sexta-feira, 8 de julho de 2011

“Posso fazer a maldade mais impensável em 2014”



É Ricardo Teixeira, da CBF, à revista Piauí, sobre como agirá durante a Copa no Brasil; ele irá controlar credenciais para jogos, estabelecer horários de partidas e dar a palavra final em decisões estratégicas; “Caguei”, disse ele a respeito das críticas que recebe; "Caguei montão"
07 de Julho de 2011 às 20:29

247 _ A jornalista Daniela Pinheiro capturou, em viagem à Suiça, a alma do presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Escalada pela revista Piauí para traçar um perfil do homem mais poderoso do futebol brasileiro, Daniela fez as perguntas certas, nas horas certas e publicou, em oito páginas da revista que chegou hoje às bancas, um retrato pronto e acabado do seu personagem. Dele emerge um Ricarto Teixeira agressivo, autoritário, farrista e, em muitos momentos, grosseiro e irresponsável.

“Não ligo. Aliás, caguei. Caguei montão”, diz Teixeira sobre as acusações de que pratica corrupção à frente da CBF e pelo mundo, denunciado pelo ex-presidente da Federação Inglesa de Futebol, David Triesman, de ter pedido suborno para votar a favor da Inglaterra como sede da Copa de 2018. Teixeira se defende dizendo que os ingleses o acusam por frustração, a de terem perdido a indicação para a Rússia. “Pedir suborno em tribuna, na frente de todo mundo”, disse Teixeira, negando a versão de Triesman. “Faz favor, né?”.


O presidente da CBF se refere diretamente ao jornalista da BBC britânica, Andrew Jennings, que na terça-feira 5 concedeu entrevista exclusiva a Claudio Julio Tognolli, de Brasil 247. À Tognolli, Jennings disse que Teixeira e seu ex-sogro João Havelange (ex-presidente da Fifa) pagaram o equivalente a R$ 10 milhões para não serem processados, na Suiça, por corrupção. “Ah é? Devolvi dinheiro? Então, cadê? Por que ninguém mostra?”. E Daniela, em seu texto, explica: ‘porque, segundo a BBC, o processo foi encerrado com um acordo extrajudicial que garante o anonimato dos acusados”.


A um momento da conversa com a repórter, de avião de ida ao avião de volta, continuando por hotéis de luxo e pelas ruas de Zurique, Teixeira atende ao assessor de imprensa Rodrigo Paiva, que ligava do Rio. Deve ter escutado as preocupações do assessor sobre o cerco que vai se formando, no Brasil, por mais transparência nos obscuros negócios da CBF. E o presidente se sai com essa:


- Que porra as pessoas têm a ver com as contas da CBF? Isso tudo é uma entidade pri-va-da. Não tem dinheiro público, não tem isenção fiscal? Por que merda todo mundo enche o saco?”
Quanta elegância e simpatia, ein?


Para a mídia, Teixeira destinou torpedos do mesmo quilate. Diz ele que seus críticos fazem parte da “mesma patota” e elenca os veículos que não gosta. “Só vou ficar preocupado no dia em que sair no Jornal Nacional”, admite, a respeito do veículo que, se noticiar seus mandos e desmandos com mais crítica, poderá trazer-lhe problemas.


À Folha de S. Paulo, que dias atrás noticiou a absolvição de Teixeira num rumoroso processo em que era acusado de contrabando e sonegação fiscal, durante a volta ao Brasil da delegação campeã mundial nos Estados Unidos, em 1994, ele usa uma expressão que pode render-lhe um processo:


- São uns filhos da puta, nem colocaram que não tinha a coisa do meu bar.


Mais tarde, ele dá seu conceito sobre a mídia nacional em geral:


- A imprensa brasileira é muito vagabunda.


A reportagem mostra que Teixeira, é sim, o candidato de seu ex-genro João Havelange à presidência da Fifa, em 2015. “Faz uma Copa de Mundo de qualidade, trata todo mundo de maravilha, vão votar em você por agradecimento”, disse Havelange à repórter Daniela Pinheiro, reproduzindo seu conselho a Teixeira.


O plano, assim, está pronto. O presidente da CBF se sente firme e forte em seu cargo, alheio às críticas e agressivo em relação aos adversários.


- Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por que? Por que eu saio em 2015. E aí, acabou”.


Ou não. Deve continuar, nos planos dele, na Fifa. Afinal, como seu viu, Teixeira está articuladíssimo para, à primeira oportunidade eleitoral, reproduzir seu estilo e seus métodos na entidade máxima do futebol mundial.


SERVIÇO
O PRESIDENTE, de Daniela Pinheiro
Revista Piauí
Editora Alvinegra
Edição 58 – Julho


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