O “espetáculo” de autoritarismo, mitomania e cinismo dado pelo
coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra durante seu
depoimento à Comissão Nacional da Verdade nesta sexta-feira (10) foi
apenas prévia de uma situação que se espera que tenha sido prevista
quando foi pensada a missão de contar ao Brasil e ao mundo o que ocorreu
neste país durante a ditadura militar (1964-1985).
Para quem não sabe, Brilhante Ustra, um dos mais violentos
torturadores do regime de exceção que se abateu sobre este país durante
mais de duas décadas, protagonizou um bate-boca com os membros da
Comissão.
O ex-chefe do DOI-Codi de São Paulo entre1970 e 1974 (período que é
considerado o mais macabro daquele regime de viés absolutamente nazista)
afirmou que a presidente Dilma Rousseff “Militou em organizações
terroristas”, que “Nunca houve assassinatos” praticados pelo regime, que
as organizações de esquerda que resistiram à ditadura “Tinham como
objetivo implantar a ditadura do proletariado” e “O comunismo”.
Brilhante Ustra, apesar de habeas-corpus concedido pela Justiça
Federal que lhe garantiu o “direito” de ficar calado, respondeu algumas
perguntas por opção. Todavia, fê-lo aos gritos e batendo na mesa. Além
disso, fez-se acompanhar de dois outros militares da reserva que
juntaram-se a ele quando, fora de si, insultou membros da Comissão e a
própria presidente da República.
Apesar de estarem surgindo provas testemunhais e materiais dos
horrores praticados no Brasil durante aquele período macabro de nossa
história e apesar de o país ter sido advertido pela Comissão
Interamericana de Direitos Humanos e até pela ONU por não punir os
criminosos da ditadura, a Comissão da Verdade não dará em nada se não
houver coragem para enfrentar pessoas que um dia tiveram poder de fazer o
que Brilhante Ustra tenta (abafar o caso) e que se acredita que não
tenham mais.
O STF – Corte que tem um ministro que julga que aquele horror todo
foi um “mal necessário” – já deu sua proteção aos Brilhantes Ustras que
caminham por aí livres e afrontando as vítimas de suas sessões de
tortura como, por exemplo, o vereador de São Paulo Gilberto Natalini
(PV), quem, pouco antes do piti de Ustra, disse que foi torturado com
requintes de crueldade por ele e que depois foi insultado por seu algoz
pretérito.
Note-se que os “jeitinhos” na Justiça – tais como o habeas-corpus que
garantiu a Brilhante Ustra meio de ir depor na Comissão da Verdade sem
responder a questões que deveriam ser respondidas caso fosse realmente
inocente – e uma ajudinha da mídia que ajudou a implantar e a sustentar a
ditadura se tornarão cada vez mais explícitos conforme for chegando a
hora de a onça beber água.
Essa tal hora de a onça beber água será quando os trabalhos da
Comissão da Verdade começarem a ser expostos à sociedade, porque
Brilhante Ustra e outros como ele terão que encarar suas famílias e
amigos após as revelações macabras que virão. Além disso, a Comissão
deverá expor a atuação criminosa das famílias midiáticas Marinho, Frias e
Mesquita, entre outras.
Quando estiverem chegando ao fim os trabalhos da Comissão – o que
deve ocorrer no primeiro semestre do ano que vem –, que ela e a própria
presidente Dilma não tenham dúvidas: todos os que colaboraram com a
ditadura sairão de suas tocas para opor suas mentiras à verdade que se
quer apurar e expor ao Brasil e ao mundo.
Além de decisões judiciais, matérias na grande mídia, acusações à
presidente da República e sabe-se lá mais o que, haverá que ver até que
ponto as Forças Armadas “permitirão” que o que fizeram àquela época seja
contado pela Comissão da Verdade ao Brasil e ao mundo. E note-se que
nem se está pedindo, ainda, as exigíveis punições a gente como Brilhante
Ustra…
http://www.blogdacidadania.com.br/2013/05/comissao-da-verdade-vai-ter-que-enfrentar-assassinos-da-ditadura/
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