combinada. Que vai, aos poucos, fazendo um governo dela.
Só quem insiste no velho modelo se sente no direito de querer mais (ou finge querer, para poder externar sua antipatia).Por Marcos Coimbra-sociólogo e presidente do instituto Vox Populi


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